O camundongo transparente que pode melhorar testes de drogas contra câncer

Foto: Divulgação/Helmhotz

Um novo método que consiste em examinar camundongos transparentes mortos pode melhorar significativamente os testes com novas drogas contra o câncer, uma vez que a inovação permite encontrar tumores que antes eram pequenos demais para serem detectados.

O professor Ali Ertürk, do centro de pesquisas Helmholtz Munich, na Alemanha, descobriu como tornar um camundongo transparente em 2018. De lá para cá, o método foi aperfeiçoado e detalhado em um artigo publicado nesta segunda-feira (10) na revista científica Nature Biotechnology.

A criação do camundongo transparente envolve a remoção de todas as gorduras e pigmentos de seu cadáver, por meio de um processo químico. A cobaia acaba parecendo um brinquedo de plástico transparente, ligeiramente flexível.

A equipe também usa produtos químicos para ressaltar tecidos específicos que, com o novo método, podem ser observados em microscópios e exames de imagem com muitos detalhes.

Em uma das primeiras aplicações, a equipe detectou tumores cancerígenos nos estágios iniciais de formação.

"Exames de ressonância magnética e de tomografia mostrariam apenas grandes tumores. Os nossos mostram tumores em uma única célula, o que esses exames de jeito nenhum conseguem", aponta Ertürk.

"Os medicamentos atuais prolongam a vida por alguns anos e depois o câncer volta. Isso ocorre porque o processo de desenvolvimento [dos tratamentos] nunca incluiu a eliminação desses pequenos tumores, que nunca foram visíveis."

Medicamentos geralmente são testados primeiro em camundongos, e os efeitos do tratamento são acompanhados por meio de exames de imagem convencionais.

No método criado por Ertürk, apenas camundongos mortos podem ser analisados — e somente algumas cobaias precisam ser transparentes.

A equipe também está armazenando imagens das cobaias em formato 3D. Desta forma, os pesquisadores que precisarem analisar diferentes partes do animal ou quiserem realizar novos experimentos podem acessar uma biblioteca com imagens anteriores, em vez de usar outro camundongo.

O professor Ertürk acredita que a técnica pode reduzir em dez vezes o uso de animais de laboratório.

A Cancer Research UK, uma entidade dedicada a pesquisas sobre o câncer no Reino Unido, afirmou que a nova técnica tem "muito potencial".

Rupal Mistry, gerente de informações de pesquisa da entidade, explicou o entusiasmo.

"Embora os pesquisadores só possam usar a técnica para examinar corpos de camundongos mortos, ela pode nos dizer muito sobre como o câncer se desenvolve nos estágios iniciais da doença. Ser capaz de visualizar tumores no corpo todo dará também aos pesquisadores uma maior compreensão do impacto de diferentes medicamentos e tratamentos", afirma Mistry.

O método atualmente é testado contra o câncer, mas acredita-se que ele possa ser adaptado para o estudo de várias outras doenças, permitindo que os pesquisadores vejam coisas nunca antes vistas.

Os estudos com camundongos costumam ser o ponto de partida para aprender sobre os processos no corpo humano, mas a nova técnica pode ser usada em qualquer animal.

O processo pode eventualmente ser aplicado em humanos, tornando nossos tecidos e órgãos transparentes—, mas isso é improvável, porque não parece haver avanços em pesquisas médicas possíveis nesse estágio de um corpo humano já formado.

A biomédica Nana-Jane Chipampe, do Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, está entusiasmada com a perspectiva de usar a nova técnica para estudar como as células se desenvolvem no corpo humano. Atualmente, ela precisa de estratos muito finos de tecido para estudá-los no microscópio.

"[O método] Tem o potencial de identificar novas células, tecidos e doenças que realmente nos ajudarão a entender o desenvolvimento de doenças."

A líder de sua equipe, a médica e professora Muzlifah Haniffa, está produzindo um atlas online de todas as células do corpo humano. Haniffa diz que a técnica de digitalização desenvolvida pela equipe de Ertürk será útil para todos os tipos de pesquisa médica.

"Sem dúvida, vai acelerar o ritmo das pesquisas médicas", diz a médica.

"Combinar essas tecnologias de ponta e construir o atlas das células humanas sem dúvida revolucionará completamente a medicina."

Fonte: Folha de S. Paulo

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