[Câncer de Mama] Letícia De Cisne Branco

Aprendendo com Você
Letícia de Cisne Branco
  • Instituto Oncoguia - Comece fazendo uma breve apresentação sobre você? idade, profissão, se tem filhos, casadoa, onde você mora... Letícia -

    Dizem que quando a gente se apresenta tem a oportunidade de olhar para quem somos. 


    Neste momento da minha vida é muito importante que eu me apresente. Meu nome é Letícia de Cisne Branco, Cisne de mãe e Branco de pai, amo a poesia que encontro quando me deparo com o Cisne Branco no meu nome. 


    Nasci e cresci em uma cidade cheia de magia e boas vibrações, chamada Florianópolis. Também me vejo apaixonada por minha cidade todas as vezes que abro meus olhos para perceber a natureza. 


    Sou mãe da Maria Clara, uma menina de 10 anos muito querida, alegre e leve. Sou esposa do Rodrigo, um companheiro que me acompanha há 15 anos e tem se mostrado uma grande ancoragem de cumplicidade, segurança e amor. 


    Atualmente não estou exercendo minha profissão pois estou em tratamento,

    especificamente na nona sessão de quimioterapia, mas sou psicóloga com atuação clínica voltada a escuta e acolhimento de mulheres. Minha profissão me mostra o quanto precisamos de espaços para acolher e cuidar. Neste momento sinto falta de atuar e poder fazer a diferença. 


    Minha relação com o câncer começou a muitos anos atrás, quando meu avô materno, uma pessoa da qual eu sempre tive uma ligação emocional muito presente, obteve o diagnóstico de câncer de pulmão aos 73 anos. Não tivemos tempo de atuar com um tratamento pois a doença já estava em estágio avançado. Acompanhei de perto todos os momentos, desde o diagnóstico até os últimos dias. Lembro como se fosse hoje, nossas conversas muito cheias de afeto, mesmo com o efeito da morfina. Lembro também da última música que cantei pra ele: "Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei….” 


    A minha ligação com meu avô me dizia que eu precisava fazer algo a mais pelo próximo e de alguma forma meu coração dizia que eu poderia trabalhar com pacientes oncológicos, porém eu estava esperando o momento certo para que a vida me desse a oportunidade. "Namoro" com isso desde de 2020. Então em março de 2022 participei de um processo seletivo na ACGB, Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço e fui selecionada para atuar como Coordenadora de Inclusão. Infelizmente, por questões organizacionais, minhas expectativas foram frustradas, então devido a incompatibilidades tão logo pedi o meu desligamento. 


    Continuei atuando como psicóloga clínica no acolhimento de mulheres e prestando serviço como psicóloga jurídica também para demandas de avaliação psicológica de concurso. Tirei férias em outubro de 2022 e quando voltei em novembro, fui à ginecologista e mostrei a ela uma certa "bolinha" que tinha encontrado no seio esquerdo, algo muito superficial. A princípio ela disse que não parecia nada estranho, porém eu insisti em fazer mamografia, uma vez que nunca tinha feito e já que ela estava solicitando o preventivo e demais exames, achei importante também fazer. 


    Então a sequência foi a monografia, ultrassom e biópsia. Encontramos um câncer de mama Her2 positivo invasivo, inicialmente com 1.6 cm. Todos os resultados dos exames eu acompanhei via sistema da clínica de imagem e soube sozinha do diagnóstico, 15 minutos antes de um atendimento psicológico de uma paciente. Cancelei minhas os atendimentos daquele dia, desci na cozinha, chamei meu esposo e disse pra ele com lágrimas escorrendo no rosto: Vamos precisar ser muito fortes para encarar essa batalha, mas vai dar tudo certo! Apesar de ser um momento desesperador, realmente é uma dor na alma que beira o desespero, eu sempre tive o pensamento voltado para seguir o que fosse necessário para viabilizar a minha cura. No mesmo dia que descobri o diagnóstico mandei mensagem para o oncologista casado com uma prima minha, que inclusive é o mesmo que tratou meu avô, e desde então ele me acompanha e depois de ir em 3 mastologistas escolhi o que iria seguir comigo nesta necessária e valente jornada. Meu mastologista é um médico extremamente humanizado, espiritualizado, seguro e acolhedor. As consultas com ele foram grandes faróis de esperança. 


    Recebi o diagnóstico da biópsia em 11 de dezembro de 2022 e em 18 de janeiro eu fiz a mastectomia com reconstrução. A recuperação foi maravilhosa, apesar de todo o medo de um procedimento cirúrgico eu estava muito entregue e confiante ao meu processo de cura. Após o processo de recuperação, fiz a implantação do cateter em 28 de fevereiro, uma vez que meu médico oncologista orientou pois preciso fazer o bloqueio heróico por 1 ano, e no dia 7 de março fiz a minha primeira aplicação de quimioterapia. Os maiores efeitos colaterais são a indisposição e a imunidade baixa, o que me restringe bastante o convívio social, tendo em vista que eu crio muito pouco em ambientes fora de casa para evitar diminuir ainda mais a imunidade e atrasar o tratamento. Sinto muita falta da minha vida social, dos abraços e beijos de afetos das amigas e dos familiares. Sinto falta de uma festa cheia de interação e gente feliz. Sem contar a falta que eu sinto de voltar a me sentir útil trabalhando. São e foram muitas mudanças ao longo destes meses, porém o momento mais vulnerável emocionalmente após o diagnóstico foi a perda gradativa dos cabelos. Quando eu cortei me senti liberta, porém eu ainda sinto uma imensa falta, a ponto de me ver no espelho e às vezes não me reconhecer. 


    Realmente eu não imaginava o quanto o cabelo compunha a imagem que eu construí do meu feminino. Atualmente eu faço acompanhamento psicológico com uma Psicanalista e isso me fortaleceu muito nos momentos mais difíceis. Falar também cura! Hoje especificamente é um dia não muito fácil, estou precisando de granulokine para seguir a próxima quimioterapia é preciso lidar com a angústia de esperar o prazo do plano de saúde. A ANS afirma que o prazo para liberação é de 21 dias, sendo que minha próxima quimio está agendada para a próxima terça feira. As burocracias são angustiantes para quem quer seguir com vigor o caminho da cura. Apesar da angústia neste sentido, estou esperançosa e protagonizando, o que preciso no que depende de mim, para seguir as últimas 3 aplicações e na sequência seguir com a Radioterapia. 


    Minha rede de apoio hoje é composta por profissionais que eu confio, pela minha mãe, minha esposa, duas tias muito queridas e três amigas. Valorizo imensamente as pessoas que me compõem nesta rede e que me fortalecem a seguir, fornecendo apoio, carinho, escuta, presença, atitude e fé. Logo que descobri o diagnóstico senti a necessidade de compartilhar e alertar as mulheres que de alguma forma fazem parte do meu caminho. 


    Com este movimento, uma de minhas melhores amigas descobriu um câncer de mama triplo negativo e estamos caminhando juntas, na medida dos nossos possíveis, nos apoiando e aprendendo muito uma com a outra. Acredito imensamente no poder da prevenção. Acredito que compartilhando nossas vivências como mulheres a gente se salva, se acolhe, se cuida e se possibilita viver. Pretendo continuar falando abertamente sobre câncer, desmistificando estereótipos, incentivando as mulheres a fazerem autoexame e mamografia e também me possibilitando acreditar que a cura está também em nas formas como protagonizamos a nossa vontade de viver. Somos preciosas e é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei…


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