‘Diminua a autocobrança e valorize você’: como lidar com a autoestima ao enfrentar um câncer de mama

Em janeiro de 2021, a cidade de Manaus passou por uma crise sanitária sem precedentes. Em meio à pandemia mais mortal do último século, o sistema de saúde municipal entrou em colapso pela falta de oxigênio para os pacientes com Covid-19 internados. Enquanto a cidade passava pelo caos, a bancária Daniele Veiga, 37 anos, recebia a notícia que a colocou de frente ao próximo grande desafio de sua vida. 

Depois de sentir uma veia um pouco mais saltada do que deveria em sua mama esquerda, Daniele foi diagnosticada com câncer de mama triplo negativo com mutação no gene BRCA1, um tipo raro e invasivo de tumor, considerado agressivo e de crescimento rápido. 

“Foi como entrar no olho do furacão”, conta Daniela. “Pela situação de Manaus tudo foi feito muito rápido, desde o diagnóstico, até a biópsia e ir atrás da cirurgia para retirar o nódulo. Não tive tempo de entender que estava entrando na jornada contra um câncer de mama raro.”

Mas a correria imposta pela situação da cidade não foi o maior desafio no tratamento de Daniele. A partir de seu diagnóstico, a ex-bancária ligou “uma chave” e decidiu que sua autoestima e bem-estar estariam sempre em primeiro lugar. 

“No dia em que eu descobri o câncer foi o único dia que me permiti chorar. Mas desde o segundo eu escolhi encarar essa fase como uma transformação. A partir dali faria tudo por mim, para mim e o que me fizesse bem”, relata. 

O adoecimento pelo câncer de mama e seu tratamento geram sérias consequências que podem ser temporárias ou permanentes na vida da mulher. Por exemplo, uma mastectomia, seja ela de uma ou das duas mamas, com reconstrução ou não, pode ser um evento traumático e afetar drasticamente a visão de si mesma da paciente. 

“Muitas vezes, uma mulher se sente valorizada pelo seu corpo.Então qualquer mudança física por conta do câncer, como queda de cabelo, perda ou ganho de peso, pode trazer grandes desconfortos e impactar na autoestima da paciente”, afirma Fabiana Makdissi, médica mastologista do hospital A.C. Camargo, é também integrante do comitê científico do Oncoguia.

De acordo com a médica, a paciente também pode experienciar sentimentos de medo e perda, o que faz com que ela questione seu valor. “É perda, às vezes, da mama, da saúde. Já vi muitas mulheres que terminaram os casamentos por conta das alterações físicas . Então, a sensação de invalidez é muito comum em mulheres com câncer de mama”, relata Makdissi. 

Daniele não quis fazer parte da maioria. A jovem conta que, quando seu cabelo começou a cair - um dos efeitos colaterais da quimioterapia -, ela decidiu logo cortar tudo e abraçar as possibilidades. “Me inspirei em outras mulheres que usavam lenços lindos e a cada dia eu inventava um jeito novo de usar um lenço, busquei como as muçulmanas usam. Eu queria me sentir sexy”, relata. 

Esse esforço em se sentir bonita, segundo a médica mastologista, é um dos primeiros passos para a reconstrução da autoestima e bem-estar em uma paciente com câncer de mama. “O uso de peças de roupas diferentes, que valorizem o seu corpo apesar de qualquer alteração que ele possa ter é um meio de voltar a se olhar com carinho e ver beleza em si mesma”, diz Makdissi. 

Outro passo, de acordo com a profissional, é entender que a sexualidade, beleza e até a própria libido não são ligadas exclusivamente ao físico. “Uma mulher tem valor além do físico, além do corpo e muito além do câncer”, diz a médica que ressalta a importância do autocuidado para uma mulher em tratamento. “Praticar exercícios, socializar, se arrumar, comer bem, estar próximo de pessoas queridas, desabafar. Tudo isso ajuda a melhorar o sentimento de bem-estar.”

Além da ousadia nas roupas, Daniele, que também teve que retirar órgãos como o útero e os ovários para evitar o desenvolvimento de novos tumores, elenca três pontos essenciais para a manutenção do bem-estar durante o tratamento de um câncer de mama: 

Encontrar apoio
A ex-bancária diz que contar com pessoas próximas e queridas é algo essencial. “É a primeira coisa a se fazer. Encontrar apoio em pessoas que serão o seu centro durante o tratamento, quem estará do seu lado sempre. Para mim foi minha mãe e minha tia, mas pode ser seu companheiro, companheira, amigos.”

Enxergue você
“Diminua a auto cobrança, mas não deixe chegar na piedade”, diz Daniele. Para ela, outro segredo é trabalhar o auto perdão e aprender a se amar. 

Alimente sua mente
Uma mulher durante um tratamento de um câncer pode experienciar muita ansiedade. Daniele relata que se ocupar com estímulos mentais foi algo que encontrou para a ajudar com esse sentimento de angústia. 

“Nos primeiros meses de tratamento eu ficava muito em casa, parada e às vezes sozinha, muito debilitada. Isso me deixava muito ansiosa e, para ajudar, comecei tipos alternativos de terapia, como cuidar de plantas, ouvir músicas que me faziam sentir bem e coloquei uma meta para ler todos os livros que sempre quis ler mas nunca consegui.”

A dica mais importante para Daniele, no entanto, é “cuidar de si mesma com carinho”.

*Conteúdo produzido pela equipe do Instituto Oncoguia

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