Câncer e consumo: iniciativas criativas suprem demanda que o mercado não vê
Imagine a sensação de se olhar no espelho e não se reconhecer. Essa situação é relatada por diversas pessoas que estão em tratamento contra um câncer. Como se não bastassem todos os efeitos físicos provocados pela doença, a mudança na aparência - seja pela queda de cabelo durante a quimioterapia ou mesmo o emagrecimento, consequência comum do tratamento - é um dos pontos que pode afetar profundamente a autoestima de uma pessoa que está enfrentando um câncer.
Nesse contexto, pessoas com a doença tentam buscar meios para melhorar o próprio bem-estar e a autoestima. E uma das formas de fazer isso muitas vezes está em soluções simples, como um produto ou um serviço, que vão além do valor mercadológico e se tornam aliadas no dia a dia. Encontrar essas soluções, no entanto, pode ser um desafio, pois nem sempre estão acessíveis ou têm divulgação. Mas existem boas iniciativas que conectam os pacientes oncológicos a esses recursos e que podem ajudar - e muito! - no enfrentamento da doença.
Tudo em um só lugar
Uma dessas iniciativas é a Oncoshop, uma loja (física e online) que reúne em um só lugar diversas soluções e produtos voltados para esse nicho. A ideia surgiu após a advogada Marilda Silveira, 43 anos, enfrentar um câncer de mama, em 2017, e ter dificuldade para encontrar produtos que a ajudassem no dia a dia. “É muito difícil encontrar coisas que não sejam para o tratamento. E quem está tratando não tem muita energia para ficar procurando na internet um item que te atenda”, diz.
Diante dessa percepção, em 2019, Marilda e a irmã, Eveline Silveira, criaram o site pensando em facilitar o acesso das pessoas aos produtos. E por lá tem de tudo: itens de beleza, como sobrancelhas em tatuagem; produtos para o bem-estar, como cremes para o corpo; próteses de silicone e espuma para os seios; fitoterápicos e óleos essenciais; acessórios, como lenços e turbantes; e roupas. “A gente percebeu que, se nós olhássemos para as coisas com olhar de quem precisa usar, a gente conseguiria ajudar. Então, fizemos uma curadoria para ressignificar essa busca e facilitar o acesso”, conta.
E a primeira coisa que Marilda e a irmã fizeram foi ir às ruas buscar produtos que poderiam ser úteis na caminhada de uma pessoa em tratamento. “Quando eu estava em tratamento, eu usava lenço, mas ele escorregava. Então, na hora de buscar produtos para a loja, a gente foi atrás de alternativas. A gente entrou, por exemplo, em lojas de artigos para mulçumanos que tinham uma variedade legal de lenços”, conta. “Começamos com poucas coisas, e com o tempo descobrimos um mercado amplo, descobrimos até cosméticos exclusivos para quem está com câncer.”
O site de Marilda atende a uma demanda de mercado ainda pouco explorada. “As pessoas não sabem onde encontrar os produtos e também não sabem o que resolve o problema que elas têm”, opina. Na visão de Marilda, isso acontece muito porque o câncer é visto apenas do ponto de vista da doença e não do paciente. “De um modo geral, existe uma cultura de tratamento que não envolve autoestima. Se você sobreviver, dê-se por satisfeita. Se não der para substituir os seios, pelo menos está viva. Eu acho que a vida é para ser vivida, a vida continua enquanto você está tratando um câncer”, opina.
TikTok como ferramenta de informação
E quem está vivendo a vida, na medida do possível, enquanto trata um câncer é Carolina Taouil, de 29 anos. Embora seja jovem, Carolina descobriu um tumor maligno no seio direito no fim do ano passado (ela já havia retirado um tumor benigno anos atrás). Em tratamento com a radioterapia atualmente, a profissional de marketing passou ainda por cirurgia e quimioterapia, que culminou na queda de cabelos.
Diante dos desafios da doença, Carolina transformou suas redes sociais em ferramenta para compartilhar informações, depoimentos e dicas sobre o dia a dia durante o tratamento. Ela tem 15,7 mil seguidores e mais de 173 mil curtidas na conta do TikTok. Por lá, seu vídeo mais assistido e viralizado na plataforma mostra a rotina na quimioterapia e tem mais de 1,7 milhões de visualizações.
“Uma coisa que sempre ficou clara pra mim foi: eu não posso esconder de ninguém, porque eu sou jovem, eu tenho uma vida social muito ativa e eu não posso e nem quero deixar de viver minha vida por conta desse diagnóstico”, relata Carolina. “Sempre fui muito vaidosa, então para mim isso (ficar careca) foi uma parte difícil, mas pensei: eu tenho que encontrar soluções que me façam me sentir bem durante esse período.”
Carolina foi, então, em busca de produtos que a ajudassem nessa questão. O primeiro passo, após raspar a cabeça, foi procurar uma alternativa. E a dica veio do cabeleireiro, que indicou um local para comprar uma lace (tipo de peruca que imita o couro cabeludo). “Eu optei pela lace e não pela peruca porque a lace fica mais natural”, comenta.
Nesse processo, o primeiro vídeo que ela publicou no TikTok foi sobre a lace. “Logo no começo, eu postei sobre a lace e uma menina com alopecia (doença que provoca queda de cabelo) veio comentar: ‘nossa Carol, eu me identifiquei muito, o seu post me fez perceber que eu não estou sozinha’, e isso me deixou muito feliz”, conta. A partir daquele momento, Carolina entendeu que aquele lugar tinha potencial para ser um ambiente de disseminação de informações. “O motivo pode ser diferente, mas a dor, no fim do dia, é a mesma”, pontua.
Hoje, Carol enxerga o espaço como uma forma de “furar a bolha” e atingir pessoas de diversas maneiras. Ela acredita que o investimento das empresas em soluções e produtos para esse nicho pode ser muito útil para quem está em tratamento. “Só quem passou por isso sabe o que é se olhar no espelho e não se reconhecer. Então, eu acho que quanto mais recursos a gente tiver ao nosso alcance, melhor”, crava.
Tatuagens de sobrancelhas
Por falar em recursos, foi no TikTok que Carolina descobriu as tatuagens de sobrancelhas, que ficam idênticas a uma sobrancelha natural. O produto funciona de forma muito parecida com aquelas tatuagens que vêm nos chicletes e são ativadas com água. Carolina comprou o produto pela internet, testou e usou o TikTok para mostrar para seus seguidores como funcionava. O vídeo de Carolina mostrando como trocar a tatuagem de sobrancelha tem mais de 65 mil visualizações.
Carolina conta que viu na tatuagem uma alternativa legal e indolor para ter uma sobrancelha próxima à natural. “Às vezes, as pessoas perguntam ‘por que você não faz micropigmentação?’ Eu não posso, estou no meio do tratamento”, diz. Na internet, as cartelas de tatuagem de sobrancelhas são encontradas com valores entre R$ 10 e R$ 30, com cerca de dez pares.
Doação de tatuagens
Por ser indolor e prática, a tatuagem de sobrancelhas faz parte do projeto do Instituto Living Sculpture, de Santa Catarina. No ano passado, a associação sem fins lucrativos doou mais de 60 mil cartelas de tatuagens de sobrancelhas e aréolas (bico do seio) a pacientes oncológicos em diversos estados brasileiros. Lu Rodrigues, fundadora do instituto, teve a ideia de fazer doação de sobrancelhas em tatuagem no meio da pandemia. Ela é proprietária da Lu Make Up, que, há 15 anos, trabalha com micropigmentação de sobrancelhas e reconstrução de aréolas mamárias.
“Eu criei os adesivos pensando nas crianças com câncer e alopecia, porque é uma forma indolor e fácil de aplicar. Elas ficam um ano e meio sem cabelo, diferente do adulto, que fica seis meses”, conta. Lu lembra que chegou até a comprar, para adultos, a sobrancelha vendida pela internet, porém, não gostou do resultado. “Parecia plástico, não ficou bom”, lembra. A solução foi mandar fazer em um fornecedor próprio, que entrega um produto muito mais próximo da sobrancelha natural.
Hoje, grande parte do trabalho de Lu é devolver autoestima aos pacientes por meio dessas soluções. O adesivo mais procurado é o de aréola, que, segundo ela, ajuda em um problema muito mais profundo: a ausência do bico do peito após cirurgia de mastectomia. “Muita mulher não se olha no espelho, não gosta de comprar roupa, não gosta de tirar o sutiã perto de alguém, tem mulher que depois de anos nunca mostrou o seio para o próprio marido”, relata. “Às vezes, a paciente não pode fazer micropigmentação para reconstruir o bico do peito e tem a opção de colar o adesivo”, conta.
Micropigmentação
A micropigmentação, trabalho feito na Lu Make Up, é um procedimento estético muito usado para redesenhar as sobrancelhas e também as aréolas. Ele funciona como uma tatuagem, com microagulha e tinta própria. Para pacientes oncológicos, o procedimento só pode ser feito em momento adequado. A professora Jussara Amaral de Oliveira Marchiori, 50 anos, conhecida como Sarah, é uma das pessoas que passou pelo procedimento de reconstrução de aréola por meio da micropigmentação.
Ela descobriu o câncer em 2017 e precisou passar pela mastectomia para retirada do seio direito. Em 2019, ela colocou silicone e fez o procedimento de micropigmentação na unidade da Lu Make Up em BH, em 2021. “Foi maravilhoso! Porque eu olhava no espelho e via assim: um seio tinha aréola, o outro não. Aí, você fica sentindo que tem algo errado. Depois que fiz, foi ótimo, ficou bonito, não tive vergonha de mostrar o seio, as pessoas perguntavam, eu mostrava, foi muito bom”, comenta.
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- Um estudo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia mostra que ao menos 1 a cada 4 pacientes com câncer apresenta ansiedade e 3 em cada 10 podem ter depressão - distúrbio mais comum em mulheres
- Alopecia ou calvície é a ausência, rarefação (os fios se tornam menos numerosos) ou queda, transitória ou definitiva, dos cabelos ou dos pelos, podendo ocorrer de forma local, regional ou total.
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