Voluntários ajudam a amenizar sofrimento de pacientes com câncer

“Doar o que sobra é obrigação, mas doar o que não se tem é a verdadeira caridade”. A frase não saiu mais da cabeça da advogada Gabriela Vaz Moreira, de 51 anos, desde que a ouviu de um irmão, há pouco mais de dez anos. No caso dela, o que faltava era tempo. Assim que se aposentou, a moradora do Leblon decidiu que era hora de ajudar o próximo e, desde 2017, destina as quartas-feiras a um trabalho de recreação com as crianças da área da pediatria oncológica do Instituto Nacional do Câncer (Inca), na Praça da Cruz Vermelha, no Centro.

Gabriela faz parte do exército do bem do INCAvoluntário, programa que há 20 anos ajuda a amenizar o sofrimento dos pacientes com câncer, além de humanizar o tratamento. Até a pandemia eram 600; atualmente são 250. O maior desafio agora é voltar ao patamar anterior.

— É um trabalho diário de amor, empatia, solidariedade e compaixão pelo próximo. Todo mundo tem algo a dar. Nem que seja um sorriso, que não custa nada — sugere Gabriela, que se dedica a fazer atividades de recreação com as crianças do Inca enquanto elas aguardam atendimento.

No país, são 7,2 milhões

Dados do IBGE apontam que mais de 7,2 milhões de brasileiros se dedicam ao trabalho voluntário. Adultos acima de 50 anos, especialmente mulheres, são maioria. A professora Tânia Regina Martins Martinez Papasian, de 62, se encaixa no perfil. Há 20 anos, quando a filha Jéssica, hoje com 32, foi diagnosticada com tumor no cérebro, a mãe conheceu o trabalho dos voluntários e prometeu fazer o mesmo quando a menina ficasse boa. Hoje ela leva vida normal e trabalha como técnica de enfermagem.

— Aprendi sendo voluntária que meu problema não é maior que o do outro. Cada dia a gente leva uma experiência diferente para casa. Me tornei uma pessoa mais otimista — afirma a moradora da Abolição, que atua na unidade do Inca em Vila Isabel, que atende pacientes com câncer de mama.

Toda quarta-feira, ao chegar à unidade, onde passa ao menos quatro horas, sua missão inclui visitar os leitos para saber se alguém precisa de auxílio. Na hora do almoço ajuda a alimentar quem não tem acompanhante. Boa parte do tempo passa na sala dos voluntários atendendo os que procuram por empréstimo de cadeira de roda, doação de perucas, lenços e touca. Quem chega é recebido com cafezinho e biscoito.

— Se alguém precisa, corto o cabelo. Se elas choram, a gente acalenta — diz a voluntária, que também ajuda a animar festinhas e já se vestiu de palhaça , na trupe dos Médicos do Barulho, para levar um pouco de alegria para os acamados.

João Cláudio Marchelly, de 67 anos, morador de Vila Isabel, já tinha um histórico como voluntário antes de chegar ao Inca. Em 2014 atuou no acolhimento do público que foi ao Maracanã assistir aos jogos da Copa do Mundo. Dois anos depois, na Olimpíada do Rio, foi motorista voluntário. Ele contou que quando se aposentou do BNDES, onde era gerente de crédito, em 2013, após 34 anos de serviço, entrou em depressão.

—Eu estava num processo de depressão, e o trabalho voluntário me ajudou a superar. Para mim foi um espetáculo — apontou João Cláudio, que começou na área de acolhimento, recebendo pacientes que entram na unidade de Vila Isabel, e hoje cuida da demanda deles, sempre às segundas-feiras, pela manhã.

Ajuda fundamental
O bom humor de João Miguel de Almeida, de 70 anos, contagia a todos por onde passa. É com essa disposição que ele atende pacientes que enfrentam o quadro mais dramático do câncer: os que estão em fim de vida.

Sempre com uma piada pronta, arranca um sorriso de todos, inclusive dos doentes. Técnico em segurança do trabalho, aposentado desde 2012, entrou para o voluntariado em 2019. No dia em que ia se apresentar no Inca, em março do ano seguinte, foi declarada a pandemia da Covid-19 e, por causa da idade, foi mandado de volta para casa. Retornou em janeiro deste ano. Ele atua, sempre às quintas-feiras, num dos núcleos da unidade de Vila Isabel.

— A gente vem pensando em doar, mas recebemos mais do que damos — constata o morador da Tijuca.

Nem todos os voluntários do Inca lidam diretamente com doentes nas enfermarias. É o caso da microempresária niteroiense Silvana Barbosa Saraiva, de 46, que atua na Rua Washington Luís, no Centro, onde ficam a central de distribuição de doações e o bazar do programa:

— Ninguém vai na sua casa te obrigar a ser voluntário. Você não vai ser remunerado, então tem de querer muito assumir essa responsabilidade.

É justamente nas chamadas áreas de atividades-meio — de recebimento de doações, montagem das bolsas de alimentos e na parte administrativa — que o INCAvoluntário tem mais necessidade de pessoal, segundo Fernanda Vieira, gerente geral do projeto:

— São as pessoas que fazem a engrenagem andar. Sentimos isso na pandemia.

O coordenador de assistência do Inca, Gelcio Mendes, avalia como fundamental para os doentes a ação dos voluntários:

— Eles prestam um tipo de trabalho que muitas vezes vai definir a possibilidade ou não do paciente seguir no tratamento, que vai desde a organização de filas ao auxílio nas enfermarias.

No site do programa (https://www.incavoluntario.org.br/) é possível saber como fazer para virar voluntário. O hospital possui outros grupos que atuam na área de apoio espiritual.

Reflexo no atendimento
No Pró Criança Cardíaca, em Botafogo, o trabalho de voluntários como Angélica da Silva, de 35 anos, também faz a diferença no tratamento dos pacientes. Nutricionista, ela os orienta sobre a importância da alimentação saudável, além de fazer atividades lúdicas para ajudar a passar o tempo:

— Ser voluntário é doar tempo, dar carinho e receber de volta histórias de superação.

Para a diretora médica do hospital, Isabela Rangel, a ação desse pessoal tem reflexo no atendimento aos pacientes. A unidade tem mais de 30 voluntários ativos de um total de 200 que já passaram por lá em dez anos. Além dos da recreação, há também dentistas, psicólogos, médicos, nutricionistas e até advogados.

Fonte: Extra

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