Desigualdade racial atrapalha o diagnóstico e o tratamento do câncer

A desigualdade racial impacta no diagnóstico, tratamento e na mortalidade por câncer, como apontam estudos realizados no Brasil e nos Estados Unidos.

As condições de saúde da população negra são impactadas por questões estruturais complexas, que vão além da renda dos indivíduos. Pesquisas mostram que as disparidades persistem mesmo quando variáveis socioeconômicas são consideradas.

Uma hipótese que explica essa situação é a de que o nível econômico de uma pessoa pode não refletir por completo as diferenças na exposição a fatores de risco ao longo da vida, devido ao contexto social e ao racismo estrutural.

Trata-se de um problema de saúde pública importante, que foi discutido no Congresso Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber, realizado recentemente em São Paulo.

Análise do Inca
Um estudo apresentado no congresso, conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) analisou o impacto da desigualdade nas ações de cuidado oncológico, principalmente na detecção precoce.

Os especialistas realizaram uma revisão de 13 artigos científicos, publicada na Revista Brasileira de Cancerologia.

Eles destacam que foram encontradas poucas pesquisas que abordem a acessibilidade da população negra às ações de prevenção e controle do câncer no país. Contudo, foi possível se desdobrar sobre trabalhos que consideram quatro tipos de tumor: mama, colo do útero, próstata e cavidade oral.

No caso do câncer de próstata, por exemplo, dois estudos avaliados identificaram que os negros apresentavam quadros mais avançados no momento do início do tratamento, o que pode resultar em um pior prognóstico.

“Independentemente do tipo de câncer, é inegável a dificuldade do paciente negro em acessar cuidados oncológicos por razões de natureza social e econômica”, destacam os autores no artigo.

Câncer de mama
No evento, também foi apresentada uma pesquisa de especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O estudo investigou a disparidade racial na sobrevivência específica por câncer de mama invasivo em 10 anos. Ao todo, foram avaliadas 481 pacientes.

O prognóstico foi pior para mulheres negras e moradoras de localidades com menor renda média. Elas também tiveram maior proporção de fases avançadas da doença, o que reduz as chances de sucesso no tratamento.

“Esse cenário pode ser atribuído a vários fatores, como o diagnóstico tardio. As mulheres negras demoram mais para fazer a detecção, têm menos acesso à mamografia, ao ultrassom e exames preventivos. Além de terem mais dificuldade no acesso a fatores que previnem o câncer, como alimentação saudável e atividade física”, diz a médica oncologista Abna Vieira, da Oncoclínicas.

Os achados foram publicados no periódico Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No artigo, os pesquisadores destacam a necessidade de ampliar a cobertura e a qualidade do programa de rastreamento e facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento precoces, tendo em mente a redução da iniquidade racial.

Nos Estados Unidos, a incidência da doença entre mulheres negras e brancas é aproximada. No entanto, as taxas de mortalidade são 40% mais altas para as negras, de acordo com a American Cancer Society (ACS).

Entre as pacientes com menos de 50 anos, que costumam apresentar tumores agressivos, a disparidade é ainda maior, chegando ao dobro da letalidade entre as etnias. No Brasil, faltam dados robustos sobre o assunto.

A Fundação de Pesquisa do Câncer de Mama (BCRF, em inglês) destaca que o fenômeno é complexo e multifatorial.

De acordo com a instituição, as mulheres negras são estatisticamente mais propensas a ter diabetes, doenças cardíacas e obesidade, além de amamentar menos após o parto nos Estados Unidos — fatores de risco conhecidos para o câncer de mama.

O acesso aos cuidados pela população negra também é dificultado por conta do mercado da saúde nos EUA, que não conta com um sistema de saúde público universal. Vale destacar, contudo, que problemas do tipo também existem no Brasil, que tem o SUS.

As questões socioeconômicas se somam a fatores biológicos no contexto da mortalidade.

Pesquisas apontam que mulheres negras são desproporcionalmente afetadas por subtipos mais agressivos, como o câncer de mama triplo-negativo e o inflamatório. Elas têm também maior probabilidade de serem diagnosticadas em idades mais jovens.

Ausência de tratamento: o caso do câncer de cabeça e pescoço
O câncer de cabeça e pescoço engloba uma série de tumores que podem aparecer na boca, faringe, laringe, nariz, seios nasais, nasofaringe, pescoço e tireoide. Entre os fatores de risco mais comuns estão o tabagismo, consumo de álcool e infecção pelo HPV.

Em média, mais de 75% dos casos são diagnosticados em estágio avançado, o que dificulta o tratamento e eleva a mortalidade.

“Para diagnosticar a doença em estágio inicial, a informação e a realização de exames é fundamental. Dentre os sintomas de alerta, estão dores na garganta, voz prejudicada e feridas ou nódulos na região que não cicatrizam”, diz Beatriz Godoi Cavalheiro, cirurgiã de cabeça e pescoço no IBCC Oncologia, em São Paulo.

Além da detecção tardia, o acesso às terapias é outro desafio. Aí esbarra-se, de novo, na iniquidade racial, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

A pesquisa incluiu mais de 6,4 mil pacientes que deixaram de ser tratados. Em média, eles morreram dentro de um ano. Os resultados foram publicados no periódico científico Head & Neck.

No recorte da análise, os especialistas identificaram como fatores mais associados à ausência de terapia fatores ser negro, ter idade avançada, ser solteiro e não ter um seguro saúde privado.

Fonte: Veja Saúde

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