Câncer prevalente em idosos: conheça os sinais do mieloma múltiplo
Ainda pouco conhecido, o mieloma múltiplo é, atualmente, o segundo câncer hematológico mais frequente no mundo, ficando atrás apenas das leucemias. Atacando a medula óssea e com alta taxa de letalidade, a doença ainda não tem cura, mas os tratamentos vêm se modernizando nos últimos anos.
De acordo com estudo da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, uma das grandes dificuldades no diagnóstico do mieloma é que seus sintomas podem ser facilmente confundidos com sinais típicos do envelhecimento, fazendo com que os pacientes busquem diversos atendimentos antes de descobrir a neoplasia.
Fazer exames preventivos e estar atento aos sintomas persistentes é uma das formas de facilitar o rastreamento da doença, que tende a crescer no Brasil em função da maior expectativa de vida e do envelhecimento da população.
Embora a incidência do mieloma múltiplo permaneça desconhecida no Brasil, pesquisadores indicam que a doença pode atingir quatro em cada mil brasileiros, representando aproximadamente 7.600 novos casos por ano. Nos Estados Unidos, são registrados 19 mil casos no mesmo período.
Para entender melhor o mieloma e os seus tratamentos, é importante analisar o início da enfermidade, que ainda não tem causas conhecidas.
A doença
Na medula óssea, todos temos células chamadas plasmócitos, que são responsáveis por produzir anticorpos que combatem vírus e bactérias.
O mieloma múltiplo acontece quando um clone de plasmócito sofre mutação, fica defeituoso e começa a se multiplicar desordenadamente, formando um tumor.
Edvan Crusoe, médico hematologista do Centro de Oncologia e Hematologia da Bahia e coordenador do Centro Integrado de Tratamento do Mieloma Múltiplo Rede D'or Oncologia, explica que essas células doentes ocupam o espaço das saudáveis e comprometem o seu funcionamento.
Os anticorpos doentes passam a produzir proteínas desordenadas, que começam a se acumular no organismo, causando uma série de desequilíbrios.
As principais alterações são resumidas em quatro: lesões ósseas, alterações renais, hipercalcemia e anemia.
Os altos níveis de cálcio que a doença causa no sangue, chamados hipercalcemia, podem sobrecarregar os rins e resultar em alterações renais mais sérias. O problema é detectados por meio de exames sanguíneos.
O maior depósito de cálcio no organismo acontece como consequência de outro sintoma do mieloma. Os plasmócitos desordenados passam a atacar os ossos, causando microfraturas espontâneas no paciente, o que aumenta os níveis de cálcio liberado.
Segundo Edvan Crusoe, cerca de 80% a 90% dos pacientes de mieloma apresentam lesões ósseas, também responsáveis pelas dores apresentadas.
Por fim, a grande maioria dos pacientes apresenta anemia — cerca de 70%. Ela surge porque as células saudáveis da medula passam a ser substituídas pelos plasmócitos doentes.
Sintomas
Os sintomas mais comuns costumam ser confundidos com pequenos problemas, como dores ósseas e a fraqueza e mal-estar em virtude da anemia. Alguns pacientes apresentam infecções de repetição pela deficiência no sistema imunológico.
As mais prevalentes são infecções urinárias e pneumonias.
Muitos dos pacientes costumam visitar mais de um médico ou pronto-socorro, tratam o sintoma, mas dificilmente recebem o diagnóstico de mieloma com rapidez.
Tratamento
Os tratamentos para o mieloma costumam desacelerar a progressão do câncer e diminuir os sintomas.
Como não tem uma cura ainda, o mieloma múltiplo tem caráter cíclico, ou seja, mesmo após um tratamento inicial bem-sucedido, os pacientes costumam voltar a apresentar sintomas e sinais clínicos, precisando de um novo cuidado.
No Brasil, os tratamentos disponíveis são a quimioterapia, a administração de corticoides, o transplante de medula óssea. Os mais recentes consistem na administração de anticorpos biespecíficos e na imunoterapia.
A quimioterapia e os corticoides atuam atacando as células doentes.
O transplante só é indicado para pessoas com menos de 65 anos e com uma condição clínica boa o suficiente para tolerar o transplante autólogo, no qual são usadas as células do próprio paciente.
Antes de iniciar o tratamento, são removidas células saudáveis da medula do paciente. Depois, ele passa por outros tratamentos, como a quimioterapia ou a terapia-alvo, que ataca as células doentes.
Em seguida, é feito o transplante para garantir a recuperação do paciente e a produção de células saudáveis.
Edvan comenta que, no início dos anos 2000, começaram a ser usados os inibidores e os imunomoduladores.
Os primeiros atuam matando as células doentes diretamente e os segundos estimulam o sistema imunológico a ficar ativo novamente.
Entre 2014 e 2015, foi aprovado o uso dos primeiros anticorpos monoclonais biespecíficos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, recentemente, um novo medicamento biespecífico da Janssen para o uso em pacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário e que receberam pelo menos três terapias anteriores, incluindo um inibidor de proteassoma, um agente imunomodulador e um anticorpo monoclonal.
Os medicamentos biespecífocos atuam como uma espécie de ponte, sendo capazes de se ligar a dois tipos de células diferentes. De um lado, se conectam com os receptores dos plasmócitos, matando as células doentes. Do outro lado, se ligam às células de defesa do organismo, estimulando o sistema imunológico, auxiliando o corpo a eliminar os plasmócitos desordenados.
Recentemente, e ainda não disponível no Brasil, a comunidade médica começou a avaliar um novo tipo de tratamento, no qual se removem linfócitos do paciente e os transformam, para que eles atuem especificamente contra uma proteína presente no tumor.
Por ser uma terapia personalizada, leva tempo e tem custos elevados, mas acredita-se que seja uma das grandes soluções para aumentar a sobrevida de pacientes com mieloma múltiplo.
Fonte: Correio Braziliense
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