80% dos gastos do SUS com câncer de pulmão são de combate à alta mortalidade

Em estudo inédito, pesquisadores analisaram o impacto econômico do câncer de pulmão no Brasil. Além dos custos diretos, como os valores repassados para o tratamento da doença, também foram consideradas as despesas indiretas, relacionadas à perda de produtividade por abstenções e, em casos mais graves, mortalidade precoce.

Conduzida pelo Insper, com o apoio da farmacêutica AstraZeneca, os resultados da pesquisa foram publicados num relatório disponível online. O estudo levanta dados do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre a doença no país entre 2015 e 2019, traz a visão de especialistas no assunto e sugere políticas públicas para solucionar os problemas identificados.

Dentre as análises, a pesquisa alerta que 80% dos custos com câncer de pulmão no SUS estão relacionados à alta taxa de mortalidade da doença. Segundo Vanessa Boarati, líder do estudo, mudar esse cenário deve ser uma prioridade do governo e, para isso, faz-se necessário implementar no sistema de saúde uma política de rastreamento e diagnóstico precoce dos casos, como ela descreve em nota enviada à imprensa.

Por dentro das unidades de saúde
O câncer no pulmão é a principal causa de morte por câncer no Brasil e no mundo, com taxas maiores do que a soma de mortalidade dos cânceres de próstata, mama e colorretal. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença matou 28.618 pessoas no país em 2020. E, apesar de não ser o tumor mais incidente no território nacional, estima-se que, até 2025, vai provocar cerca de 32.560 novos casos por ano.

Com base em estudos anteriores, a pesquisa do Insper considerou que boa parte dos diagnósticos são feitos tardiamente, quando os quadros clínicos já estão muito avançados, o que dificulta o tratamento. Assim, o relatório aponta a antecipação do diagnóstico como o caminho para reduzir o risco de morte por câncer de pulmão.

A partir do DATASUS, o levantamento do Insper evidenciou que os custos totais (diretos e indiretos) com esse tipo de câncer no Brasil foram da ordem de R$ 1,3 bilhão em 2019. Quase 80% desse montante são custos relacionados à mortalidade precoce e absenteísmo. Aproximadamente um terço dos pacientes mortos pela doença tinham idade inferior à de aposentadoria, o que representa um alto custo de produtividade para o país.

Para os autores do relatório, ao comparar os custos do câncer de pulmão com os dois tipos de tumores mais incidentes no Brasil – o de próstata e de mama, depois do câncer de pele não-melanoma –, fica claro o problema gerado pelo diagnóstico tardio.

Isso porque, mesmo que a quantidade de novos cânceres de pulmão (31.270) correspondam a quase metade dos de mama (59.700), o custo indireto do câncer de pulmão (aproximadamente R$ 1,01 bilhão em 2019) se aproxima ao custo do câncer de mama (cerca de R$ 1,38 bilhão em 2019). Com o agravante de que esta doença já possui um protocolo nacional de rastreamento, contribuindo para a redução da sua taxa de mortalidade e, por consequência, os custos associados ao seu tratamento.

Diagnóstico precoce
“Esse estudo pode contribuir para uma revolução no cenário do câncer de pulmão no Brasil”, defende o médico Daniel Bonomi, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT). “Nós, da SBCT, ao lado do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), acreditamos na importância de uma política nacional de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão, e por isso, lançamos o primeiro consenso médico nesse sentido”.

Não só os custos são alarmantes, como toda jornada dos pacientes com câncer de pulmão é desafiadora. Segundo o estudo do Insper, quando comparado com os cânceres de mama e próstata, esses pacientes têm um maior índice de falecimento durante a internação e maior demanda de internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).

Em nota, o oncologista Carlos Gil, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, reforça que “o câncer de pulmão é um problema de saúde pública global”. Por isso, além da alta mortalidade, tem grande impacto econômico. “A melhor estratégia para aumentar a curabilidade dessa doença é o diagnóstico precoce. Nesse sentido, as estratégias de rastreamento ainda são muito limitadas no Brasil e precisam ser estimuladas”.

A principal recomendação dos especialistas é que sejam feitas tomografias de baixa dosagem na população-chave como forma de prevenção. Isso engloba, sobretudo, as pessoas fumantes e ex-fumantes a partir dos 50 anos com carga tabágica maior do que vinte anos por maço (se a pessoa fuma 10 cigarros por dia há 40 anos, sua carga tabágica é de 20 anos/maço, por exemplo).

Olavo Corrêa, diretor-geral da AstraZeneca no Brasil, ressalta a necessidade global de atualização das diretrizes para o câncer de pulmão: “Este levantamento inédito faz parte da estratégia em prol de melhorias significativas para o cuidado dos pacientes com câncer de pulmão. Nossa grande ambição é dobrar a taxa relativa de sobrevida do câncer de pulmão de 5 anos, que atualmente é de 18%, para 36%, além de promover diversas outras iniciativas que contribuam para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”.

Políticas públicas

Por meio da condução de um grupo focal, o estudo ainda traz recomendações de políticas públicas que podem ser implementadas pelos governos e organizações civis para mitigar os efeitos causados pelo câncer. Esses pontos foram divididos em seis domínios:

  • Governança: Iniciar programa de rastreamento em centros de excelência melhor preparados e equipados e utilizar o diferencial da Atenção Básica do Brasil.
  • Força de Trabalho: Capacitar especialistas e engajar profissionais da Atenção Básica para triagem, convencimento da população de risco e navegação do paciente no sistema de saúde.
  • Financiamento: Definir financiamento constante e suficiente, que não esteja suscetível a flutuações no âmbito político-ideológico, para garantir perenidade de uma política de rastreamento, além de criar impostos sobre o cigarro e outros produtos com agentes cancerígenos.
  • Critérios e Elegibilidade: Estabelecer clareza com relação aos critérios de definição da população de risco, com inclusão do trabalho de uma equipe multidisciplinar.
  • Protocolos: Considerar toda linha de cuidado. O rastreamento é apenas uma das etapas e, por isso, precisa ser articulado junto de prevenção, políticas de cessação ao tabagismo, diagnóstico precoce e do tratamento e reabilitação do paciente.
  • Monitoramento e avaliação: Promover acesso aos históricos clínicos, incluindo informações sobre consultas e resultados de exames anteriores, alinhado a metas de curto, médio e longo prazo.

Por fim, os autores concluem no relatório que, para estruturar um sistema de rastreamento da população de risco e de diagnóstico precoce para o câncer de pulmão, é preciso levar em conta tanto aprendizados obtidos internacionalmente quanto o conhecimento de especialistas locais, que são capazes de traduzir para o contexto brasileiro as barreiras a serem enfrentadas nesse plano.

"Um alinhamento entre todas as dimensões [das recomendações de políticas públicas] é importante para que o processo de implementação seja bem-sucedido", eles acrescentam.

Fonte: Galileu

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