O câncer nas periferias

Não obstante a legislação em vigor no país prever o tratamento em relação ao câncer de forma universal e não onerosa, a realidade é que o Sistema Único de Saúde (SUS) está ainda distante de garantir a eficiência necessária, tanto por insuficiência de recursos orçamentários como por falta de pessoal, de tecnologia e de equipamentos. Isso faz com que o lapso temporal estabelecido em lei para iniciar a terapêutica não seja cumprido, agravando ainda mais a situação do paciente.

Esse quadro adverso retratado acima pode ser ainda mais preocupante em se tratando de moradores das áreas periféricas das grandes cidades, principalmente o conjunto de favelas. De acordo com um levantamento realizado pelo DataFavela e pelo Instituto Oncoguia, por meio da pesquisa “Percepções e prioridades do câncer nas favelas brasileiras”, as maiores dificuldades dos residentes em favelas de todo o país para o diagnóstico e o tratamento do câncer consistem na demora em realizar agendamentos de exames (82%) e no acesso a instituições de saúde (69%). Os dados mostram ainda que, diante dessas dificuldades que a eles parecem intransponíveis, boa parcela dos potenciais acometidos pela enfermidade simplesmente abandona a prevenção e prefere nem saber se está ou não adoentada, o que equivale a uma desconfiança nada edificante perante as instituições de saúde.

Como se pode ver, o problema não é de pouca monta. Além da estrutura deficiente para acolher a demanda, há que se considerar que aqueles que moram nessas comunidades enfrentam dificuldades cotidianas que, por vezes, se mostram ampliadas, como recursos para deslocamentos e até mesmo para alimentação, além de não poderem exercer seus ofícios durante o tempo em que procuram ajuda. Tudo isso mostra que é preciso que o poder público vá além de oferecer os procedimentos, mas que reserve verbas também para dar um suporte para esse contingente vulnerável. A solidariedade não precisa ser só no momento do câncer, mas nessa hora ela é fundamental.

Fonte: Correio do Povo