[TUMOR ÓSSEO] Raquel Soares de Oliveira

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Raquel Soares de Oliveira - Me chamo Raquel Soares de Oliveira, tenho 35 anos, moro na cidade de Ribeirão Pires-SP, amo tudo sobre cabelos, pois sou cabeleireira formada, e amo trabalhos manuais (Crochê e tricô, tear, bordado...)

Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer?

Raquel Soares de Oliveira - Condrossarcoma - Tumor Ósseo.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Raquel Soares de Oliveira - No ano de 2006 comecei a sentir uma dor forte e maçante na região da tíbia, geralmente à noite, e começou a ficar cada vez mais forte. Minha perna começou a inchar e comecei a mancar. Em 2008, fiz uma biópsia que deu um falso negativo para benigno (encondroma), mas, somente em 2010, outro médico percebeu pelas imagens o crescimento do tumor e fez outra biópsia que constatou tratar-se de um tumor maligno.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Raquel Soares de Oliveira - Foi uma mistura de alívio por, depois de anos, saber o que eu realmente tinha, mas junto com um profundo medo!

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Raquel Soares de Oliveira - De morrer, pois havia perdido meu pai em 2002 com tumor de cólon e no cérebro, e achei que, assim como ele, não viveria além de 6 meses depois do diagnóstico.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Raquel Soares de Oliveira - Passei a fazer uma série de exames para ver se havia metástases pelo corpo, mas graças a Deus nada foi encontrado. Passei a procurar um cirurgião que salvasse minha perna, pois o tumor que estava no Fêmur havia crescido e descido para o Joelho, e como sempre opto por cirurgias sem sangue, não havia nenhum médico que queria me operar sem amputar minha perna. Mas conheci um onco-ortopedista de Guarulhos, no Hospital Carlos Chagas, o Dr. Leopoldo Augusto Scheifer que pegou o meu caso e me operou.

 Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Raquel Soares de Oliveira - Sim, operei no dia 26/09/2010 e com muito sucesso o Dr. Leopoldo salvou minha vida e minha perna, colocando uma Endoprótese total não-convencional que substituiu 1/4 do fêmur, Joelho total e 1/4 da Tíbia. Fiz radioterapia local durante a própria cirurgia, e o Dr. optou por eu não fazer a quimioterapia, pois tumor ósseo não corresponde a tal tratamento e como  foi retirado por completo o tumor e não havia metástase, ele achou melhor me poupar de tal tratamento.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Raquel Soares de Oliveira - Para mim foi o pós-cirúrgico, a reabilitação por meio da fisioterapia. Porque é um processo muito doloroso e difícil.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Raquel Soares de Oliveira - Eu fiquei muito inchada após a cirurgia e com muita dor. O pior foi minha perna, no começo ficou totalmente solta, pois havia apenas carne e prótese e a qualquer movimento além da dor eu sentia a prótese se movendo.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Raquel Soares de Oliveira - No começo meio tenso, pois ele nunca havia feito uma substituição tão grande e ainda por cima sem o uso de sangue, demorou quase um ano para ele se preparar e aprender a técnica que usaria em minha cirurgia, mas por fim realizou a cirurgia que foi um sucesso. E hoje temos uma relação muito boa, ele é um profissional muito competente e um médico humano e carinhoso com seus pacientes.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Raquel Soares de Oliveira - Oncologista, hematologista, fisioterapeuta.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Raquel Soares de Oliveira - Enquanto internada aguardando a cirurgia sim, pois fiquei um mês e 1 semana no hospital e a psicóloga passava toda semana.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Raquel Soares de Oliveira – Também, enquanto estava internada!

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Raquel Soares de Oliveira - Passo a cada seis meses com a oncologista para fazer exames preventivos e terei que me submeter a uma nova cirurgia, pois minha prótese soltou, parece que devido à bactéria (rejeição) e, dessa vez, muito provavelmente terei que amputar minha perna.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Raquel Soares de Oliveira - Apesar das limitações e dor constante, procuro encarar a vida com alegria tendo sempre um sorriso no rosto, sei que é uma doença difícil de encarar e com consequências devastadoras, mas o importante é ter tido uma nova chance para estar com aqueles a quem amamos. Procuro, na medida do possível, fazer as coisas que gosto. Infelizmente, não posso mais entrar no mar, correr, pular, ajoelhar e subir morros ou escadas, mas o simples fato estar lidando com essa nova realidade sem me deprimir e tendo ao meu lado um marido amoroso que me apoia e cuida muito bem de mim (até demais) me faz sentir bonita, útil e com vontade de cada vez mais viver e aprender novas coisas!

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Raquel Soares de Oliveira - Infelizmente, não estou podendo no momento trabalhar, pois meu trabalho requer que eu fique muitas horas em pé, pois sou cabeleireira, mas assim que operar pretendo me reabilitar com uma prótese para poder voltar a trabalhar e assim fazer o que mais amo.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Raquel Soares de Oliveira - Ninguém vai impedi-lo de sentir medo, mas procure encarar o tratamento com confiança, sorria sempre quando as pessoas vierem te perguntar sobre sua doença, encare com bom humor, mas chore quando tiver vontade. Nunca esconda de ninguém o que sente, principalmente daqueles que o amam, pois você precisará muito deles e acima de tudo confie em Deus e nunca deixe de fazer tudo o que seu médico orientá-lo a fazer.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Raquel Soares de Oliveira - É muito importante você estar sempre informado e o melhor é perguntando para o próprio médico que está te tratando.Tire suas dúvidas quanto ao tratamento e também sobre o que acontecerá após ele te ajudar a estar bem preparado.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Raquel Soares de Oliveira - Primeiro com meu próprio médico, também pela internet por meio de pacientes que estavam ou já tiveram algum tipo de câncer e procurei ler muitos artigos relacionados com câncer.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  

Raquel Soares de Oliveira - Pelo Facebook.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Raquel Soares de Oliveira - No momento nenhuma.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Raquel Soares de Oliveira - No que diz respeito aos direitos daqueles que tem ou tiveram câncer, na prática, quando você os procura, tem uma burocracia muito grande e falta de respeito a quem tem de atendê-lo. No que diz respeito ao próprio INSS, você paga, mas quando precisa dele simplesmente eles olham para você e agem como se você não tivesse tido nada e que está apto para trabalhar mesmo estando  em uma cadeira de rodas com uma perna sem movimento e cheia de pontos! E no que diz respeito a medicamentos para tratamento de câncer de alto-custo, nem todos podem comprá-los e quando você vai procurá-los nos órgãos públicos, ou não tem ou é uma burocracia danada para consegui-los!