Outro olhar para o câncer de mama
Ninguém melhor que a paciente para expor e descrever os desafios evidentes e ocultos que permeiam o tratamento de uma doença.
De acordo com essa premissa, VEJA SAÚDE realizou, com o apoio da Roche e a participação da Femama e do Instituto Oncoguia, um estudo para entender os principais gargalos nos cuidados desde a detecção até o combate ao principal tipo de tumor diagnosticado em mulheres no país (quando se excluem os casos de lesão maligna na pele).
Feita por meio de questionários online, a pesquisa Um Olhar sobre o Câncer de Mama no Brasil contou com 1 237 respondentes que encaram ou encararam a doença.
E apresenta um panorama robusto sobre as lacunas na assistência e as repercussões do tratamento para quem vivencia o problema, mesmo com os avanços da medicina.
A voz das pacientes
De saída, um dado sobressai: um terço das mulheres ouvidas não costumava fazer mamografia, principal exame para rastreamento do tumor, na rotina, sendo que quase 20% relataram que nunca sequer ela havia sido solicitada.
Um buraco que ameaça um dos preceitos básicos para um tratamento mais assertivo e curativo, o diagnóstico precoce. “Isso é preocupante inclusive em termos de saúde pública se levarmos em conta que uma em cada oito mulheres terá câncer de mama”, analisa a oncologista Marina Sahade, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Outro achado despertou a atenção de Luciana Holtz, presidente do Oncoguia: um quarto das pacientes foi diagnosticado com menos de 40 anos. Soma-se a isso o fato de que quase 40% da amostra não teve nenhum sintoma perceptível.
“Por isso é importante alertá-las sobre a necessidade de buscar avaliação médica e ter em mente que só fazer o autoexame e não sentir nada não afasta o risco”, diz Marina. Especialmente se houver história da enfermidade na família, o acompanhamento deve começar mais cedo.
Mesmo ciente do diagnóstico, um terço das entrevistadas não sabe qual seu subtipo de tumor, informação que auxilia no entendimento do prognóstico e é obtida por meio de teste imuno-histoquímico. “Ele fornece elementos importantes para a escolha de terapias específicas, melhorando as chances de sucesso e a qualidade de vida das pacientes”, observa Clarissa Medeiros, gerente médica da Roche Farma Brasil.
Ocorre que nem sempre o exame é acessível pelo país, com frequentes relatos na demora para conseguir a análise e os resultados. “O ideal seria que ele fosse realizado junto com a biópsia para não atrasar o início do tratamento”, argumenta Marina. “É fundamental que a paciente conheça seu tipo de tumor e saiba com o médico tudo que pode ser feito naquele contexto.”
Da descoberta ao início do tratamento
Rapidez no diagnóstico e agilidade para iniciar o tratamento são pontos-chave na vitória sobre a doença. E, tendo essa meta em mente, a sondagem aponta uma desigualdade entre as pacientes que usam a rede pública e a privada.
Dentro do grupo que tem acesso a convênios, 88% começaram a se tratar até 60 dias após a confirmação da doença — que é, aliás, o prazo máximo estabelecido por lei.
Entre as que dependem do SUS, no entanto, quase 30% tiveram que esperar além desse tempo, demora que chegou a se estender por mais de seis meses em alguns casos.
Vencida essa barreira, as mulheres deparam com a complexidade de toda uma jornada de tratamento, na maior parte das vezes composta de pelo menos três tipos de abordagem (cirurgia, quimio, radioterapia…).
Não por acaso, 71% apontam dificuldades com o uso de medicamentos, com destaque para os efeitos colaterais – tópico mencionado por 57% delas. “Mas, com a paciente envolvida nas decisões, informando suas queixas, é possível ajustar doses ou mudar medicações, de forma a tornar o tratamento mais tolerável”, observa a mastologista Maira Caleffi, presidente da Femama.
“A tendência hoje é poder minimizar os problemas com uma medicina personalizada e a participação de uma equipe multidisciplinar, com nutricionista, psicólogo e demais profissionais voltados a cuidar de cada situação desencadeada no decorrer do processo”, diz a médica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Só que, como mostra a pesquisa, sobretudo quem depende do SUS tende a sofrer para ter esse suporte ideal, capaz de minimizar eventos adversos e facilitar o plano terapêutico.
Um exemplo: entre as mulheres que precisam submeter-se a químio por infusão, costuma ser uma chateação ter de refazer o acesso à veia toda vez que se realiza a aplicação do medicamento. Mas hoje existe um dispositivo chamado port-a-catch.
Ele é implantado sob a pele e permanece até o fim do tratamento sem a necessidade de picadas recorrentes. Contudo, só 10% das mulheres atendidas no SUS tiveram a possibilidade de utilizá-lo.
A boa notícia é que, aos poucos, novos medicamentos têm surgido e chegado às pacientes, podendo fazer a diferença em tipos e estágios distintos do câncer, oferecendo menos toxicidade e levando a uma menor necessidade de ter de combinar vários fármacos.
Veja o caso do câncer de mama HER2-positivo, versão prevalente normalmente combatida com quimioterapia associada a terapia-alvo. “Em estudo recente, viu-se que, em um terço das pacientes, a doença foi controlada apenas com terapia-alvo, abrindo a perspectiva de evitar algo desgastante e com a mesma chance de cura”, comenta Marina.
Apesar de inúmeros obstáculos, a pesquisa captou sentimentos positivos ao longo da trajetória frente à doença.
Se o início está associado à palavra “medo” (citada por quase 60%), com o decorrer do tratamento ganham força expressões como “fé”, “vontade de vencer” e “confiança”.
A maioria, diga-se, afirma cuidar da espiritualidade e classifica esse pilar como muito significativo para o equilíbrio emocional. Até porque não são poucas as barreiras elencadas pelas participantes quando perguntadas sobre o impacto do tratamento em diferentes aspectos da vida.
Impactos do câncer no dia a dia
No quesito mobilidade, por exemplo, três em cada dez relatam demorar pelo menos duas horas nas idas e vindas aos centros de saúde. Uma parcela expressiva de quem usa o SUS precisa inclusive viajar para outra cidade para poder se tratar.
Embora a maioria use carro próprio, táxi ou aplicativo, pelo menos 18% de toda a amostra pega ônibus e 10% recorrem ao transporte da prefeitura. “O tempo de espera pelo atendimento depois de chegar ao hospital também pesa. São horas às vezes sem comer, tornando o dia ainda mais exaustivo”, nota Marina.
Não é de estranhar que 35% afirmem que gostariam de dedicar menos tempo ao tratamento, considerando deslocamento e aplicação. Além disso, 77% afirmam que o tempo gasto afeta diretamente sua qualidade de vida em diferentes níveis.
Falta de informação e de acolhimento são outros desafios mapeados.
Para muitas, não há clareza no detalhamento sobre a doença em consultório, levando 89% delas a buscar respostas no Google ou em sites de saúde.
Sem contar que um tema como a importância de ter uma rede de apoio foi abordado só por 24% dos profissionais — e a indicação de associações de pacientes, feita apenas por 15%. “Costumo dizer que essas organizações deveriam entrar nas prescrições médicas, ocupar um espaço quase como se fosse um membro da equipe multidisciplinar”, pontua Luciana Holtz. “Por meio delas as pacientes obtêm informações que vão além das questões hospitalares, como direitos, relações no trabalho e impactos financeiros”, ressalta.
Esse último aspecto, destacado pela líder do Oncoguia, saltou aos olhos no estudo: para 44%, a doença comprometeu a renda familiar.
Mais de 30% tiveram que parar de trabalhar por determinado período, e, entre usuárias do SUS, 28% não conseguiram retomar a carreira. “O ponto central da pesquisa é que ela mostra a necessidade de considerarmos não só o diagnóstico e as terapias em si se quisermos melhorar a realidade de quem trata o câncer de mama no Brasil. É preciso analisar e achar respostas para todas as dificuldades envolvidas”, conclui Luciana.
A hora certa do rastreio
Detectar o câncer no início aumenta (e muito!) a chance de cura, o que só reforça a importância de flagrar alterações por meio de exames quanto antes.
Pelas recomendações do Ministério da Saúde, a mamografia deve ser bianual a partir dos 50 anos.
Sociedades médicas do país, entretanto, orientam a checagem antes. “Mesmo a mulher assintomática e sem história familiar de câncer tem que começar a fazer mamografia aos 40 anos”, afirma a oncologista Marina Sahade.
Entre as mais jovens — para as quais o exame ainda não é indicado, porque a mama é mais densa e fica difícil enxergar anormalidades —, a avaliação individualizada não deve deixar de ser feita. “Se for o caso, pode-se solicitar ultrassom e até ressonância”, diz a médica.
Conhecer para tratar
Uma vez identificado o nódulo, a mamografia é complementada por biópsia para checar se o material contém células malignas. “E ela tem que ser acompanhada de uma análise imuno-histoquímica, que identifica o subtipo do tumor”, observa Marina.
Também são necessárias avaliações por imagem para saber a extensão do câncer. Tudo isso compõe o chamado estadiamento.
Na era de terapias cada vez mais personalizadas, testes moleculares focados no tumor permitem refinar a decisão do que será usado — químio, terapia-alvo, hormonio-terapia… “Os exames ajudam a ver se a pessoa responde a determinada abordagem e se há benefício em introduzir uma droga específica”, resume a oncologista.
Fonte: Veja Saúde
- INCA divulga pesquisa inédita sobre o panorama do câncer de cabeça e pescoço no Brasil
- Vacina contra Covid reduz risco cardiovascular em pacientes com câncer, diz pesquisa
- Corrida pela vacina da Covid-19 avançou tratamento de doenças como o câncer
- Pacientes com câncer podem ter isenção de IPI na compra de carros novos
- Uma em quatro mulheres com câncer de pulmão nunca fumou; qual a explicação?
- Câncer colorretal: sintomas, fatores de risco e opções de tratamento
- Exercício diminui risco de morte em pessoas com câncer
- Confira quais são os tipos de cânceres que mais ameaçam a saúde feminina
- Estudo revela possível estratégia para combater câncer cerebral agressivo
- Projeto isenta de IPI carro comprado por quem tem câncer
- Casos de câncer de mama devem disparar
- Cooperação entre células cancerígenas pode levar a crescimento rápido de tumor, sugere pesquisa
- Câncer de colo do útero: com 7 mil mortes evitáveis, Brasil se atrasa para cumprir meta da OMS
- Maioria das brasileiras não sabe como prevenir o câncer de intestino, o segundo mais comum entre as mulheres
- Com alta de casos, câncer anal pode ser evitado (inclusive com vacina)
- 7 a cada 10 brasileiros em tratamento oncológico sofrem com sintomas dermatológicos
- O papel da quimioterapia e da imunoterapia no tratamento do câncer de bexiga
- Câmara aprova projeto que prioriza pessoas com câncer na marcação de consultas e exames
- Casos de câncer de mama devem subir 38% e mortes 68% até 2050
- Maior parte dos novos casos de câncer em 2025 deve acometer mulheres
- Vacina do HPV zerou casos de câncer de colo de útero na Escócia, mostra estudo
- Mastectomia preventiva reduz risco de câncer de mama, mas não elimina chances da doença, diz especialista. Entenda
- Exames de prevenção do câncer do intestino têm de começar aos 45 anos
- Por que casos de câncer em jovens adultos estão aumentando?
- Conscientização sobre câncer de próstata pode chegar a estádios, bares e academias
- Paciente tem remissão de câncer por 18 anos com terapia CAR-T
- Comissão debate oferta de terapia nutricional para pacientes com câncer
- Entenda como o consumo de ultraprocessados pode aumentar risco de câncer
- Por que os casos de câncer de pulmão em não fumantes estão aumentando?
- Retorno ao trabalho após tratamento do câncer: desafios, adaptações e direitos
- A cada minuto, 40 pessoas são diagnosticadas com câncer no mundo
- Câncer de Pele e o Trabalho Exposto Ao Sol
- Compras centralizadas na oncologia devem crescer, diz secretário do Ministério da Saúde
- ANS abre consulta pública sobre cobertura de medicamento para câncer
- Ministério da Saúde publica regulamentação da Política Nacional do Câncer
- Oncologistas defendem não usar palavra câncer para certos tipos da doença em fase inicial
- O que a sua cintura pode dizer sobre o risco de câncer
- No Brasil, crianças indígenas morrem mais de câncer do que brancas, negras e amarelas
- A cada minuto, 40 pessoas são diagnosticadas com câncer no mundo
- Comissão debate a regulamentação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer
- Novo teste melhora a previsão de sobrevida do câncer de pulmão em estágio inicial
- Periodicidade de mamografias divide médicos e autoridades de saúde
- Vencer o câncer e seus tabus é um desafio para a sociedade brasileira
- Em 1 década, câncer de pênis levou a quase 600 amputações anuais no Brasil
- Alimentação pode ajudar pacientes a lidar com efeitos do tratamento de câncer; veja dicas
- Personalização no combate ao câncer de pulmão: o papel dos biomarcadores
- Os tratamentos ultrarrápidos contra o câncer que podem substituir a radioterapia no futuro
- Baseado em fatos “Câncer com Ascendente em Virgem” ganha trailer oficial
- Preta Gil passa a usar bolsa de colostomia definitiva em meio a tratamento contra câncer: Um desafio muito maior
- Câncer de cabeça e pescoço tem maioria de casos avançados no país
- Oncologistas franceses alertam para alta de casos de câncer em jovens adultos: é uma corrida contra o tempo
- Nova abordagem terapêutica poderia impedir metástase do câncer no cérebro
- Consulta da ANS sobre câncer oportuniza revisão de políticas de saúde
- Câncer com Ascendente em Virgem: filme com Suzana Pires e Marieta Severo ganha trailer e data de estreia
- Técnica de congelamento do câncer na mama mostra 100% de eficácia em estudo brasileiro
- INCA defende criação de política nacional para ampliar acesso à atividade física no SUS e fortalecer combate ao câncer
- Taxas de câncer de mama aumentam entre mulheres mais jovens
- Remissão ou cura? Como saber se um paciente está livre do câncer
- INCA prevê 600 mil novos casos de câncer no Brasil em 2025
- Câncer no intestino está aumentando em pessoas com menos de 50 anos. Saiba o que explica essa tendência
- Açúcar adicionado e sal aumentam risco de câncer de estômago, diz estudo
- IA avança no diagnóstico de câncer, mas desafios ainda persistem
- Câncer de pele: saiba qual é o sintoma pouco conhecido de uma das formas mais sérias da condição
- Exercícios físicos ajudam a prevenir, tratar e se recuperar de câncer
- Diagnóstico tardio torna câncer que matou Léo Batista um dos mais mortais
- EUA observam aumento ‘preocupante’ de câncer em pessoas mais jovens, especialmente entre as mulheres
- Os 6 tipos de câncer mais letais e quais os sintomas para se estar atento
- Câncer de intestino em alta entre as pessoas com menos de 50 anos; veja o que explica a tendência
- Saiba o que é câncer em remissão, como no caso de Kate Middleton
- Câncer de pulmão: I.A e outras terapias podem revolucionar tratamento da doença; entenda
- Vacinas contra o câncer tornam tratamentos mais precisos e eficazes
- Exercício regular pode reduzir evolução do câncer e risco de morte, diz estudo
- Câncer de mama: novo protocolo padroniza diagnóstico e tratamento no SUS
- Estudo mostra por que metástase de câncer ocorre com frequência no pulmão
- Mais de 32,5 milhões de brasileiros terão gestores comprometidos com o combate ao câncer
- Vacina e diagnóstico precoce são armas contra câncer de colo de útero
- Comissão aprova prioridade em teleconsultas para paciente com câncer em caso de atraso na consulta presencial
- O guerreiro tem direito ao seu descanso: a decisão de Mujica de não tratar câncer após metástase
- Sua dieta está matando seu DNA? Cientistas descobrem bomba-relógio do câncer de fígado
- Medicina de precisão: o novo capítulo no tratamento oncológico
- Células CAR-T e além: avanços e desafios futuros
- Casos de câncer de mama são encontrados em maior quantidade quando IA é usada em exame, indica estudo
- O tempo pode salvar vidas
- EUA: bebidas alcoólicas podem ter rótulo com alerta de risco de câncer
- Câncer de colo de útero está com os dias contados
- O futuro do tratamento do câncer passa pela terapia CAR-T
- Terapias alternativas contra câncer funcionam?
- Entenda as novas regras dos planos de saúde para alterações em rede hospitalar
- Câncer: estudo revela aumento de casos em pessoas com menos de 50 anos
- Ultraprocessados ricos em óleo podem ser uma das causas da epidemia de câncer colorretal em jovens
- Obesidade e câncer, como desfazer esta ligação perigosa
- Câncer de mama: fase do ciclo menstrual pode influenciar eficiência do tratamento
- Câncer: Anvisa aprova avanço de testes com terapia revolucionária desenvolvida pelo Hemocentro de Riberião Preto com o Butantan
- Jovem que teve câncer de intestino lista os 6 sinais que ele ignorou
- Por que câncer pode se tornar a doença que mais mata no Brasil - e que desafios isso traz
- Inovações tecnológicas e novo protocolo de tratamento reforçam o combate ao câncer
- Médicos de família podem ser aliados no tratamento do câncer, dizem especialistas
- Câncer de pulmão: novo tratamento reduz em 27% risco de morte
- Grupo da USP mapeia variantes genéticas associadas ao câncer de pâncreas em pacientes brasileiros
- Política nacional para rastrear câncer de pulmão pode salvar vidas