Os obstáculos de mulheres com câncer de mama durante o tratamento
Receber o diagnóstico de câncer de mama representa o início de uma jornada dolorosa e incerta. Fátima Cardoso, 50 anos, teve a notícia em 2018 de que tinha uma forma agressiva da doença. Depois da ajuda de colegas de trabalho para pagar os primeiros e mais complexos exames de detecção, fez a mastectomia completa pela rede pública de saúde, iniciou a quimioterapia dois meses mais tarde, passou por radioterapia e mantém o tratamento com terapia hormonal até hoje.
Ao lado de outras mulheres, integra o grupo Fênix Rosa, da Rede Feminina de Combate ao Câncer no DF, e, juntas, se apoiam e lutam por melhorias no atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). "Eu tive sorte de iniciar logo o meu tratamento, mas tem meninas no grupo que demoram meses para serem consultadas por um oncologista e iniciarem o tratamento", relata. "O paciente oncológico tem de ser tratado como prioridade", defende.
Presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi ressalta que, além do diagnóstico e do acesso a tratamento, o impacto financeiro e social sobre as mulheres com câncer de mama precisa estar na agenda de prioridades do poder público. "Há todo um contexto social, de pagar do bolso por medicação, por transporte, por alguém para cuidar dos filhos. Há a falta de trabalho nessa época de tratamento. É um custo indireto sobre o qual nunca refletimos. E quanto mais avançada a doença, maior o custo", alerta.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, e também a causa mais frequente de morte nessa população. No Brasil, é o segundo tipo com maior incidência (10,5%), atrás apenas do tumor de pele não melanoma (31,3%), segundo a Estimativa 2023 — Incidência de Câncer no Brasil, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O estudo também estima que, até 2025, 74 mil novos casos da doença devam surgir no país.
Ciência como aliada
Não à toa, as descobertas relacionadas a esse tipo de câncer ganharam destaque no maior congresso do mundo sobre o tema, a reunião anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), em Chicago. Mais de 40 mil pessoas compareceram ao evento no início do mês, entre médicos, representantes de farmacêuticas e outros profissionais da saúde. Dois mais avançados e conclusivos, com potencial para mudar práticas clínicas, chamaram a atenção.
O médico oncologista Cristiano Resende, do grupo Oncoclínicas, explica que um desses trabalhos foi a metanálise reforçando o papel do bloqueio hormonal em pacientes jovens com câncer de mama de mais alto risco. "Quando a gente incorpora ao tratamento endócrino a supressão da função ovariana, ou seja, uma menopausa induzida de forma medicamentosa, essas pacientes tiveram também melhores desfechos e maior ganho de sobrevida", observa Resende.
Também repercutiu entre a comunidade científica o estudo que mostrou potencial de redução do risco de recidiva da doença para pacientes diagnosticadas com câncer de mama receptor positivo e HER2- em estágios iniciais (2 e 3) de uma droga inibidora de ciclinas, o ribociclibe, quando usada em conjunto com a terapia endócrina. "Não é a primeira medicação aprovada nesse cenário. Temos outra medicação, chamada abemaciclibe, que também é um inibidor de ciclina, que já vem se mostrando positiva e sendo utilizada — inclusive, no Brasil, temos aprovação da Anvisa. A questão é que o estudo com abemaciclibe é para um cenário um pouco mais restrito de pacientes, com doença de mais alto risco e comprometimento linfonodal. O novo estudo com ribociclibe pode ampliar o acesso a outras pacientes", detalha o médico.
Lenio Alvarenga, diretor Médico na Novartis Brasil, farmacêutica responsável pelo estudo, destaca que o objetivo principal é dar aos oncologistas mais opções para o tratamento da doença, que é extremamente complexa. "O oncologista está numa guerra contra uma doença muito desafiadora", avalia. "Aquilo que vimos na paciente avançada também se reproduz para esse grupo de paciente que tem risco de recorrência, e conseguimos diminuir 25% desse risco."
Desafio para o SUS
A ciência é uma das grandes aliadas dos pacientes, e as descobertas anunciadas a cada ano são celebradas por toda a comunidade científica e médica. A alta complexidade da doença, no entanto, exige esforço dos sistemas de saúde complementar e público em qualquer país. No caso do Brasil, a velocidade de incorporação de novas drogas, principalmente pelo SUS, é uma das maiores barreiras apontadas por médicos, pacientes e farmacêuticas, ao lado do acesso ao diagnóstico.
No caso dos inibidores de ciclinas, por exemplo, tanto a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec), responsável por avaliar os tratamentos ofertados na rede pública, quanto a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS), que abrange as autorizações para os planos de saúde, aprovaram, em 2021, a incorporação da medicação para tratamento de câncer de mama metastático. Na rede pública de saúde, no entanto, essa classe de medicamentos ainda não está disponível. Segundo o Ministério da Saúde, o processo que possibilitará a oferta de abemaciclibe, palbociclibe e succinato de ribociclibe segue em tramitação interna, o que "envolve a criação de novos procedimentos na tabela do SUS, que estarão vinculados a uma atualização na Diretriz Diagnóstica e Terapêutica do câncer mama".
Para que o uso seja estendido a outras pacientes com potencial redução do risco de recidiva, como indicou o estudo apresentado na reunião da Asco, outro processo precisa começar junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente da Novartis Brasil, Renato Carvalho, afirma que a empresa deve apresentar o mais rápido possível os documentos ao governo brasileiro para solicitar a ampliação do registro do Kisqali — droga inibidora de ciclina produzida pelo grupo —, agora com foco no tratamento de um grupo mais amplo de pacientes. "O Brasil, para a Novartis, faz parte de um grupo de países prioritários e estratégicos. Uma vez encaminhado o processo nos Estados Unidos, o país vem na primeira onda", diz. "Depende de muitos fatores, mas vai ser o mais rápido possível, e esperamos que, no mais tardar, no começo do ano que vem (o processo) esteja com a Anvisa."
Quem busca diagnóstico e tratamento contra o câncer de mama no país encontra 26 procedimentos disponíveis a depender da indicação médica. Segundo o Ministério da Saúde, a assistência oncológica pelo SUS engloba medicamentos, procedimentos cirúrgicos, radioterápicos, quimioterápicos e de medicina nuclear. "Todo esse conjunto de ações faz parte do bloco de financiamento da Assistência à Saúde de Média e Alta Complexidade (MAC), que faz o ressarcimento de acordo com os procedimentos que englobam o tratamento", detalha a pasta, em nota. Para guiar a conduta dos profissionais em todas as redes, o ministério disponibiliza as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Carcinoma de Mama, com critérios de diagnóstico, tratamento e mecanismos de regulação, controle e avaliação.
Apesar de ser referência mundial, o SUS ainda está distante de alcançar, na prática, o conceito de universalidade. As leis dos 30 e dos 60 dias — que determinam prazos para fazer a mamografia e iniciar o tratamento — raramente são cumpridas e as pacientes ainda enfrentam filas e dificuldade de acesso às opções mais avançadas. Dados mais recentes do Inca, de 2021, indicam que mais da metade das mulheres diagnosticadas com câncer de mama no país levam mais de 60 dias para iniciar o tratamento.
No Distrito Federal, de acordo com a Secretaria de Saúde, qualquer alteração detectada em mamografias é considerada diagnóstico e a paciente ganha prioridade na fila. "Não há demanda reprimida de pacientes classificadas em vermelho para o exame. Para oncologia clínica, as solicitações mais antigas são de abril de 2023", informa a pasta. Até março, foram realizadas 3.081 mamografias e 10.524 consultas com médico oncologista clínico na rede pública de saúde. "A pasta trabalha para diminuir a fila de procedimentos cirúrgicos, incluindo a cirurgia de mama, contratando novos profissionais, ampliando carga horária dos servidores e elaborando termos de referência para a aquisição de novos equipamentos."
Exemplo no mundo
Em países como o Canadá, a universalização do sistema é uma realidade. O médico oncologista Jamil Asselah, professor no Centro de Saúde da Universidade McGill, afirma que, no país, todas as mulheres, independentemente da situação financeira, têm acesso a tratamento na rede pública de saúde. "Não faz sentido para nós, como médicos oncologistas, que alguns pacientes tenham acesso a tratamento e outros, não. Somos muito privilegiados por termos as autoridades de saúde aprovando e pagando por novas drogas", afirma.
Desde que começou a prática clínica, há 15 anos, o doutor Asselah relata que viu a história dos pacientes mudar. Se, antes, uma mulher diagnosticada com câncer de mama em estágio 4 — o mais avançado — vivia em média dois anos, hoje, com avanços no diagnóstico e nos tratamentos disponíveis, a expectativa de vida pode passar dos 10. O próximo passo é investir em inteligência artificial para melhorar o acompanhamento da trajetória dos pacientes e buscar engajá-los, para que compartilhem seus sintomas e dificuldades e mantenham o uso dos medicamentos indicados. "Esse é o futuro, mas não em 10 anos: isso é para os próximos dois anos", atesta.
Fonte: Correio Braziliense
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