Repórter da Band descobriu câncer aos 29 anos após refluxo: 'Medo da morte'

O repórter da Band Cesar Cavalcante, 29, descobriu um câncer no estômago no início deste ano após fazer exame para investigar o refluxo com o qual convivia há anos, mas aumentou após voltar de uma viagem. "A primeira coisa que passa pela cabeça da gente é 'eu vou morrer'", disse em entrevista a VivaBem.

O jornalista foi diagnosticado com um adenocarcinoma, o tumor no estômago mais comum. O câncer de Cesar era agressivo, mas foi descoberto ainda em fase inicial, o que melhorou o prognóstico.

O refluxo intenso foi o único alerta. Depois, porém, os médicos descartaram que o incômodo tinha relação com o câncer. "Sempre tive refluxo, que aumentava ou diminuía dependendo do que comia. Pensei em descobrir o que poderia fazer pra evitar, porque é algo que incomoda", conta Cesar. Ele passou em um gastroenterologista, que pediu a endoscopia.

Na hora de ver o resultado, lembra de estar mais apreensivo do que o normal. "Sempre tive muito medo de abrir exames, porque tenho medo de doenças. Mas, por alguma razão, estava ainda mais assustado com o que poderia vir desse exame", afirma.

Pediu ajuda da cunhada, que hesitou ao ler o laudo. "Ela não me dizia nada e falava que não entendia o que estava escrito. Comecei a ficar mais preocupado, fui tomar um banho pra acalmar, e ela ligou para uma médica."

"Enfim, não tinha muito o que fazer, não é? O nome estava lá, era um câncer. Foi desesperador para mim. A primeira coisa que passa pela cabeça da gente é 'eu vou morrer'. E precisava saber em quanto tempo isso ia acontecer", diz Cavalcante. 

'Doutor, só me diz uma coisa: eu vou sobreviver?'
Aflito, Cesar foi ao pronto-socorro com o namorado, Paulo, e um amigo. Queria um remédio para se acalmar. Ali mesmo, falou com os médicos sobre o diagnóstico e perguntou o que eles achavam. Fez mais exames no hospital, que não indicaram outros problemas de saúde, e voltou para casa. "Não sei nem como consegui dormir naquela noite."

O dia 20 de janeiro foi o pior da minha vida, em vários sentidos. Tive muito medo da morte e, principalmente, medo de estar morrendo. A gente sabe que vai morrer um dia, mas tinha medo desse processo começar ali. Era o que mais me deixava angustiado.

No dia seguinte, um sábado, ele conseguiu o contato de um gastroenterologista, que o atendeu por telefone. "Perguntei para ele: 'Doutor, só me diz uma coisa, vou sobreviver?'", lembra o repórter.

O jornalista também falou com um oncologista, que analisou a endoscopia à distância. "Ele conseguiu me atender no final de semana porque eu estava em desespero e daí me disse: 'Realmente, você está com câncer. Mas pelo que estou vendo aqui, o tumor é muito pequeno. Acredito que vai ser uma pedra no seu caminho, mas a gente tem chance de reverter isso'", conta.

Cesar também buscou uma psicóloga dias depois. Queria cuidar da mente para focar no tratamento, enquanto ainda lidava com o impacto de descobrir ter câncer. "Ela falou bastante comigo sobre eu manter objetivos na vida. Para não viver a doença, mas viver apesar da doença."

Como foi o tratamento
Cesar repetiu a endoscopia a pedido de seu oncologista, porque ele suspeitava de algum erro no diagnóstico. O câncer de estômago é mais comum após os 65 anos. Além disso, o jornalista tinha hábitos saudáveis: comia bem, se exercitava, nunca fumou e bebia raramente —rotina que adotou ainda na adolescência. Também frequentava uma clínica de nutrição, onde fazia análises de sangue regulares.

Mas uma nova bateria de exames confirmou o câncer. "Fiquei 2 meses em luto, negação, não aceitava aquilo e buscava algumas explicações. Estava angustiado e com muito, muito medo mesmo. Não gostava de ouvir probabilidades, então pedi pro meu médico não me falar isso, porque quando a gente está numa situação difícil, foca mais na probabilidade negativa", diz o jornalista.

Com os resultados, era a hora de planejar o tratamento. Cânceres no estômago são geralmente tratados com cirurgia e quimioterapia. Os médicos indicaram uma abordagem intensa, já que Cesar tinha bom histórico de saúde. Foram quatro ciclos de químio antes e depois da operação.

Na primeira fase, surgiram incômodos comuns: enjoos, diarreia, fraqueza e a perda de cabelo. Cesar teve ainda uma reação de grande sensibilidade ao frio e a coisas geladas, chamada neuropatia periférica temporária. "Quando estava num ambiente com ar-condicionado, as minhas mãos e os meus pés contraíam, aí não conseguia pegar no celular e escrever. Tinha que mandar áudio", explica.

Ele tirou o estômago contra o risco de o câncer voltar
Cesar seguiu trabalhando, com exceção das semanas em que fazia quimioterapia. Ele também se afastou por um mês para a cirurgia. A decisão do médico foi de retirar todo o estômago, para evitar o risco de um novo tumor.

Meu médico disse: 'Existe uma possibilidade de mesmo retirando a parte em que o tumor está, ele voltar pro estômago, por causa do seu tipo de câncer, que é agressivo. Felizmente diagnosticado em fase inicial, mas um tumor agressivo'.

A recuperação da retirada total do órgão leva de 6 meses a 1 ano, explica Héber Salvador, presidente da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica). "Quando removemos o estômago todo, fazemos conexão do intestino com esôfago. A pessoa não precisa mudar o que come, mas a quantidade é menor, porque não tem mais o reservatório [estômago] para receber o alimento", diz Salvador, que também é do A.C.Camargo Cancer Center (SP).

A alimentação é primeiro líquida, depois pastosa. A consistência vai aumentando até voltar aos padrões de antes, assim como a quantidade de alimento. Cesar teve boa recuperação após a cirurgia e está aprendendo aos poucos quais comidas são melhores e quais causam desconforto.

Remissão: 'A gente precisa falar sobre o câncer'
Desde o final de julho, Cesar está em remissão, quando nenhum exame detecta sinais de câncer. Agora, faz acompanhamentos periódicos.

Depois que peguei esse exame que mostrou que não havia pontos de tumor em nenhuma parte do corpo eu consegui dormir mais tranquilo pela primeira vez desde o começo do ano.

Junto à direção de jornalismo da Band, Cesar teve a ideia de trazer o seu relato em uma série especial para conscientizar sobre o câncer. "Eu quis fazer isso, porque acho que sou um exemplo de que a gente precisa se cuidar."

Mesmo assim, em um primeiro momento, o repórter hesitou. Temia reviver a angústia do diagnóstico e outros receios do tratamento. "Fiquei preocupado, mas na hora que comecei a fazer, percebi que conversar com as pessoas era como uma terapia para mim. Espero que a série atinja o maior número de pessoas. Que elas realmente vejam a importância de se cuidar e de se falar sobre câncer", diz.

Algo que acontece muito é o tabu. Tem gente que hoje, 2023, não fala a palavra câncer. Existe um estigma muito grande, mas a gente precisa falar sobre o câncer.

Sinais costumam ser silenciosos
Diagnosticar cânceres no estômago em estágios iniciais é raro, porque a doença costuma ser silenciosa, explica o cirurgião oncológico Héber Salvador.

O adenocarcinoma de estômago é assintomático em um primeiro momento, infelizmente. Só surgem sintomas quando ele interfere na digestão, ou já se espalhou para os outros órgãos. Héber Salvador, cirurgião oncológico e presidente da SBCO

Por isso, é necessário ter atenção aos sinais às vezes considerados "comuns" e que podem se confundir com outras doenças. "Dor de estômago quase sempre vai ser uma gastrite, mas tem alguns fatores que despertam atenção", alerta Salvador. São eles:

  • Dor que não melhora com a medicação, ou até melhora, mas sempre volta;
  • Dor aguda que desperta a pessoa durante o sono;
  • Dor associada à perda de peso;
  • Dificuldades de digestão.

A série "Câncer: virei paciente" foi ao ar na semana passada no Jornal da Band e no Bora Brasil.

Fonte: UOL Viva Bem

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