[PERFIL] Não perca esperança, não importa o que os médicos digam
Quando recebeu o diagnóstico de câncer de pele do tipo melanoma no dedo, a secretária executiva Sabrina Maria Lopes Estarquio de Oliveira, 36 anos, ouviu do médico que a doença não tinha cura. "Levantei a cabeça e fui procurar uma segunda opinião”, lembra ela.
A nova equipe deu outra versão: a de que o caso era grave, mas tratável. Sabrina precisou ter o dedão do pé esquerdo amputado, mas recobrou as esperanças e os sonhos. "Para quem está passando por isso, eu falo: ‘Não perca a esperança, não importa o que os médicos digam’”, orienta.
*
"Eu tinha uma manchinha no dedão esquerdo. A princípio, pensei que tinha batido o pé e que era sangue pisado.
Em fevereiro do ano passado, fui à dermatologista e fiz biópsia. Ela falou que a mancha não tinha importância, mas que seria interessante fazer procedimento estético para tirá-la.
Perguntei: ‘Posso fazer isso quando eu quiser?’ Ela disse: ‘Pode’. Eu teria que sair de licença. Meu chefe autorizou a ir em junho, durante as férias dele.
O convênio de saúde demorou a aprovar porque viu o tratamento como procedimento estético. Consegui o OK em agosto, quando meu chefe havia voltado. Pensei em fazer a cirurgia nas férias, em dezembro.
O local doía e, em qualquer batidinha, sangrava. Como meu chefe falou em câncer, pensei: ‘Vou procurar um oncologista só por desencargo de consciência’. Fui em novembro.
O médico pediu para tirar o sapato, ficou olhando para meu dedo, para mim e para a biópsia. Ele disse: ‘Menina, isso é grave. Você tem que ser internada amanhã. É um câncer. Não entendo por que não procurou antes o oncologista’.
Eu estava sozinha e saí de lá chorando. Liguei para meu marido e minha mãe, mas ninguém acreditou no diagnóstico. Achavam que era erro médico e que tudo isso ia ser explicado. No dia seguinte, fui hospitalizada e era realmente câncer.
Tiraram uma parte do dedo para verificar extensão da doença. No dia 22 de dezembro, saiu o laudo. Teria que amputar o dedo. Era um melanoma.
O médico disse que não me daria falsas promessas. Ele falou: ‘Esse tipo de câncer, mesmo fazendo tratamento, vai ser só cuidado paliativo. Só vai te dar sobrevida. O que você tem não tem cura’. Levantei a cabeça e fui procurar uma segunda opinião.
No outro hospital, falaram que era um câncer grave, mas que não era fim do mundo e existia tratamento.
Fui a um terceiro hospital porque o convênio não cobria a cirurgia. Na primeira consulta, o cirurgião chamou toda a equipe médica para ver meu dedo e decidir o que seria melhor fazer. Eles estudaram e deram o veredito: estava muito necrosado, e o câncer já tinha atingido todas as dermes. A esperança era que os linfonodos [que são parte do sistema imunológico] não tivessem comprometidos.
Fiz cirurgia e estudo dos linfonodos. Eles estavam sãos. Amputei o dedão esquerdo. Não precisei de radioterapia ou quimioterapia e tenho que ir de três em três meses ao médico fazer uma bateria de exames porque a taxa de reincidência é muito alta. Creio que esteja curada e que o câncer não volte.
Senti muito medo. Depois do diagnóstico, mentalmente, acabei com meus sonhos e objetivos. Achei que eu não fosse durar muito tempo. Meu Natal foi péssimo.
Meu marido ia todo santo dia para a casa da minha mãe para trocar meu curativo. Meus pais me deram muito apoio também.
As pessoas não sabem o que é ter a doença. Ouvi: ‘É só um câncer no dedo’. Mas não é só isso. Envolve o lado psicológico.
Eu me sinto melhor porque estou livre do câncer. Mas tenho vergonha de andar de chinelo. As pessoas são preconceituosas, ficam olhando. Mas isso pode mudar. Ainda está muito recente.
Conheci o Instituto Oncoguia por uma amiga enfermeira que cuidava de mim. Acessava o site e ligava para o 0800. Isso ajudou muito porque várias informações são escondidas dos pacientes, como o direito à retirada do FGTS.
Meus sonhos voltaram todos. Meu primeiro projeto é engravidar. Quero terminar de pagar minha casa, fazer pós em gestão empresarial, viajar bastante, me divertir e brincar com meu cachorro, sair com meu marido.
Tenho muita fé. Para quem está passando por isso, eu falo: ‘Não perca a esperança, não importa o que os médicos digam’. Busque duas ou três opiniões diferentes e fique ao lado da família, porque é ela que vai conseguir dar apoio nesse momento tão difícil.”
Veja outros textos do Instituto Oncoguia no Catraca Livre
Por QSocial
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Em fevereiro do ano passado, fui à dermatologista e fiz biópsia. Ela falou que a mancha não tinha importância, mas que seria interessante fazer procedimento estético para tirá-la.
Perguntei: ‘Posso fazer isso quando eu quiser?’ Ela disse: ‘Pode’. Eu teria que sair de licença. Meu chefe autorizou a ir em junho, durante as férias dele.
O convênio de saúde demorou a aprovar porque viu o tratamento como procedimento estético. Consegui o OK em agosto, quando meu chefe havia voltado. Pensei em fazer a cirurgia nas férias, em dezembro.
O local doía e, em qualquer batidinha, sangrava. Como meu chefe falou em câncer, pensei: ‘Vou procurar um oncologista só por desencargo de consciência’. Fui em novembro.
O médico pediu para tirar o sapato, ficou olhando para meu dedo, para mim e para a biópsia. Ele disse: ‘Menina, isso é grave. Você tem que ser internada amanhã. É um câncer. Não entendo por que não procurou antes o oncologista’.
Eu estava sozinha e saí de lá chorando. Liguei para meu marido e minha mãe, mas ninguém acreditou no diagnóstico. Achavam que era erro médico e que tudo isso ia ser explicado. No dia seguinte, fui hospitalizada e era realmente câncer.
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