Curadas do câncer de mama trabalham autoestima para usar biquíni no verão

A época de sol, praia e piscina se aproxima. O biquíni sai do fundo da gaveta e vira item essencial no verão. O momento, porém, pode ser mais desafiador para umas mulheres que tiveram câncer de mama e passaram pela mastectomia —cirurgia que envolve a retirada da mama.

O trabalho para recuperar a autoestima é diário. O procedimento impacta a visão das mulheres sobre o próprio corpo, afinal, os seios são vistos como um símbolo da feminilidade, sexualidade e maternidade.

Roberta Perez, 34, sentiu o impacto em sua aparência quando tirou as duas mamas em 2017, ano em que recebeu o diagnóstico da doença, já em estágio avançado. Na época, aos 27 anos, ela levava uma vida agitada trabalhando em hospital, não se alimentava bem, fumava e bebia —não estava bem física ou emocionalmente.

Em 2017, Perez fez a reconstrução da mama e precisou conhecer o seu corpo novamente, olhar para o espelho e se ver sem cabelo em um momento de sensibilidade. Ela ficou com cicatriz embaixo do braço e em cima do peito. Às vezes olhares tortos a perseguem.

"A gente não pode ter vergonha da nossa cicatriz, do nosso corpo. Esse corpo precisa ser vestido e admirado", diz. Perez, que se diz ativista de conscientização sobre a doença, produz conteúdo para as redes sociais.

Ela entrou em uma jornada para encontrar as roupas e biquínis que melhor se encaixassem em seu novo corpo. O sutiã, por exemplo, que já não era necessário pela rigidez da região, chegava a ser incômodo. Os biquínis que utilizava pareciam apenas tops.

Sua experiência com o modelo tomara que caia teve pontos positivos e negativos: como o peito estava mais duro, a peça não caía, mas deixava a cicatriz muito exposta. Os mais cavados também não lhe agradaram.

Uma das primeiras coisas que vê ao buscar um biquíni é se dá para colocar próteses, que muitas mulheres mastectomizadas usam. "Vamos descobrindo o que cabe no nosso corpo, começando a aprender que não é a gente que tem que caber nas roupas, mas as roupas que devem caber na gente."

Algumas marcas começaram a desenvolver produtos que atendem às necessidades dessas mulheres. Uma delas é a Blue Man, que lançou uma coleção de moda praia que se adapta à assimetria das mamas após cirurgia. São modelos mais fechados, com espaços para colocar prótese e com enchimentos.

"As roupas de banho apropriadas trazem mais conforto às mulheres e ajudam na socialização", diz Joana Jeker, 46, fundadora da Recomeçar, associação de mulheres mastectomizadas de Brasília. Ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama em 2007.

Jeker conta que, depois que fez a mastectomia, não deixou de ir à praia ou piscina. Por não usar um modelo adaptado, perdeu duas próteses ao dar um mergulho no mar. "Eu tinha um certo receio, mas a minha vontade de usufruir desses ambientes era muito maior", diz.

Mas, a convivência com com mulheres da ONG que passaram e passam pelo tratamento contra o câncer a fez perceber que muitas delas sentem insegurança e ainda não estão prontas para usar biquíni.

Michele Pereira, 35, que tratou o câncer durante a pandemia, afirma que ainda não se sente confortável para a peça e, por isso, prefere maiô. Ela fez mastectomia e reconstrução da mama em 2020.

Durante a cirurgia, Pereira colocou silicone para fazer a simetrização. Após o processo e por causa da radioterapia —que não estava prevista em seu tratamento— ela teve contratura capsular, em que a capa que envolve a prótese fica mais fibrosa e começa a apertá-la, deixando a mama distorcida. No seu caso, uma mama subiu e outra ficou para baixo. Ela conta que a irregularidade abalou muito sua autoestima.

"Tive que passar por um processo de entender quais tipos de roupa valorizavam e disfarçavam esse desnivelamento", afirma. Em 2021, o câncer voltou e ela teve que passar por tratamento e cirurgia novamente. Dessa vez, o foco era acabar com a doença e não a vaidade.

A psico-oncologista fundadora do instituto Oncoguia, Luciana Holtz, afirma que é difícil passar pelo processo de autoconhecimento e aceitação sem apoio emocional. "Se para a paciente está sendo difícil se reconhecer nesse novo corpo, com essa nova mama que ainda está em reconstrução, ela vai passar pela terapia para um resgate de autoestima, um olhar cuidadoso e positivo", diz.

Ela afirma que cada mulher deve avaliar o quanto é importante ir à praia ou piscina e dimensionar isso em sua vida. "A regra de tudo tem que ser sempre a paciente respeitar seu limite."

Para Gisele Borges, dona do perfil Amigos da Químio no Instagram, o apoio da psicologia foi e é fundamental na sua jornada. Ela tenta lidar da melhor maneira possível em relação ao seu corpo. Quando quer ir à praia ou piscina, ela usa biquíni com prótese de silicone ou isopor para entrar na água.

"Às vezes eu coloco o biquíni e não coloco o bojo. Fica parecendo uma mama muito menor do que a outra, mas eu acho que ninguém fica olhando e se olhar ninguém tem nada a ver com isso, são as minhas cicatrizes", diz.

Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer, afirma que para além de falar do enchimento, é preciso abordar o acolhimento dessas mulheres do jeito que são.

"É importante a gente ensinar, falar sobre isso para as pessoas que cercam essas mulheres para que tudo isso seja tratado da forma mais natural possível." Ela faz parte do Coletivo Pink, projeto que reúne associações oncológicas do país e oferece serviços como palestras, exposições e atividades culturais sobre conscientização do câncer de mama.

Além do cuidado mental, a médica reforça os cuidados físicos no verão. É preciso passar protetor solar, se manter hidratada, ter uma boa alimentação e cuidados com cicatrizes recentes que não podem tomar sol.

Fonte: Folha de S. Paulo

Este conteúdo ajudou você?

Avaliação do Portal

1. O conteúdo que acaba de ler esclareceu suas dúvidas?
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
2. De 1 a 5, qual a sua nota para o portal?
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
3. Com a relação a nossa linguagem:
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
4. Como você encontrou o nosso portal?
5. Ter o conteúdo da página com áudio ajudou você?
Esse site é protegido pelo reCAPTCHA e a política de privacidade e os termos de serviço do Google podem ser aplicados.
Multimídia

Acesse a galeria do TV Oncoguia e Biblioteca

Folhetos

Diferentes materiais educativos para download

Doações

Faça você também parte desta batalha

Cadastro

Mantenha-se conectado ao nosso trabalho