Como a espiritualidade pode ajudar durante um tratamento oncológico

 

A prática da espiritualidade está ligada à busca humana de uma existência eterna. De algo além da vida física e finita. Para a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) a vivência da espiritualidade – seja através de estados meditativos, práticas religiosas, orações, músicas, contato com a natureza, relacionamentos e diversas outras situações de contentamento espiritual – traz essa sensação de eternidade e, quando falamos de pacientes com câncer, pode ainda entregar uma melhor qualidade de vida e saúde física.

É o que afirma um trabalho de revisão da literatura médica publicado na forma do Guia da Espiritualidade em Oncologia do SBOC. O guia foi desenvolvido em conjunto com intensivistas, paliativistas, oncologistas clínicos e radioterapeutas e mostra como se dá a cooperação entre a espiritualidade, a ciência e o tratamento oncológico. 

Se você é uma pessoa religiosa – ou espiritual de alguma forma – pode já ter alguma ideia de como acreditar em algo maior traz alguns benefícios para o paciente com câncer. Importante ressaltar, no entanto, que a espiritualidade pode se manifestar independentemente da afiliação religiosa. Ou seja, ateus, agnósticos ou mesmo aqueles que têm religião, mas não a praticam ativamente, podem expressar a espiritualidade. 

Além de representar a busca do indivíduo por conexão e transcendência, a espiritualidade está potencialmente ligada à manutenção e ao fortalecimento da saúde física, mental e social. Por isso, sua busca pode ser intensificada em momentos de crises, perdas e mudanças fisiológicas – por exemplo, doenças como o câncer. 

A espiritualidade como aliada no tratamento oncológico
Segundo o Guia da SBOC a saúde deve ser entendida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Assim, entende-se a necessidade de um cuidado integral ao paciente que inclua um suporte espiritual e religioso a fim de beneficiar tanto pacientes quanto a equipe multidisciplinar e o próprio sistema de saúde. 

Evidências presentes no trabalho da sociedade médica demonstram forte relação entre espiritualidade e processos de saúde, adoecimento e cura. Por exemplo, publicações descrevem que níveis elevados de espiritualidade e religiosidade estão associados a menor incidência de hábitos nocivos que podem ser fatores de risco para o câncer. Como menor prevalência de tabagismo, menor consumo de álcool, sedentarismo, obesidade e diabetes mellitus. 

Além disso, o contato com o espiritual também pode levar a uma melhor adesão nutricional, aumento da prática de exercícios e adesão farmacológica, contribuindo para o bem-estar físico e emocional.

Por seu caráter metafísico, a espiritualidade também impacta na saúde mental. Considerando que pacientes com diagnóstico de câncer – assim como familiares e outras pessoas próximas – experimentam diversos momentos de crise ao longo da evolução da enfermidade, uma maior espiritualidade ou religiosidade pode proporcionar maior equilíbrio emocional, o que leva a uma maior adesão ao tratamento e maior resiliência.

Pessoas espiritualizadas também têm menor probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade, menor índice de suicídio e abuso de drogas. Relatos de maior longevidade e aumento de sobrevida também são reportados pelo documento da SBOC. 

Para Regina Liberato, coordenadora do comitê de saúde emocional do Oncoguia, “os pacientes e seus familiares buscam na transcendência e na expressão da dimensão espiritual um sentido mais amplo para o adoecimento e motivos para a aceitação e o enfrentamento da doença e às experiências que ela impõe”. 

Por fim, uma vida mais espiritualizada pode beneficiar também os sobreviventes de câncer. Segundo o Guia, pacientes que praticam espiritualidade ou religiosidade referem ter se fortalecido e creem que o câncer proporcionou uma oportunidade de crescimento. Isso, por consequência, levou a uma melhor qualidade de vida do que aqueles que se sentem ressentidos e com sequelas do diagnóstico e tratamento.

O Guia da Espiritualidade em Oncologia do SBOC pode ser acessado na íntegra aqui.