Câncer de endométrio: bactérias poderão levar a um teste de farmácia

Por mais que alguém se cuide e realize exames de rotina para rastrear um câncer bem no início, o útero pode ser um órgão dos mais traiçoeiros para algumas mulheres, especialmente aquelas que têm obesidade, passaram dos 60 anos ou as duas coisas.
Daí, preste atenção, a importância de uma linha de pesquisa com bactérias que colonizam a vulva, a vagina e o próprio útero. Quem sabe essa população numerosa, mas invisível, possa fornecer pistas úteis para evitar uma má surpresa quando já for tarde demais.
De fato, é possível flagrar células malignas em um útero, com aquele seu formato característico de uma pera de cabeça para baixo, se elas surgem na região próxima à do "cabinho" — aliás, o câncer localizado aí, no tal do colo uterino, pode acometer até jovens. E, no caso, um simples Papanicolaou na visita anual ao ginecologista evita o diagnóstico tardio nas pacientes que não tiveram a oportunidade de tomar a vacina contra o HPV na adolescência. O papilomavírus humano, afinal, é o que está por trás do câncer nesse pedaço.
No entanto, na área mais dilatada da "polpa da fruta", a do corpo uterino, a história é outra. Isso porque ainda não há nada que possa denunciar cedo o 6.º tumor mais comum nas mulheres de todo o mundo, que é o câncer de endométrio.
Todos ano, há mais de 400 mil pacientes ao redor do globo — duas em cada 10 são mulheres de seus 40 ou 50 anos e o restante pertence a faixas etárias mais velhas. Geralmente, elas notam com espanto sangramentos vaginais quando já estão na menopausa ou sentem uma dorzinha pélvica esquisita. No Brasil, diga-se, aguardam-se perto de 7 mil novos diagnósticos desse tumor ao longo deste ano, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Agora, imagine se as mulheres pudessem, na intimidade de suas casas e com a ajuda de um swab, aquele cotonete gigante, coletar um pouco de secreção da vagina para um teste simples, capaz de acusar o câncer de endométrio. É essa possibilidade que a bióloga Marina Walther-Antonio e seus colegas do Centro de Medicina Personalizada da Mayo Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos, andam investigando. Eles descobriram que um conjunto de 17 bactérias forma uma espécie de assinatura microbiana desse mal tão ardiloso.
O começo de tudo
"Na verdade, quando pensamos em um teste de rastreamento, para torná-lo ainda mais simples e acessível, focamos em uma única dessas 17 bactérias, a Porphyromonas somerae. Isso porque, sozinha, ela parece valer por todas", adianta a doutora Marina, em bom português e com um sorriso que não sai de sua boca, escancarando a paixão pela pesquisa.
Nascida em Lisboa, no final de sua formação na Universidade de Aveiro, cidade litorânea mais ao norte da capital, ela se mudou para os Estados Unidos, onde já mora há duas décadas. "Na época, eu estava muito interessada em astrobiologia, área que se dedica à procura de vida em outros planetas. Então, soube de um estágio na NASA, a agência espacial americana. Eu me inscrevi e passei", recorda-se.
Foi nesse campo que fez mestrado e doutorado, acabando por atrair a atenção da Mayo Clinic, que começava o seu programa para desvendar o microbioma humano, isto é, os trilhões de bactérias, vírus e fungos que colonizam o nosso corpo. "Eles queriam trazer para a equipe microbiologistas que não fossem da área clínica, com um olhar mais para a parte ecológica, conhecedores de métodos e tecnologias de investigação diferentes."
Ao chegar, a cientista soube que poderia expandir seus estudos para os departamentos que tivessem vontade de desenvolver pesquisas sobre microbioma e, logo, o de Obstetrícia e Ginecologia se revelou extremamente empolgado com a chance.
O chefe de lá, o médico italiano Andrea Mariani, especialista em câncer de endométrio, disse à nova colega que valeria a pena investigar o útero das pacientes diagnosticadas com essa doença. Ele sempre notava uma inflamação e desconfiava que, se olhassem para os micro-organismos por ali, descobririam alguma coisa.
"Primeiro, mapeamos as espécies que viviam não só nesse órgão, mas em todo o aparelho reprodutor feminino", diz a doutora Marina. "Comparamos, então, o microbioma no útero retirado de mulheres com câncer de endométrio com o de mulheres que tinham sido operadas por outras razões. Queríamos ver se havia diferença. E foi assim que percebemos um grupo de micróbios que aparecia nas mulheres com o tumor."
Ovo ou galinha?
Passa pela minha cabeça: será que a alteração no microbioma seria uma consequência desse câncer ou, de alguma maneira, poderia estar por trás dele? "É uma excelente pergunta", me diz a pesquisadora. "Mas preciso dizer que, no nosso laboratório, há duas vertentes. E, para uma delas, essa resposta não faz diferença."
Segundo ela, para o desenvolvimento de um teste não seria necessário conhecer tudo, desde que ele se mostre eficaz. "Se conseguirmos distinguir o microbioma de uma paciente que tem câncer do de outra que não tem a doença, mesmo sem sabermos por que os micróbios se encontram alterados, o teste já será útil", acredita.
Já a outra vertente é justamente decifrar se a tal assinatura microbiana — a presença daquelas 17 bactérias — seria só um marcador da doença ou se haveria um envolvimento maior. "Se for a segunda hipótese, iremos buscar maneiras de prevenir esse câncer, intervindo na ação desses micro-organismos."
A cientista e seus colegas vêm conduzindo estudos para entender mais esse lado. "Comparamos células sadias e cancerosas expostas às bactérias para vermos quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha", exemplifica. Já viram que uma delas, a tal Porphyromonas somerae, consegue invadir as células do endométrio. "Quando isso acontece, atrapalha todo o seu funcionamento interno", conta.
Suspeitava-se que isso poderia acontecer. Isso porque um parente próximo dessa bactéria em forma de bastonete, que é mil vezes menor que a cabeça de um alfinete, infecta células das mucosas da boca, o que vem sendo associado ao câncer oral. No caso do tumor do endométrio, os cientistas têm feito experiências com fêmeas de animais, induzindo a infecção com a Porphyromonas somerae para ver se, com isso, elas terminariam desenvolvendo a doença no útero.
No caso do câncer de ovário
Os pesquisadores da Mayo Clinic também buscaram uma assinatura microbiana para esse tumor, outro tipinho danado para o qual ainda não há exames de rastreamento. "Mas, infelizmente, será mais difícil criarmos um teste para ele", lamenta a doutora Marina.
É que, nos tumores ovarianos, não se observou a presença de micro-organismos específicos, como no câncer de endométrio. Mas houve uma diminuição da população de bactérias benéficas, que formariam uma flora protetora. "Essa diminuição pode se relacionar a uma série de problemas. Portanto, não dá para eu dizer para uma mulher que ela provavelmente tem um câncer a partir de um fenômeno que é tão pouco específico", afirma a bióloga.
Nem tudo, porém, foi perdido: notou-se que a composição do microbioma, nas pacientes com câncer de ovário, afeta a resposta ao tratamento. Por isso, a pesquisa sobre essa doença segue firme.
E quando teremos um teste para o câncer de endométrio?
Cautelosa, Marina Walther-Antonio prefere não arriscar uma data, embora a Mayo Clinic já tenha cuidado das patentes e tenha sido procurada por indústrias interessadas na produção de um teste assim. "Em 86% dos resultados positivos, as mulheres realmente estavam com câncer de endométrio. No entanto, o estudo foi realizado em pacientes da nossa instituição, que não representam toda a população dos Estados Unidos, muito menos a global", reconhece a doutora.
Para contornar a questão, estão sendo realizados estudos em colaboração com populações das Ilhas do Pacífico e com mulheres da etnia Maori, na Nova Zelândia, que possuem as maiores incidências de câncer de endométrio do mundo. E a Mayo Clinic começa a incluir americanas negras na pesquisa para ver se a assinatura microbiana se confirmaria entre elas. "A incidência da doença não é maior nessas mulheres, mas a mortalidade, sim. Talvez isso ocorra por uma dificuldade de acesso à saúde, tornando um teste simples ainda mais vital para esse grupo", pensa a pesquisadora.
Também não vamos esquecer que — tanto lá, quanto aqui — a população com menor acesso a uma alimentação de qualidade é majoritariamente negra. E a obesidade impulsiona vários cânceres — o de endométrio é um deles.
Fonte: UOL Viva Bem
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