Saiba como é o tratamento pelo SUS do câncer que afeta Preta Gil

A saúde da cantora Preta Gil, que enfrenta um câncer de intestino diagnosticado no início de 2023, traz à tona os desafios enfrentados por milhares de brasileiros que também lutam contra a doença. Por suspeita de uma nova infecção, a artista está internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e planeja seguir com o tratamento nos Estados Unidos. Já os pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) enfrentam lacunas que vão do diagnóstico à chance de cura da doença.

No caso do câncer de intestino, o diagnóstico da doença acontece a partir do surgimento de sintomas como alteração do hábito intestinal (diarreia ou constipação), dor abdominal, massa palpável, anemia ou sangramento anal, explica o oncologista clínico especializado em tumores gastrointestinais, Victor Hugo Fonseca de Jesus.

— O exame de eleição para o diagnóstico com câncer de intestino é a colonoscopia. É um exame invasivo, porém de baixo risco que tem uma excelente capacidade de detectar o câncer de intestino. No entanto, ainda temos grandes dificuldades para que os pacientes na rede pública tenham acesso a este exame e é algo que devemos como sociedade nos esforçar mais para resolver — aponta o oncologista.

Ele detalha que em pacientes com câncer de intestino tratados no Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), em Florianópolis, entre 2015 e 2021, cerca da metade tiveram o diagnóstico já em uma cirurgia de emergência, sem ter conseguido realizar a colonoscopia.

Arthur Gentili, patologista e diretor clínico do CEPON, explica que na colonoscopia é possível visualizar a lesão e colher uma biópsia, material que será analisado no laboratório de patologia, onde será confirmado se é câncer, o tipo e grau de agressividade.

— Hoje, o papel do patologista vai além do diagnóstico: ajudamos também a orientar o tratamento mais adequado para cada paciente — afirma.

O diagnóstico de Preta Gil

Preta Gil recebeu o diagnóstico de um câncer no intestino em janeiro de 2023 e passou pelo tratamento quimioterápico. Em agosto daquele ano, ela passou por uma cirurgia e, em dezembro, comemorou o fim desta etapa.

No entanto, em agosto de 2024, a cantora voltou a receber o diagnóstico da doença, e recomeçou o tratamento. Em exames de monitoramento, ela foi diagnosticada com dois tumores nos linfonodos, estruturas que atuam na remoção de impurezas e na defesa do organismo; um nódulo no ureter, tubos que transportam a urina dos rins para a bexiga; e metástase no peritônio, câncer espalhado pela membrana que protege os órgãos abdominais.

Assim, foi preciso reiniciar o tratamento, que foi interrompido em novembro para ela passar por umacirurgia de urgência, para substituir um cateter usado para drenar a urina do rim para a bexiga. Ela foi diagnosticada com cálculos renais após sentir dores na região dos rins.

O tratamento não surtiu o efeito esperado e uma nova cirurgia para a retirada dos tumores foi recomendada. O procedimento cirúrgico durou 21 horas e Preta ficou quase dois meses internada.

Como funciona o tratamento para o câncer de intestino

O médico oncologista Victor Hugo Fonseca explica que o tratamento depende de até onde a doença se disseminou. Em estágios iniciais (estágio clínico I), com comprometimento da parede mais interna do intestino e sem o acometimento de gânglios (linfonodos), somente a cirurgia é eficiente em mais de 90% dos casos.

— Quando o comprometimento é mais externo e os gânglios não estão acometidos (estágio clínico II), cirurgia seguida ou não de quimioterapia a depender de fatores de risco da biópsia, a cirurgia é considerada o tratamento padrão — complementa.

Já nos casos em que os gânglios estão acometidos (estágio clínico III), a recomendação é de cirurgia seguida de quimioterapia. Já no estágio clínico IV, quando há metástases, o tratamento padrão é a quimioterapia. Porém, ainda que ocorra metástases, há uma possibilidade de cura através de remoção por cirurgia, explica o oncologista.

O patologista Arthur Gentili detalha que em alguns casos, além da análise da biópsia após a colonoscopia são feitos testes chamados imuno-histoquímica, que identificam proteínas específicas no tumor. Esses exames auxiliam a definir tratamentos específicos para aquele tumor.

— Um exemplo são as proteínas do reparo do DNA (MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2), que ajudam a detectar casos hereditários ou indicar se o paciente pode se beneficiar de imunoterapia. Outro exemplo é o HER2, que, quando presente, permite o uso de terapias-alvo — detalha Arthur.

O SUS tem disponível múltiplas linhas de quimioterapia, afirma Victor Hugo, porém não conta com a possibilidade de utilizar as terapias-alvo, disponíveis no sistema privado.

— Especificamente no SUS, múltiplas linhas de quimioterapia estão disponíveis. No entanto o emprego de terapias-alvo, ou seja, aquelas que exploram vulnerabilidades do tumor baseadas em suas alterações genéticas ou de proteínas, não estão disponíveis. O maior exemplo disso é a imunoterapia, extremamente eficaz em um pequeno grupo de tumores de intestino com uma alteração chamada instabilidade microssatélite, ainda longe da nossa realidade do SUS — explica.

Chances de cura e perfil de pacientes

De acordo com o oncologista clínico especialista em tumores gastrointestinais, o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, o que reforça a importância da realização de exames de rastreamento para câncer de intestino.

— Quando a doença é inicial, sem acometimento de gânglios, mais de 80% dos pacientes serão curados com cirurgia, com ou sem quimioterapia. Com acometimento de gânglios, 50-70% dos pacientes ficaram curados. Infelizmente, quando há metástases as chances caem, mas cura ainda é possível para um subgrupo de pacientes que consegue fazer quimioterapia e remover as metástases cirurgicamente —afirma Victor Hugo.

O câncer de intestino costuma acontecer em pacientes entre 60 e 70 anos, segundo o médico, com maior incidência entre os homens. Porém, há registros de um aumento de casos na faixa etária abaixo dos 50 anos. Dessa forma, entidades médicas baixaram a idade recomendada para início de rastreamento de câncer de intestino de 50 para 45 anos.

Casos de câncer de intestino em Santa Catarina

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC), o Estado registrou 2.779 casos de câncer de intestino em 2024. O levantamento leva em consideração as neoplasias malignas do intestino delgado, cólon, junção retossigmóide, reto, ânus e do canal anal, e do trato intestinal, em parte não especificada.

Confira casos de câncer de intestino por região em SC

Do total de casos registrados no ano passado, 1.384 foram de pacientes do sexo masculino e 1.395 de pacientes do sexo feminino, de acordo com o levantamento. Os casos se concentraram no público de 65 a 69 anos, com 435 pacientes, seguido de 60 a 64 anos, com 418 pacientes, e 55 a 59 anos, com 397 pacientes.

No último ano, foram registradas 1.208 mortes em decorrência do câncer de intestino em Santa Catarina. De acordo com os dados da SES/SC, foram 666 mortes de pacientes masculinos e 542 de mulheres. As mortes se concentram na faixa etária de 70 a 79 anos, e foram mais recorrentes na Grande Florianópolis, na região Nordeste do Estado e no Médio Vale do Itajaí.

O número de casos de câncer de intestino cresceu de forma gradativa nos últimos anos, indo de 1.863 em 2020 para 2.779 casos em 2024. Contudo, o número de óbitos pela doença não avançou de forma tão acelerada, ainda que tenha aumentado no mesmo período. Em 2020, 959 perderam a vida por conta de neoplasias de intestino em Santa Catarina. Já em 2024, foram 1.208 mortes.

Fonte: NSC Total

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