Audiência reforça gargalos no cuidado ao câncer em São Paulo e incentiva soluções

No dia 8 de abril de 2024, na data em que se celebra o Dia Mundial de Combate ao Câncer, o Oncoguia, em parceria com a Deputada Estadual Solange Freitas , realizou uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para fomentar discussões sobre a realidade do câncer no estado paulista. O evento foi transmitido ao vivo e está disponível na íntegra no canal da Alesp, no Youtube. 

Para abrir a audiência, a deputada, que foi diagnosticada com um câncer em janeiro de 2021, enfatizou a importância de ações de conscientização para levar conhecimento sobre a doença, exames e tratamentos para a população. 

“A parceria com o Oncoguia tem sido muito relevante para isso, não fazemos nada sozinhos. E a presença de todos aqui hoje é muito importante para que cada vez mais pessoas tenham o acesso como o que eu tive no meu tratamento”, disse. 

Confira os principais pontos levantados durante a audiência:

Prevenção e rastreamento para reduzir a mortalidade 

As discussões da audiência foram iniciadas com a fala de Victor Wünsch Filho, diretor-presidente da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP). O diretor chamou a atenção para as estatísticas, que mostram que o câncer é a segunda causa de morte no estado, depois das doenças cardiovasculares. 

“Temos um constante aumento da incidência por conta do envelhecimento populacional e pelo contato com outros fatores de risco relacionados ao câncer”, disse Wünsch Filho. 

Para reduzir a mortalidade, o diretor aponta dois pilares centrais: a prevenção e o rastreamento da doença para o diagnóstico precoce. Segundo ele, o tabagismo, consumo de álcool e taxas de obesidade e sobrepeso da população são os mais preocupantes. 

“O maior problema que temos, na minha opinião, é a questão do sobrepeso e obesidade. Ligados a uma dieta inadequada e ao sedentarismo, estão relacionados a muitos tipos de câncer, alguns até comuns, como mama, próstata e cólon. Por isso a necessidade de conscientizar sobre esses fatores”, disse Wünsch. 

Com relação ao rastreamento, o diretor da FOSP relata ainda que evidências científicas apontam para a redução da mortalidade em alguns tipos de câncer (mama, colo de útero e colorretal) em regiões que aplicam programas de rastreio. No entanto, os esforços não estão tendo esse impacto nos programas de rastreamento do câncer de mama e colo de útero, já implementados. 

“A FOSP é responsável pelos programas de rastreamento de mama e colo de útero no estado. Mas o que sabemos é que esses programas não estão tendo impacto na mortalidade”, disse. “Para enfrentar isso, temos um projeto para mudar a característica e qualidade dos programas. Hoje eles são oportunísticos, em que a equipe de saúde oferece o exame de rastreio à pessoa que já buscou o posto de saúde para o próprio exame ou por outro motivo. Mas é preciso deixá-lo mais organizado, ou seja, uma vez que a pessoa fez o exame, se há um resultado suspeito, é preciso continuar o acompanhamento desse paciente até o diagnóstico”, explica. 

Cuidado do Câncer: oportunidades de atuação

Em seguida, Marisa Madi, representante da Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer, trouxe algumas ações tomadas no âmbito do Comitê de Referência em Oncologia do Estado de São Paulo, que tem como objetivo estabelecer critérios técnicos e científicos para a Rede de Atenção Oncológica. 

A representante trouxe as práticas e ferramentas centrais para a Rede, desenvolvidas desde 2011. Madi destacou, entre outras ações, a aprovação do Protocolo de Alta Suspeição (2021), que orienta a rede para melhorar o diagnóstico do câncer. “O protocolo é um manual técnico de apoio, que traz, por exemplo, quais exames são necessários e sinais de alerta”, explicou Madi. 

A representante também apontou alguns desafios para a implementação efetiva das ações do Comitê. Entre eles, Madi ressaltou alguns desafios necessários para o acesso ao tratamento de qualidade, como o financiamento para a disponibilização de tecnologias mais modernas e eficazes. "Todos os anos temos muitas novidades em relação ao tratamento de oncologia. O nosso grande desafio é conseguir acompanhar os custos. (Nos últimos anos) o SUS se distanciou muito na comparação com o sistema privado, e o Brasil, como um todo, (também se distanciou) em relação aos países desenvolvidos", disse. 

O que vemos na prática: os desafios enfrentados pelos pacientes no dia a dia

A presidente do Oncoguia, Luciana Holtz, trouxe uma visão da realidade da atenção oncológica em São Paulo a partir de depoimentos de pacientes acolhidos no atendimento da ONG. 

Luciana apontou, principalmente, descumprimentos das Leis dos 30 e 60 dias, que atrasam o diagnóstico e início do tratamento dos pacientes. “Com base no que chega para a gente (Oncoguia) sentimos que muitas coisas do papel não acontecem na prática. Temos relatos de demora excessiva na realização dos exames e uma demora importante no início do tratamento”, afirmou a presidente. 

Além disso, a presidente da ONG também ressaltou que o paciente não tem clareza do que fazer a seguir dentro dos serviços de saúde e se sente perdido. “Cadê o oncologista? Onde ligar? O paciente não sabe qual o próximo passo. Não existe um processo claro, com transparência, para que o paciente saiba pelo menos onde ele está na fila, quanto tempo vai demorar”, ressaltou. 

Nesse sentido, a presidente afirma que a falta de transparência prejudica o trabalho em rede dos serviços de saúde. “Enquanto as informações não forem transparentes, teremos dificuldades até para tomar decisões necessárias. Afinal de contas, o que está faltando? É oncologista, é cirurgião, é medicamento, é exame? Não sabemos!”.

“Nosso pedido aos governos é que o câncer tem que ser tratado como prioridade. Precisamos pensar que profissionais de saúde devem ser capacitados para no mínimo desconfiar do câncer e, uma vez que desconfiem, que tenham ferramentas e caminhos para realizar esse atendimento, que devem ser priorizados pela gestão”, finalizou Luciana. 

Efetivação do cuidado do paciente oncológico 

Representando os hospitais oncológicos da rede pública de São Paulo, a audiência recebeu a fala do presidente da Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer (ABIFICC), Pascoal Marracini.

O principal ponto levantado por Marracini foi a grande dificuldade que os serviços têm em oferecer os avanços tecnológicos mais modernos em oncologia e, portanto, mais eficazes para os pacientes. “Enquanto prestadores de serviço, não podemos colocar os avanços tecnológicos em prática. Existem limitações físicas e financeiras”, afirmou. 

Além disso, o presidente comentou sobre os gargalos na regulação para o atendimento efetivo desses pacientes. “Não sabemos de onde vem os pacientes e nem como eles chegaram até nós (nos hospitais oncológicos) com relação ao estado da saúde e necessidades. Não temos uma regulação funcionando na prática que nos dê essas informações”, disse. 

Para ele, os gestores, usuários e prestadores de serviços de oncologia precisam atuar em conjunto para encontrar e implementar soluções. 

Políticas públicas em andamento e próximos passos 

Por fim, Priscila Perdicares, secretária executiva da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP), trouxe o posicionamento do governo estadual com relação às políticas públicas previstas e em andamento para melhorar a atenção oncológica em São Paulo. 

A secretária executiva reforçou o ponto sobre a falta de informação integrada entre todos os agentes necessários no atendimento ao câncer. “A informação é essencial para nós que estamos direcionando recursos para políticas públicas. Sem informação, é muito mais complexo direcionar esses recursos de forma efetiva”, afirmou. 

Com relação aos próximos passos previstos, Perdicares afirmou que a gestão pretende atuar para: 

  • ampliar ações de prevenção; 
  • melhorar acesso ao tratamento e uso dos recursos; 
  • melhorar o déficit em radioterapia com implementação de novos aceleradores lineares;
  • direcionar esforços para melhorar o déficit de serviços oncológicos na região metropolitana do estado; 
  • diminuir o tempo entre a suspeita e o diagnóstico e entre o diagnóstico e o início do tratamento; 
  • e regulamentar cuidados paliativos a partir da nova Política Nacional de Cuidados Paliativos.  

A audiência foi finalizada com um breve debate aberto para perguntas da plateia. 

O evento completo está disponível aqui.

Conteúdo produzido pela equipe do Instituto Oncoguia

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