Câncer de mama: fase do ciclo menstrual pode influenciar eficiência do tratamento

O câncer de mama é o mais recorrente na população feminina brasileira e mundial. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o país registrará 73 mil novos casos no período entre 2023 e 2025. O tratamento depende da extensão da doença e das características do tumor, e tem mais chances de cura se diagnosticado no início. 

Existem dois grandes grupos de tratamento: os locais, que incluem cirurgia e radioterapia na área do tumor; e os sistêmicos, que incluem medidas mais generalizadas no corpo, como quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica. 

Os tratamentos com quimioterapia neoadjuvante acontecem antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o tamanho ou a extensão do tumor antes da intervenção principal. Eles apresentam resultados variados, mesmo diante de casos semelhantes. 

No último dia 4, um novo estudo publicado na revista Nature aponta que a fase do ciclo menstrual em que o tratamento se iniciou pode estar por trás de pelo menos uma parte dessa instabilidade nos resultados. A pesquisa abre uma nova pergunta que pode ser crucial: as taxas de sobrevivência do câncer de mama poderiam melhorar se a quimioterapia fosse administrada a indivíduos em um período específico do mês?

Além de preparar o corpo para uma possível gravidez, o ciclo menstrual afeta a função de muitos tipos de células em uma série de órgãos. As mudanças hormonais típicas do ciclo, ao que parece, podem influenciar na resposta do tratamento contra o câncer de mama. 

Os pesquisadores realizaram experimentos em camundongos, investigando como o tratamento do câncer de mama seria afetado por flutuações nos hormônios produzidos pelos ovários. A conclusão é que os medicamentos foram mais eficazes na fase em que o hormônio progesterona está mais baixo – ou seja, a fase da menstruação e a fase logo após a menstruação, antes da próxima ovulação.

O gráfico abaixo ajuda a entender as flutuações hormonais durante o ciclo menstrual. No início do ciclo (marcado pelo primeiro dia de menstruação), o nível de progesterona está baixo. O novo estudo sugere que o tratamento contra o câncer de mama é mais eficaz nesse período, chamado “fase folicular”.

O 14º dia, quando a ovulação começa, marca o momento em que a progesterona volta a subir (fase luteínica ou lútea). Nas mulheres, a progesterona é um hormônio responsável por preparar o corpo para a gravidez – especialmente o tecido do endométrio, onde o embrião é implantado.

Quando a quimioterapia neoadjuvante é totalmente bem sucedida e nenhum câncer é detectado no tecido mamário removido pela cirurgia ou nos linfonodos ao redor, isso é chamado de resposta patológica completa. 

Os pesquisadores utilizaram dados existentes coletados de pessoas em tratamento de câncer de mama, e observaram a mesma tendência: quem havia recebido quimioterapia neoadjuvante no estágio de baixa progesterona do ciclo tinha maior probabilidade de ter uma resposta patológica completa em comparação com quem recebeu o tratamento quando a progesterona estava alta.

Esse efeito é importante sobretudo para a primeira dose, já que é comum que o ciclo menstrual seja interrompido durante o tratamento – a quimioterapia é tóxica para os ovários. O estudo sugere que o momento da primeira dose prepara a resposta do corpo para as próximas, e é crucial para moldar o resultado geral do tratamento.

Ainda não se sabe exatamente qual o mecanismo envolvido, já que nos estudos em ratos e em humanos as variações na resposta à quimioterapia ligadas ao ciclo ocorreram independentemente de as células de câncer de mama terem receptores para hormônios ovarianos. Isso significa que vários tipos de câncer de mama diferentes tiveram o resultado do tratamento influenciado pela fase do ciclo menstrual.

Embora o câncer de mama seja mais comum em pessoas mais velhas, cerca de 30% das pessoas com câncer de mama têm menos de 50 anos de idade e provavelmente estão na pré-menopausa no momento do diagnóstico, ou seja, passando por ciclos menstruais.

Entretanto, acompanhar os dados de ciclo menstrual dos pacientes pode ser complexo, já que várias condições individuais (incluindo o câncer e o estresse do diagnóstico) podem impactar na menstruação. Assim, é comum que os ciclos estejam desregulados ou interrompidos, dificultando o monitoramento para esse tipo de pesquisa ou de intervenção.

O estudo da Nature, vale reforçar, ainda não é uma prova definitiva – é apenas uma prova de conceito. Isso significa que ainda serão necessários ensaios clínicos específicos para determinar se a quimioterapia programada para um estágio específico do ciclo menstrual leva a melhores resultados para os indivíduos.

Fonte: Super Interessante

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