[Câncer de Mama] Michele Ramalho Matta Vieira

Aprendendo com Você
Michele Ramalho Matta Vieira
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Michele - Tenho 36 anos, sou servidora pública readaptada, meu cargo é secretária de escola, mas agora trabalho em uma Biblioteca escolar Digital, estou amando. Sou casada há 12 anos e temos gêmeos de 9 anos de idade. Moro em Limeira, SP.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Michele - Quando fiz uma cirurgia para retirar um pequeno nódulo da mama esquerda em julho de 2011.
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Michele - Em 2011, morava em Pirassununga-SP, estava tendo muito escape de menstruação durante o ciclo menstrual, mesmo tomando anticoncepcional. Por conta própria, fui até uma farmácia e troquei meu anticoncepcional por um mais forte. Cerca de uma semana depois, durante o banho e o habitual autoexame das mamas, percebi um caroço na mama esquerda, parte superior. Era um final de semana, então na segunda-feira marquei ginecologista, que solicitou mamografia e ultrassonografia. Realizei na mesma semana os dois exames. Na mamografia não apareceu nada, mas no ultrassom apareceu o nódulo que senti e mais dois.
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Michele - Retornando à gineco na semana seguinte, ela solicitou uma punção por agulha fina. Fiz na semana seguinte e o resultado foi benigno. Meu marido e eu passamos em um concurso público na cidade de Limeira-SP em abril de 2011. Nos mudamos, começamos a trabalhar... Mas o nódulo continuava a crescer. Marquei um mastologista e em julho de 2011 retirei o nódulo, o anátomo-patológico confirmou o carcinoma e no mesmo mês fiz uma quadrantectomia e axilectomia do lado esquerdo. Daí em diante passei por 9 cirurgias. Tive prótese, perdi as próteses, tive mais metástases, fiz quimio, radio, perdi músculos peitorais, pele peitoral, ovários (preventivamente por serem tumores hormônio positivos).
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Michele - Claro que existiu aquele milésimo de segundo onde tudo para. Parece que até o planeta para de girar, até eu parei de respirar. Mas no momento seguinte minha fé e meu amor pelo dom da vida falaram mais alto. Senti medo, e uma grande ansiedade, queria correr com tudo que eu deveria fazer para vencer essa doença. Mesmo sem saber o que iria passar. Me acalmei um pouco e segui em frente, vivendo um dia de cada vez, amando meu marido que me deu todo suporte e "me suportou" o tempo todo, amando e cuidando dos meus filhos! O que pensei, finalmente, e penso até hoje: Deus não dá a cruz mais pesada do que podemos carregar.
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Michele - Nunca fui muito vaidosa. Minha maior preocupação foi com meus filhos, não poder carregá-los mais no colo. Rapidamente encontramos um jeito, em qualquer lugar e a qualquer momento passei a me ajoelhar no chão e sentar sobre os calcanhares quando eles precisavam do meu colo, assim eles poderiam se sentar encaixadinhos em mim sem que eu precisasse levantá-los! Três semanas antes do início da químio fomos juntos ao salão de cabeleireiros cortar os cabelos. Cortei no ombro. Duas semanas depois fomos novamente, todos passamos máquina 4. Uma semana antes passamos máquina zero, meu marido também. Minha preocupação era não traumatizá-los. Depois que o restinho de cabelo caía e incomodava, mantive o corte no aparelho de barbear até o fim da químio. Meus cabelos voltaram lindos, cacheados e com força total. Quando cresceram até os ombros, fomos novamente ao salão. Desta vez cortei "joãozinho" e doei o cabelo para fazerem peruca em uma ong da cidade. Veja só, eles já estão nos ombros novamente, dessa vez vou deixar que fiquem mais compridos antes de cortar!
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Michele - Tomo comprimidos de hormonioterapia. Tomarei por 10 anos. Faço três tomografias por ano e uma cintilografia óssea para acompanhar uma mancha que apareceu no meu osso externo. Uma vez por ano densitometria óssea (por eu estar na menopausa desde 2011, tenho que prevenir a osteoporose). Aprendi que quanto mais a gente sente dor... mais resistente à dor a gente fica. Se alguém me dissesse isso antes de tudo o que passei, eu não acreditaria. Mas acreditem, é verdade! Graças a Deus e aos três litros de água diários, eu não passei mal com vômitos durante a químio. Também quase morri de choque anafilático por causa de dois tipos de quimio que tive alergia e não pude tomar, só pude fazer a mais forte. Foram 5 meses. Semana sim semana não. Uma semana eu comia e na outra não. Quando fazemos quimio devemos ter em mente que as substâncias quimioterápicas são espécies de antibióticos anti células humanas. Com certeza eu me sentia morrendo, mas eu pensava positivo e mesmo que parte de mim morresse, as células cancerígenas estavam morrendo também! Minhas unhas começaram a acinzentar nas raízes e fiquei com medo de perdê-las, meus pensamentos eram confusos, tive muita fraqueza, dores pelo corpo.
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Michele - A quimioterapia é bem difícil. Mas, para mim, a Mastectomia Radical Bilateral Modificada foi a pior cirurgia. A recuperação é bastante dolorida, como retirei musculatura e pele peitoral fiquei com bastante limitação. Sou uma pessoa ativa, trabalhei entre as etapas de tratamento, estou trabalhando agora, além de trabalhar gosto muito de artesanato... Demora um tempo pra entrar na cabeça a quantidade de coisas que não posso mais fazer, às vezes esqueço e me machuco, mas a vida continua. Também aprendi uma série imensa de coisas novas que posso fazer.
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Michele - Acho que já descrevi muitos dos efeitos colaterais nas respostas anteriores. Posso contar mais alguns... Como meus tumores se alimentavam de hormônios femininos, tive que parar de fabricá-los, isto é, entrar na menopausa. Primeiro foi através de uma castração química, uma injeçãozona que tomava na barriga uma vez por mês. Minha barriga ficava muito roxa e dolorida. Além dos calores e irritações característicos da menopausa. Quando fiz rádio fiquei com um grande triângulo de pele morena escura abrangendo a mama esquerda e a axila esquerda. Poderia ter sido pior, mas usei muito hidratante, óleo de girassol e tomei muita água durante as 28 aplicações (dura mais ou menos 2 meses).
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Michele - Essa parte é bem legal. Contamos piadas, eu desabafo, ele me incentiva, conversamos. Aprendi muito com ele e ele sempre teve uma palavra de incentivo pra mim. Nossa relação é muito boa. Até meus filhos e marido o conhecem e brincam com ele quando vão comigo às consultas.
  • Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Michele - Sim. Mastologistas e Cirurgiões plásticos para as cirurgias. Nutricionistas para dietas melhores, Fisioterapeutas para drenagem linfática que terei que fazer para sempre já que não tenho mais as glândulas linfáticas das duas axilas; Psicólogos para apoio durante parte do tratamento, mas nada como AMIGOS E PARENTES!!!
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Michele - Sinceramente eu gostaria sim de ter até hoje o acompanhamento de um bom psicólogo. Mas meu plano de saúde tem profissionais que deixam a desejar e que atendem por 20 ou 30 minutos de 15 em 15 dias. Lamentável. Meus amigos, parentes foram meu maior suporte. Tentar animar outros pacientes também me ajudou muito a me sentir melhor.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Michele - Hoje estou readaptada no trabalho, fazendo menos esforços. Acho importantíssimo continuar trabalhando e levando a vida na maior proximidade da normalidade. Tomo medicação de controle. Faço exames de rotina e de acompanhamento. Iniciei um curso novo de Contação de histórias e já estou colocando em prática na escola onde trabalho. Amo minha vida, minha família. Agradeço mais ainda à Deus por minha vida. Faço palestras nos outubros rosas voluntariamente... Sou feliz!
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Michele - Fiquei um total de três anos e meio afastada, por diversos períodos, principalmente durante quimio, radio e cirurgias. Trabalhei nos intervalos em que estava melhor e desde o início do ano voltei com tudo!
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Michele - Sim, saquei meu fundo de garantia. Protocolei um pedido que foi atendido para readaptação no trabalho. Só não tirei carteira de motorista especial e nem comprei carro automático porque são muito caros para meu bolso kkk. Também tirei carteirinha de ônibus municipal gratuita.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Michele - Emagrecer, criar meus filhos, vê-los crescer e serem felizes. Melhorar cada vez mais meu relacionamento com meu marido. Amar e ser amada.
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Michele - Respira. Reza. Se cuida. Viva bem a vida enquanto houver vida. Um dia todos nós vamos embora. Todos nós passamos por sofrimentos, eles são partes obrigatórias da vida. Se Deus permite, é porque vamos suportar!!!
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Michele - Através das inúmeras pesquisas que faço habitualmente na internet desde meu diagnóstico.
  • Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? Michele - Apenas agradecer a oportunidade de dar meu testemunho e de receber os importantes informativos de vocês. Obrigada.
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Michele - Assim como demorou anos para a população de bem conseguir colocar um aviso nos cigarros dizendo que ele é cancerígeno, está cientificamente comprovado. Muitas pessoas lutam para que a população seja alertada sobre a margarina, os conservantes, os fast foods... O câncer aumenta à medida que deixamos de ingerir alimentos de verdade e passamos a ingerir cópias fajutas de alimentos, substâncias químicas nocivas que enganam nossos sentidos. Políticos e não políticos: se não for feito algo contra as grandes indústrias alimentícias e farmacêuticas, cada vez mais amigos, parentes e outras pessoas amadas sofrerão, morrerão. Pense nisso.
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