[CÂNCER DE OVÁRIO] Soniah Lisboa

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Soniah Lisboa - Meu nome é Soniah Lisboa, 37anos, moro em Belo Horizonte, casada há 13, tenho uma linda garota de 8 anos e sou funcionária pública.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Soniah Lisboa - Em agosto de 2012, acompanhando meu marido em exames médicos desde junho, descobrimos que ele tinha um tumor neuroendócrino grau 2 (Carcinoide). Eu estava muito preocupada com a situação e foi investigada a possibilidade de uma metástase no fígado, que se comprovou não ter acontecido.

Na madrugada do dia 25 de setembro 2012, uma segunda-feira (se não me engano) acordei com a barriga dolorida, como se o intestino não estivesse bem. Mas não passou disso. Durante o dia percebi que, conforme me movimentava a barriga doía. Na terça-feira, o sintoma continuou e decidi ir à emergência médica do Hospital.

Por volta das 13 h, fui atendida por uma médica que me examinou e solicitou exames de sangue (rotina) e me disse a seguinte frase: "Vamos aguardar os resultados e se não for nada infeccioso, sugiro que você procure seu ginecologista”. Fiquei pensando: exames de sangue para dores na barriga? Não seria melhor uma tomografia? Eu acreditava que fosse algum problema intestinal.

Enquanto aguardava o resultado, fui até o consultório do meu ginecologista (que atende no mesmo hospital) e consegui um encaixe para ser atendida.

Com os resultados dos exames em mãos e tudo ok, voltei ao consultório do médico, que aí sim me solicitou uma TC.

No dia 1º de outubro realizei a TC, que acusou: cisto no fígado e no ovário direito. Preocupei-me com o cisto no fígado, devido a recordação do caso do meu marido, e porque acreditava que cisto no ovário fosse normal.

De volta ao meu ginecologista, foi solicitado um ultrassom endovaginal.

No dia 16/10/2012 com o ultrassom descobriu-se que o cisto estava em ambos ovários, um com 6 cm e outro com 4 cm aproximadamente, e que havia risco intermediário para malignidade. Como realizei o exame no mesmo Hospital, consegui novo encaixe com meu médico, que demonstrou serenidade e tentou me acalmar, mas que prontamente, solicitou novos exames para agendarmos a cirurgia.

Após a cirurgia, no dia 29/10/2012, o médico esteve comigo no quarto e disse estar muito tranquilo pois não havia visto nada de maligno (não foi feita a biópsia no instante da cirurgia), que havia sido necessário retirar o ovário direito por ele estar comprometido, e que, provavelmente a dor que eu sentira se devia ao rompimento do cisto e de uma pequena aderência do ovário esquerdo ao intestino.

No dia 13/11/2012, retornei ao médico com o resultado da biópsia em mãos e ele se surpreendeu com o resultado: adenocarcinoma epitelial endometrióide. Passamos então por uma bateria de novos exames e, por uma razão e outra só realizei a nova cirurgia em 29/01/2012.

Nova biópsia em mãos ficou constatado que não havia malignidade em nenhum dos órgãos: omento, útero, ovário esquerdo, trompas, endométrio e no lavado peritoneal.

Lembro-me de meu ginecologista sempre colocar Deus em primeiro lugar e nesse dia ele me disse: "Menina, você nasceu de novo”. Lembro-me ainda de que por todos profissionais pelos quais fui atendida me diziam: "Você teve muita sorte em descobrir o câncer em estágio inicial. Normalmente quando se descobre a doença , ela já está em estágio avançado.”

Só pra esclarecer, estava com meu exame de prevenção em dia, que havia sido realizado em maio de 2012.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Soniah Lisboa - No dia 13/11//2013, quando recebi o diagnóstico, estava com minha filha (eu havia aproveitado que ela tinha uma consulta oftalmológica e me dirigi ao consultório do médico), eu estava tranquila, não imaginei que fosse um câncer, mas era. É estranho dizer o que senti, fiquei triste, mas não me desesperei, acho que a situação do meu marido havia me preparado. Eu me preocupando tanto com ele (e olha que não era tão grave) e eu era quem precisava de mais cuidados. E tinha também a minha filha ali comigo, eu precisava ser forte. Deus me fortaleceu e continua fortalecendo.

Instituto Oncoguia - Qual foi sua maior preocupação neste momento?

Soniah Lisboa - A gente se depara com muitos casos e infelizmente, às vezes isso não é bom. Onde realizo quimioterapia tem uma paciente que após 14, isso mesmo, após 14 anos, o câncer no intestino reapareceu. Ontem me encontrei com outra, que na última sessão de químio descobriu outro nódulo na mesma mama. Sou muito medrosa, então aí está minha preocupação: o câncer vai voltar? Há uns 15 dias estou com uma dorzinha estranha na barriga, cismei que tem um relevo, um caroço. No dia 14/05 estive com minha oncologista que me disse que estava tudo bem, que não havia sinal de massa, mas e aquela vozinha na cabeça, que às vezes nos incomoda e persegue?

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Soniah Lisboa - Após o diagnóstico, fomos morar com meus pais: eu, marido, filha (não posso esquecer nossos pássaros) para nos encaixarmos na nova realidade, iríamos precisar do apoio de todos e eu queria muito ficar mais próxima de minha família.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Soniah Lisboa - Realizei minha cirurgia no dia 29/01/2013, estadiamento IC e devido ao fato do cisto ter se rompido iniciei minha quimioterapia dia 19/02/2013.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?

Soniah Lisboa - No meu caso só foi recomendado a quimioterapia, 6 sessões ao todo, de 21 em 21 dias, que termino agora no dia 06/06/2013. Não é fácil, mas mesmo assim tenho muito que agradecer à Deus, pois tenho suportado muito bem ao tratamento.

Com relação à cirurgia, foi tranquilo, embora tenha tido uma reação de uns 7 dias bem desagradável à anestesia.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Soniah Lisboa - Tive alguns efeitos sim, por exemplo: 1ª sessão tive 3 episódios de vômito, dores no corpo, infecção urinária (constante em minha vida desde 1998), perdi meu cabelo e também começou minha incontinência urinária. Nas outras sessões percebi sangramento anal, constipação e um certo cansaço e percebi também que não estou dormindo muito bem. O pior deles, a meu ver é a incontinência, por que ela perdura, os outros são difíceis mas passam com 7 dias ou menos.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Soniah Lisboa - Minha relação tanto com o ginecologista, quanto com a oncologista é muito boa. Creio que a atenção e/ou intuição que o ginecologista teve ao meu caso foi muito importante, pois como ele mesmo disse às vezes em outra situação teria aguardado algum tempo para acompanhar o cisto, pois a princípio se fosse levar em consideração apenas o tamanho dele, não seria operável. E algo que me surpreendeu eles disponibilizaram e-mail, número celular e se mostraram companheiros em todos os momentos.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Soniah Lisboa - Após o diagnóstico foi necessário que eu passasse por um gastro e um coloproctologista, pois havia uma suspeita inicial de que fosse uma metástase, o que não era o caso, conforme comprovado pelo imunohistoquímico.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Soniah Lisboa - Não fiz e minha oncologista também não julgou necessário.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Soniah Lisboa - Também não, embora tenha engordado 7 kg, mas segundo minha oncologista o tratamento em si causa esse aumento no peso. Vale ressaltar que no Oncocentro temos psicólogos , nutricionistas e outros profissionais à nossa disposição, caso necessário.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Soniah Lisboa - Com fé em Deus, realizarei minha última sessão de quimioterapia no dia 06/06/2013.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Soniah Lisboa - Se essa pergunta fosse feita há 15 dias, eu diria: Normal. Normalíssima, feliz, feliz, feliz. Hoje, embora tente afastar a todo instante, tenho uma pulguinha atrás da orelha: e essa dorzinha na barriga? E esse relevo? Vou ter que antecipar minha consulta, pois estou muito ansiosa.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Soniah Lisboa - Sou funcionária da Secretaria Municipal de Cultura de Ribeirão das Neves e trabalho em uma Biblioteca Pública, estou afastada do trabalho, meu retorno está previsto para a 1ª semana de agosto.

Estou programando retornar à minha casa, mas sinceramente não tenho muitos planos para o futuro, já estamos programando nossas férias para outubro. Mas o meu desejo mesmo é continuar a vida, feliz e com saúde. E que venha a cura!

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Soniah Lisboa - Tenha fé, mesmo nos momentos difíceis (que não são poucos) creia em Deus., creia na cura, pois pensamentos positivos sempre ajudam.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Soniah Lisboa - É importante para me manter atualizada e ciente de tudo que possa acontecer, para esclarecer minhas dúvidas e me tranquilizar auxiliando-me a atravessar essa fase.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?De que maneira?

Soniah Lisboa - Eis aí um grande problema: o que mais tenho feito desde o resultado da TC, a minha atitude foi buscar informação, e sempre pela internet. Toda família me chama de ”Doutor Google”, e ficam muito incomodados com minha atitude, pois sabemos que nem todos os sites são seguros e/ou confiáveis.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Soniah Lisboa - Conheci o Oncoguia através do blog de uma pessoa que admiro muito e aprendi a amar apesar de não conhecê-la pessoalmente: Nanci Bueno Venturini.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Soniah Lisboa - Tornei-me conhecedora desse belo trabalho de vocês e os admiro. Mas gostaria sim de sugerir, que vocês divulgassem mais matérias sobre os diversos tipos de tumores, por exemplo no meu caso, as informações sobre o Tumor Epitelial Endometrióide são poucas, por mais que confie nos médicos que me acompanham, sinto a necessidade de pesquisar e nem sempre os sites me oferecem riqueza de detalhes que desejo. Às vezes encontro um bom material, mas não do tipo específico que desejo. Se vocês divulgassem tais informações, ficaríamos tranquilos, pois é um site de inteira confiança.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Soniah Lisboa - De forma geral é preciso dar mais atenção à Saúde em nosso país. O descaso é muito grande. No papel tem muita coisa bonita, o projeto é lindo, mas não é real.

No meu caso, aconteceu uma situação, que me deixou decepcionada e não creditei a culpa ao convênio e sim à ANSS.

Como relatei acima, foi necessária a realização de um exame imunohistoquímico e esse procedimento não foi coberto pelo plano de Saúde.

Entrei em contato com a ANSS que simplesmente me informou que o convênio não tinha obrigação de realizá-lo uma vez que o exame não constava no rol da mesma.

Um exame necessário, de suma importância para dar início a um tratamento, que de antemão já se sabe ser doloroso físico e emocionalmente, e uma empresa que regula os planos de saúde não o coloca em seu rol é no mínimo de se indignar, não?