Como lidar com pacientes que escolheram não tratar um câncer?

O câncer é uma doença que causa medo e desesperança, principalmente por ser encarado como uma sentença de morte, o que não é verdade em boa parte dos casos tratados no Brasil. Mas diante de um diagnóstico da doença, alguns pacientes podem optar por não se submeterem à quimioterapia ou radioterapia, abrindo mão, assim, do tratamento disponibilizado. 

O dr. Bruno Santucci, diretor médico do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), explica o seguinte. “Não é o mais habitual, mas existe. Normalmente é aquele paciente que costuma vir forçado pela família e por mais que a gente explique as consequências dessa decisão e fale que muitas vezes os sintomas da progressão do tumor vão fazer ele sofrer mais, o paciente se mantém irredutível. E a gente tem que saber lidar com isso também, porque faz parte da clínica”. 

Por mais que a quimioterapia e a radioterapia sejam tratamentos que impactam diretamente a qualidade de vida do paciente, atualmente os efeitos colaterais são menos intensos quando comparados com 30 anos atrás. As medicações atuais para o controle de sintomas como enjoo, dor, mal-estar e insônia, quando bem administradas, são eficazes. 

Ainda assim, a palavra final é sempre do paciente. “As decisões são sempre compartilhadas entre médico e paciente. Mas é ele quem decide, no final das contas. A gente registra no obituário a decisão final, mas isso não quer dizer que vamos deixá-lo desamparado. Vamos dar o suporte e manejar os sintomas que certamente vão surgir”, reforça o dr. Santucci. 

Cuidados essenciais

Se de um lado temos um paciente que pode vir a recusar um tratamento medicamentoso antes mesmo de o processo ser iniciado, também pode ocorrer de o paciente tentar diversas linhas terapêuticas para eliminar o tumor, mas ainda assim, não ser bem-sucedido. 

“Há tumores que são mais desafiadores, principalmente de estágios avançados. Isso pode ocorrer, porque chega uma hora que as opções terapêuticas se esgotam e o tratamento oncológico não é mais suficiente. Mas ninguém dá susto no paciente, desde o início conversamos e explicamos as possibilidades”, complementa o diretor médico. 

Ainda assim, sempre é possível tentar um novo ciclo de quimioterapia ou radioterapia que não necessariamente irá prolongar a expectativa de vida do paciente. 

“Muitas vezes, é a família que acaba insistindo nesses casos específicos. O paciente, cansado, prefere somente cuidar dos sintomas e ter uma transição de vida para morte mais tranquila. Então, a gente tem que saber ouvir e respeitar a decisão do paciente, porque é ele quem está vivenciando tudo isso”, diz o médico. 

Nesses casos, os cuidados paliativos, ou cuidados essenciais, como bem coloca o dr. Bruno, ajudam no alívio dos sintomas e do sofrimento, para que o paciente ainda assim consiga ter qualidade de vida e evitar ser submetido a tratamentos que não surtirão efeito. 

Quando os sintomas de dor, estresse e ansiedade são bem manejados, o paciente muitas vezes consegue ficar em casa, sem a necessidade de internação. Mas é preciso muita transparência entre todas as partes envolvidas nessa etapa, para que essa janela não seja perdida e o paciente passe os últimos meses de vida em um hospital. 

Processo de luto

Independentemente das situações, durante um tratamento oncológico, o papel da psicologia é fundamental para que o paciente e familiares consigam lidar da melhor maneira possível com essas possibilidades. 

A psicóloga Raquel Franco, do IPC, explica que nessa etapa a ideia é focar em como o paciente e familiares próximos se sentiram no último mês, quais expectativas criaram e como se sentem diante da decisão de seguir somente com os cuidados paliativos.

“Em um próximo atendimento, seguimos na elaboração do testamento vital, da realização de novas escolhas: O que tem vontade de fazer? Quer passear? Quer viajar? Quer somente estar com as pessoas queridas? Quer passear com seu cachorro? Comer alimentos com temperos que lhe trazem boas memórias afetivas?”, explica ela.

Isso também ajuda na elaboração do processo de luto, que começa durante o tratamento oncológico. Em geral, há uma vivência de vários tipos de luto neste processo: pela mudança de rotina, perda de algumas potencialidades, mudança da imagem corporal e aproximação da finitude. 

“Nesse momento, muitas vezes, os pacientes já passaram da fase de negação, mas lidamos com a sensação de injustiça que alguns trazem, por considerarem que não mereciam vivenciar isso. Depois vem uma tristeza e uma angústia pelo vivenciado e, por fim, uma aceitação mais serena, quando consegue até mesmo organizar o que ficará”, explica Raquel. 

Em todos os atendimentos, mas principalmente nestes, a psicologia oferece uma escuta ativa de acolhimento para ajudar a traçar, junto com a família, estratégias para proporcionar bons momentos para o paciente.

Fonte: Drauzio Varella

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