Achei que era gordura: é raro, mas homem também tem câncer de mama

Foto: Racool_studio no Freepik

Foi em uma consulta de rotina um ano após fazer a cirurgia bariátrica que Pedro Henrique Mascarenhas, 43, reclamou ao médico de um caroço na mama esquerda. "Eu sentia caroços dos dois lados do peito. De um lado sumiu, só que do outro lado ficou uma bola, parecendo um limão", lembra o administrador, que tinha 39 anos.

Seu cirurgião indicou ir a um mastologista, médico que cuida de alterações nas mamas. Pedro fez a consulta e os exames em dezembro de 2018.

Nesse momento, ele já sabia da suspeita de câncer de mama. Mas se mantinha tranquilo, porque os médicos disseram que 1% dos casos da doença atinge homens.

"Nunca doía. Como emagreci muito depois da cirurgia, ele apareceu. Se eu não tivesse feito bariátrica, não teria notado nunca. Achei que o caroço era gordura", relata Pedro. 

"Não tinha noção de que homem podia ter câncer de mama. Ia sair de férias no final do ano e um dos médicos disse que podia viajar tranquilo, curtir, porque os casos em homens eram raros", conta.

Pedro pegou os resultados em janeiro e descobriu ter um câncer de 5,4 centímetros na mama esquerda. A doença era de estágio 2, ainda inicial, em uma escala vai até 4 —o mais grave, quando há metástase (focos de câncer em outras partes do corpo).

"Não entendi o que estava escrito e fui pro médico, nem pesquisei na internet. Ele falou: 'É muito raro homem ter câncer de mama, mas pode acontecer'", conta.

Primeiro é um baque, a gente tenta demonstrar que é forte. Mas na hora que vai pro chuveiro, a gente desaba.

Pedro voltou para casa e contou para a família e os amigos sobre o diagnóstico. Teve outro baque ao pensar nos filhos, mas não quis esconder nada deles. Para o mais velho, Pietro, então com 10 anos, explicou ter uma doença "chata". "Falei que dava para tratar, mas que ia ficar careca, que poderia ficar mal, enjoado às vezes. Minha filha de 6 anos não entendeu muito", lembra.

Pedro conta que a fé foi essencial para lidar com a notícia de que tinha câncer. Também lembrou muito da avó materna, que o criou. "Eu sou menino criado com vó. A gente tinha muito bicho em casa e quando amanhecia com algum bicho morto, a minha avó falava: 'Isso é coisa ruim que vinha pros meus meninos, e deu no bicho'. No banho, veio a minha avó falando isso", diz.

Se veio em mim para não dar nos meus filhos, eu suporto. Botei isso na cabeça e foi a minha virada de chave. Isso fez muita diferença.

Tratamento depende do estágio do câncer

O tratamento do câncer de mama depende do estágio da doença. Quanto mais avançada, maior a necessidade de intervenções, explica o mastologista Renato Cagnacci Neto, coordenador da Comissão de Mama da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica).

Pedro fez um tratamento intenso: foram 16 quimioterapias, cirurgia e 25 sessões de radioterapia. A expectativa com a químio era reduzir o tumor. Deu certo: o caroço passou de 5,4 para 2 centímetros.

Depois, Pedro tirou toda a mama esquerda na cirurgia de mastectomia. Ele aproveitou para fazer a reconstrução estética junto ao procedimento. "Como emagreci bastante por causa da bariátrica e tinha pele da outra mama, o cirurgião plástico tirou de um lado e enxertou do outro. Tirou o mamilo, partiu em dois e colocou metade do meu lado esquerdo."

Após as radioterapias, ele recebeu a notícia da remissão, quando exames não detectam sinais de câncer no corpo. Hoje, além de fazer exames a cada seis meses, ele usa tamoxifeno, medicação oral que ajuda a prevenir voltas do câncer.

A gente muda totalmente o jeito de pensar a vida. Antes, eu pensava muito no trabalho para colocar coisas boas dentro de casa. Depois do câncer, penso em qualidade de vida e procuro estar mais com os meus filhos.

No ano passado, a mãe de Pedro descobriu ter um câncer de mama. Ele conta que os dois conversaram muito sobre as percepções da doença e do tratamento.

"Me preocupava muito com o cabelo dela cair, e ela falava para eu ficar tranquilo. Para ela, o baque foi fazer a mastectomia. Eu não tive ideia do impacto, porque retirar a mama não era nada para mim. Ela desabou, fomos atrás de psicólogo", conta. "Mas graças a Deus estamos saindo os dois juntos disso."

Câncer avançado após anos com caroço na mama: 'Sou o 1%'

O perito Marco Longhini, 58, descobriu um câncer de mama em estágio avançado em 2019. Ele conta que demorou "anos" para investigar um caroço na mama esquerda, pois achava não ser nada.

"Não tive nenhum sintoma, além de um caroço bem pequeno. Você acha que é glândula só", diz.

Até que um dia, depois do banho, Marco notou algo errado. "Senti uma diferença na mama esquerda, ela diminuiu. Tinha um buraco, como se tivesse ido pra dentro do peito", conta o perito, que então decidiu ir ao médico.

De cara, ele foi encaminhado a um hospital referência em câncer no interior de São Paulo e começou os exames para confirmar ou descartar a suspeita. "Quando fiz o ultrassom das mamas, o médico já me alertou e disse para eu buscar o resultado. Ele falou de um monte de gente fazia o exame, mas não voltava. Algumas até com cânceres avançados."

O resultado indicou que ele tinha um câncer de mama em estágio 3 —nesses casos, ainda não há metástase, mas a doença é avançada na região e exige tratamento agressivo.

"É um câncer curável, mas que está um pouco mais do estágio inicial que a gente gostaria para tratar. Ou já é um tumor um pouco maior, ou já tem gânglios comprometidos da axila", explica o mastologista Renato Cagnacci Neto.

Já tinha ouvido dizer que homem podia ter câncer de mama, mas não esperava que fosse acontecer comigo. Eu sou o 1%. A princípio, eu fiquei mal, você fala 'tô ferrado'. Marco Longhini

Marco fez primeiro a mastectomia da mama esquerda, que correu bem. Depois, teve indicação de seis quimioterapias. Diz que esse foi o momento mais desafiador do tratamento, porque passou muito mal a partir da segunda sessão.

Não teve orientação de fazer radioterapia e, em março do ano passado, soube que estava em remissão. "Foi a melhor notícia que poderia receber."

Hoje, Marco não tem problema em falar que tratou um câncer de mama. Inclusive, acha necessário conscientizar conhecidos sobre os sinais da doença e fica atento se há mudanças na mama direita. "Não tenho vergonha de ficar sem camisa, eu levo de boa, porque é uma doença, tirou e acabou."

Homem não tem costume de ficar se apertando na mama, mas é importante. Agora, dou uma cutucada do outro lado para ver se tem alguma bolinha.

Quais homens têm mais risco de ter câncer de mama?
Cânceres de mama masculinos são realmente raros. O principal sinal é o surgimento de caroços, daí a importância de buscar ajuda médica ao senti-los.

Ainda não há consenso sobre o rastreio em homens. A indicação é fazer consultas e exames periódicos caso existam os fatores de risco abaixo:

  • Extenso histórico familiar de câncer, seja em homens ou em mulheres;
  • Histórico de câncer na mama masculino na família;
  • Muitos casos de câncer de mama na família;
  • Casos de mutação genética, que predispõe ao câncer hereditário (sobretudo do gene BRCA).

Fonte: Uol Viva Bem

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