Nenhum exame detectou, mas ela tinha câncer de ovário: 'Doença silenciosa'

Mari Carmen Cançado, 55, estranhou quando sentiu um gânglio aumentado na virilha, como se fosse um caroço. Procurou um ginecologista, fez ultrassom, mas o exame não detectou nada anormal.

Médica, ela continuava achando a situação suspeita. Passou em outros especialistas, fez uma tomografia que, de novo, nada mostrou. O resultado era basicamente de um "gânglio inespecífico".

Depois de alguns meses, mais sintomas apareceram: ela se sentia indisposta, sempre cansada. Neste processo todo, tinha o hábito de comer rápido e, logo na sequência, não conseguia fazer a digestão direito —com isso, perdeu cerca de 2 kg.

No entanto, para Mari, tudo isso tinha um motivo: a rotina corrida, com filhos mais novos e uma mãe doente vivendo na mesma casa.

Mais uma vez, ela resolveu repetir o ultrassom no abdome, que nada apontou. Quando apresentou um quadro de herpes-zóster, uma "luz se acendeu". Foi quando Mari resolveu fazer uma biópsia do caroço. Foi ali que veio o diagnóstico de câncer de ovário.

"Infelizmente, meu estágio era o último, o mais grave, já com metástase nos linfonodos, no fígado e na região intra-abdominal", lembra a médica, que vive em Piracicaba (SP).

Cirurgia, retorno do câncer e investigação genética

Esse foi o protocolo de Mari: 

  • Cirurgia longa, de mais de 10 horas para retirada do ovário, órgãos pélvicos e outras regiões na qual o câncer já tinha se espalhado, principalmente no peritônio (membrana que cobre paredes do abdome e de órgãos digestivos).
  • 17 sessões de quimioterapia. 
  • Duas cirurgias (pélvica e abdominal) após complicações.

Depois de seis meses, os exames mostraram que não havia mais sinal da doença. Com isso, Mari passou a fazer acompanhamento médico a cada 3 meses.

Mas 1 ano depois, ela teve mais uma metástase. Além das regiões já afetadas anteriormente, o tumor atingiu uma parte do pulmão (pleura). E, com isso, Mari fez:

  • 6 sessões de quimioterapia, que reduziram em 50% a progressão da doença —mas sem "negativar" os sinais do câncer, como ocorreu da primeira vez.
  • Teste genético, pois o pai morreu com câncer de estômago aos 52 anos e a avó, de um câncer com metástase, que ninguém sabe ao certo qual era, aos 70.

Com isso, ela descobriu ser portadora da mutação BRCA 2.

O que muda ao fazer testagem genética?

A forma de tratar a doença, de forma resumida. De acordo com Mariana Scaranti, oncologista clínica da Dasa, entre 10% a 15% dos casos de câncer de ovário têm alteração genética que predispõe ao tumor.

"Os genes BRCA 1 e 2 têm relação não apenas com câncer de mama e ovário, mas também com próstata e pâncreas. Caso seja encontrado em mulheres saudáveis, é recomendada uma estratégia individualizada para o câncer de mama, com a retirada dos ovários e das tubas uterinas", explica Mariana Scaranti, oncologista clínica.

Ainda segundo a médica, é importante que as pacientes sejam testadas, pois se houver alteração genética, familiares também devem fazer o mesmo. No entanto, esse tipo de exame —feito com a saliva ou amostra de sangue— só é realizado com convênio ou de forma particular. Não há no SUS.

A descoberta da mutação genética fez com que Mari tivesse acesso a um medicamento específico para o tumor. Na época, o remédio Olaparibe era aprovado pela Anvisa, mas ainda não estava incluído no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) —isso só ocorreu em 2022.

"Foi necessário judicializar o processo, o que permitiu o uso da terapia. Iniciei a partir de julho de 2018, tomando uma grande quantidade de cápsulas por dia (oito de manhã e mais oito à noite), com algumas restrições alimentares. Ainda sim, era muito melhor que a quimioterapia", explica.

Atualmente, ela toma duas cápsulas do medicamento, além de não ter mais limitações alimentares. Os resultados também foram positivos: Mari está em remissão há cerca de 3 anos.

"Gradativamente, as imagens [com a presença do tumor] foram sumindo. A medicação controlou a doença, mas não sabemos como ela vai se comportar. São 7 anos de sobrevivência", contou Mari Carmen Cançado.

Não existe exame específico para câncer de ovário

Diferentemente do câncer de mama, que possui a mamografia como rastreio, e o câncer de colo de útero, que tem o papanicolau, o câncer de ovário não tem um exame de rastreamento.

Por isso, segundo a oncologista, é muito importante que as mulheres conheçam o próprio corpo e, se houver presença de sintomas, busquem ajuda médica.

Quando surgem, os sinais do câncer são: 

  • Sensação de algo "pesado" na parte inferior do abdome; 
  • Dor abdominal; 
  • Aumento do volume abdominal; 
  • Alteração do hábito urinário e evacuatório; 
  • Perda de peso sem motivo.

Segundo Scaranti, o tratamento é baseado em cirurgia, quimioterapia e avaliação para inclusão da terapia-alvo (medicamentos que atacam especificamente as células cancerígenas, provocando pouco dano às células normais).

"O padrão genético do paciente é o que define se a droga-alvo será utilizada após o término da quimioterapia. Inibidores como Olaparibe não são usados indiscriminadamente em primeira linha", explica a médica.

A oncologista esclarece que, com alteração genética, os pacientes podem receber terapia de manutenção após o término da quimioterapia, reduzindo a recorrência da doença. Inclusive, filhos ou filhas podem fazer o teste e, a partir do resultado, ter acompanhamento específico.

Fonte: UOL Viva Bem

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