Sem 30% do pulmão após câncer, ela fez o Caminho de Santiago 4 vezes

O cuidado de Cláudia Lopes, 57, com a saúde vem de uma preocupação. Ela tem muitos casos de diabetes na família e chegou a perder uma irmã por causa da doença. Com gosto por atividades físicas, ela começou a correr em 2004 por incentivo do então namorado, hoje marido. Pilates e musculação completavam a rotina.

A alimentação também sempre foi equilibrada. O ponto fraco da vida, porém, era o estresse. Mãe de dois filhos, passou quase dez anos cuidando deles sozinha após um divórcio, trabalhando e lidando com as tarefas da mulher moderna. Uma típica sobrecarga.

Em 2014, porém, a economista teve de desacelerar o passo. Quinze dias após completar uma corrida de 10 km, sentiu dores abdominais. Uma tomografia da região indicou uma lesão no intestino confirmada depois como um tumor benigno, que causava semiobstrução intestinal.

O exame também captou a base do pulmão, mostrando uma lesão suspeita que foi mais bem investigada com uma tomografia do tórax. Era câncer de pulmão.

"Eu sempre falo que Deus me mandou um tumor benigno para que eu encontrasse o maligno", disse Cláudia Lopes.

Enquanto, a princípio, a obstrução intestinal se desfez sem cirurgia, Cláudia precisou tirar 30% do pulmão direito para extrair o nódulo do câncer. Ainda, um linfonodo comprometido levou a quatro sessões de quimioterapia.

Mais tarde, foi preciso tirar o tumor do intestino em uma cirurgia mais traumática do que a do pulmão. É que a do intestino foi aberta, seguida de uma infecção interna dos pontos que demandou novo procedimento e mais dias internada. A do pulmão foi por videolaparoscopia, com cicatriz mínima abaixo do seio e alta em três dias.

Mudança de perfil
"No início, foi um sentimento de surpresa muito grande, nunca fumei", comenta Cláudia. Embora o câncer de pulmão ainda seja muito associado ao tabagismo, os casos como o dela têm preocupado.

"Tem outros fatores de risco para o câncer de pulmão que as pessoas negligenciam, como tabagismo passivo", alerta o oncologista William Nassib William Júnior, líder nacional de oncologia torácica do Grupo Oncoclínicas.

Outras possíveis causas para a doença são:

  • Poluição: vários estudos associam o fator ao aumento do risco de câncer de pulmão, hoje com maior entendimento de como os poluentes desencadeiam a doença em pessoas que nunca fumaram.
  • Gás radônio: segundo a OMS, é a segunda maior causa de câncer de pulmão em todo o mundo. Trata-se de uma substância radioativa que emana de rochas e solos e tende a se concentrar em espaços fechados, como minas subterrâneas ou casas. O médico diz que, no Brasil, o gás está presente em algumas regiões, mas sabe-se pouco sobre ele. Em países nórdicos, por exemplo, ele está associado a casas com porão.
  • Exposição ocupacional: pessoas que lidam com amianto, sílica e metais pesados; águas contaminadas com arsênio; quem trabalha na fabricação de borracha, varredura de chaminés e produção de carvão.
  • Fumaça de cozinha.
  • Exaustão de motor a diesel.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pulmão é o segundo mais incidente no mundo. No Brasil, estimam-se 32 mil novos casos este ano, sendo o quarto tumor mais frequente nos homens e o quinto nas mulheres.

Fôlego para ir além
Um ano após retirar 30% do pulmão, Cláudia completou uma corrida de 10 km. "Foi super emocionante, porque eu não esperava concluir tão bem a prova. Não estava bem condicionada, mas não tive problema de respiração", lembra.

William explica que, sem uma parte do órgão, a pessoa pode sentir alguma diferença na função respiratória, principalmente com esforços mais vigorosos. Mas o pulmão consegue se adaptar muito bem à nova realidade, com o restante compensando o que falta.

Além disso, só passam por cirurgia pessoas que foram detalhadamente avaliadas e tenham condições de retirar uma parte do pulmão. Cláudia se adaptou bem e hoje atribui as possíveis dificuldades para correr mais à idade do que ao diagnóstico. Mesmo agora tendo uma condição crônica.

Em 2018, ela teve uma recidiva do câncer de pulmão em estágio 4, considerado avançado e sem possibilidade de cirurgia. "Incurável para a medicina", ela diz. Um teste genético identificou mutação nas células do câncer, que é tratado até hoje com um medicamento que age contra moléculas que atuam como um "motor" para a doença —a chamada terapia alvo.

"Hoje, tenho pequenos nódulos nos dois pulmões", conta. Quando começou o novo tratamento, duas amigas a convidaram para percorrer o Caminho de Santiago, mas não foi possível. Cláudia já tinha lido sobre a peregrinação e teve vontade de fazer o trajeto também. O desejo foi realizado mais tarde, quatro vezes.

O final da caminhada é na Espanha, mas alguns trajetos podem passar por outros países europeus.

Em 2019, percorreu 240 km em dez dias —no final daquele ano, ainda participou de uma São Silvestre. Em 2021, ela fez o trajeto mais longo, de 800 km em 33 dias de caminhada. Na ocasião, uma fratura no pé não foi empecilho para concluir, pois a adrenalina funcionou quase como um analgésico para dor.

Foram mais de seis meses para se recuperar e, nesse período, avançou para a terceira peregrinação, de 129 km. E há menos de um mês, ela concluiu o quarto caminho, de 310 km. "O nível de dureza é maior, são subidas intermináveis. Forçou mais a parte pulmonar, mas foi fantástico."

E seguindo a paixão pela corrida, em março deste ano ela completou uma meia maratona —com o desejo de realizar outras.

Vivendo bem com câncer
Cláudia se considera uma pessoa otimista e acredita que a forma como lida com o câncer faz diferença no tratamento. "Estou bem acima da média de sobrevida e dos estudos clínicos da medicação que tomo. A participação do paciente também é muito importante."

Além de manter a prática de exercícios físicos, ela reforçou os cuidados com a alimentação, reduzindo o consumo de embutidos, por exemplo, e começou a fazer psicoterapia e meditação.

Ter tido hábitos saudáveis não me impediu de ter câncer, mas fizeram com que eu lidasse com o tratamento da forma mais saudável possível. Cláudia Lopes

De fato, o oncologista William diz que, por enquanto, não há comprovação de que bons hábitos de saúde previnam totalmente o câncer ou façam a doença progredir mais devagar. "Mas eles agem na saúde em geral das pessoas e fazem elas tolerar melhor o tratamento", afirma.

Numa condição melhor, há menos chance de efeito colateral e mais poder do corpo para combater infecções de maneira mais fácil. A única medida que comprovadamente ajuda é parar de fumar, mesmo depois de um câncer avançado.

Fonte: UOL Viva Bem

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