O tempo pode salvar vidas

“Aos 25 anos, percebi um nódulo na mama. Eu já sabia que havia algo de errado, mas tive de lutar durante três anos com o sistema público de saúde para obter o diagnóstico. Passei por três médicos que nunca me tocaram por preconceito racial. Se recusaram a pedir a mamografia mesmo sob minha alegação de que os nódulos cresciam e se espalhavam, dizendo que eu era muito nova para ter câncer. Quando finalmente um oncologista deu atenção, a doença já estava em estágio avançado e eu perdi a mama. Mas eu poderia ter morrido.” O relato de Leia Silva, infelizmente, não é incomum. 54,5% das mulheres iniciaram seus tratamentos em fase já avançada da doença nos últimos três anos, de acordo com o Radar do Câncer, desenvolvido pela ONG Instituto Oncoguia. Isso se reflete na taxa de mortalidade, que subiu 86,2% em 22 anos, segundo dados da associação Umane.

Um enorme paradoxo, tendo em vista que o diagnóstico precoce aumenta em 95% as chances de cura, eleva a sobrevida e garante tratamentos menos invasivos. A dificuldade de acesso aos exames é um gargalo nessa jornada, que tem as desigualdades aprofundadas pelo recorte de classes sociais. “Precisamos melhorar a gestão e ampliar o orçamento para o câncer, com previsões para todas as etapas da doença: do exame, ao especialista, da biópsia aos tratamentos. Tudo importa! Temos que prevenir sim, mas também tratar com efetividade”, aponta Luciana Holtz, fundadora e presidente do Oncoguia.

Outra dor é a falta de acesso aos tratamentos. Um estudo brasileiro apresentado na Conferência Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica apontou que a taxa de mortalidade de mulheres com câncer de mama tratadas no Sistema Único de Saúde (SUS) é 40% superior à das pacientes da rede privada. Um dos fatores para essa disparidade é a barreira ao acesso de terapias aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com potencial de impactar na sobrevida e qualidade de vida, que ainda não são oferecidas pelo sistema público. Algumas delas, inclusive, já receberam parecer favorável à incorporação pela Comissão Nacional de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC). “No Oncoguia, defendemos a criação dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs), documentos que organizam e guiam como deve ser toda a jornada do câncer de mama, do exame ao tratamento. E o PCDT é obrigatório, ou seja, todos os centros devem aderir”, aponta Luciana.

Além do Outubro Rosa

“Campanhas de conscientização são importantes, mas é preciso ter uma estrutura para oferecer os exames”, afirma Luciana. Ela cita que a mamografia não chega nem mesmo às mulheres-alvo: “Há dez anos o Ministério da Saúde não bate a meta que preconiza. A adesão por mulheres de 50 a 69 anos deveria ser de 70%, mas não passa de 30%”.

E as oportunidades variam até dentro do SUS. “Somos um país muito heterogêneo, temos uma diferença econômica gigantesca entre os municípios. Não existe um Brasil médio, sendo assim, precisamos tratar a oncologia de forma regionalizada”, explica o oncologista e ex-ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele entende que é preciso mapear o problema para depois estruturar soluções e criar condições que atendam às demandas variadas, com a melhoria da gestão e dos financiamentos da saúde. “A partir daí, precisamos pensar em estratégias para criar condições que melhorem a estrutura e a operação, agilizando o diagnóstico e o início do tratamento, para que o sistema se torne eficiente, justo e com equidade”, ressalta.

Tempo é cura

Enquanto essa jornada vai sendo construída com apoio da legislação e das vozes que exigem o acesso à saúde digna, as mulheres também vão se apoiando, cuidando umas das outras. “Eu sei que não vou ter minha mama de volta, mas posso fazer com que outras não percam as delas. Sou uma ativista e luto como gostaria que tivessem lutado por mim quando estava sozinha. Com informação, consigo salvar vidas”, finaliza Leia.

Fonte: Marie Claire

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