Quimioterapia pode 'acordar' células dormentes de câncer de mama, mostra estudo

Apesar de ser o tratamento primário para diversos tipos de câncer, alguns medicamentos utilizados na quimioterapia são capazes de "acordar" células tumorais dormentes e podem levar à recidiva do câncer em pacientes, de acordo com uma nova pesquisa.

A ação pela qual isso ocorre é a liberação de substâncias pró-inflamatórias pelas células adjacentes à área do tumor, como interleucinas (IL-6) e citocinas, que acabam provocando uma reação em cadeia e liberam as células cancerígenas dormentes. No estudo, foi avaliada uma classe de medicamentos quimioterápicos conhecida por taxanos, que age inibindo a divisão das células tumorais.

Assim, os pesquisadores afirmam que o tratamento com agentes anti-inflamatórios, como inibidores de interleucinas e citocinas, podem reduzir essa ação, impedindo a proliferação de novas células potencialmente tumorais. Os achados foram publicados nesta terça-feira (12) na revista especializada PLoS Biology.

Em geral, o paciente com câncer de mama, quando diagnosticado precocemente, consegue ser curado nos primeiros anos, mas a recorrência local (ou recidiva) pode ocorrer em aproximadamente 6,5% dos casos, principalmente nos cinco primeiros anos após o diagnóstico inicial, segundo dados de um estudo da UFG (Universidade Federal de Goiás).

Já a metástase, isto é, quando o câncer se espalha para outros órgãos, é mais frequente quando o diagnóstico de câncer é tardio (a partir do grau três de estadiamento) e pode surgir em 25% dos casos, de acordo com o mesmo levantamento.
Os taxanos mais utilizados no Brasil são o paclitaxel (comercializado pelo nome Taxol) e o docetaxel (vendido pelo nome Taxotere). Eles são indicados principalmente para câncer de mama e pulmão de células pequenas.

Para avaliar se o uso de taxanos pode afetar as células dormentes tumorais, os cientistas da Universidade de Emory fizeram experimentos in vitro, isto é, em organóides criados em laboratório a partir de células modificadas para simular um tumor, além de camundongos que apresentavam câncer de mama.

As linhagens de células estudadas continham células estromais, que são o tecido conjuntivo -a "rede" que mantém as outras células conectadas, composto de fibrócitos, fibroblastos e outras células do sistema imunológico.

Quando tratadas com o docetaxel, estas células passaram a liberar os agentes inflamatórios, em particular interleucina IL-6 e fator estimulador de granulócitos (G-CSF), que atua estimulando a medula óssea a produzir granulócitos e liberá-los na corrente sanguínea.

De maneira inversa, a liberação destes marcadores pró-inflamação conseguia reverter as células dormentes, agindo para "acordar" novas células tumorais por meio de um mecanismo de reparo das células danificadas.

"Descobrimos que o docetaxel provoca indiretamente o ‘despertar’ do câncer dormente ao danificar as células estromais, liberando citocinas, que por sua vez provocam a liberação das células cancerígenas dormentes por uma sinalização do mecanismo MEK/ERK", afirmou a pesquisadora Ramya Ganesan, da Escola de Medicina da Universidade Emory, primeira autora do estudo.

A tese de que os marcadores inflamatórios estariam associados à reversão do processo de dormência nas células cancerosas foi também comprovada nos modelos animais. Mas neles, diferentemente do organóide celular, foi possível também observar a resposta imune contra esses marcadores inflamatórios.

"No entanto, ao administrar um inibidor do MEK [anticorpo monoclonal selumetinib] juntamente com a quimioterapia, conseguimos impedir a liberação das células dormentes. Além disso, com base nos perfis imunológicos do nosso estudo, imaginamos que a combinação dos medicamentos [selumetinib + docetaxel] e a imunoterapia poderia produzir resultados positivos no tratamento do câncer", disse a cientista.

Segundo os autores, com esse conhecimento eles puderam agir para bloquear essa resposta imune que é capaz de acordar as células cancerígenas. "Agora, pesquisas futuras podem buscar essa terapia-alvo, com anticorpos que sejam capazes de neutralizar tanto a IL-6 quanto o G-CSF, ou ainda uma droga capaz de mediar essa sinalização molecular nas células adjacentes, inibindo que células dormentes sejam liberadas após a quimioterapia", diz o artigo.

"Essa é a esperança! Apesar dos efeitos indesejados da quimioterapia, ela ainda é utilizada amplamente para atacar as células cancerígenas. O uso do inibidor de MEK, que já é um medicamento clinicamente aprovado, juntamente com a quimioterapia taxano, melhoraria os efeitos fora do alvo. Pode-se dizer que este é um resultado de um ensaio pré-clínico com grande potencial para testes clínicos", explicou Ganesan.

Fonte: Estado de Minas

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