Efeitos colaterais a médio e longo prazo

Mesmo depois que o tratamento oncológico termina, os pacientes podem desenvolver algum sintoma ou condição de saúde a médio ou longo prazo por conta dos impactos que as terapias, ou a própria doença, causam no corpo. Os chamados efeitos colaterais tardios. 

Esses efeitos podem ocorrer meses ou anos após o tratamento. Avaliar e tratar essas consequências são partes importantes dos cuidados com pessoas que passaram pelo câncer. 

Nesta página:

Praticamente todo tratamento contra o câncer pode causar efeitos colaterais. E diferentes tratamentos causam diferentes sintomas. 

Abaixo, separamos uma lista com os efeitos tardios mais comuns. Mas não deixe de falar com seu médico sobre suas preocupações acerca de qualquer sintoma ou sinal específico no seu corpo.

Efeitos da cirurgia

Os efeitos colaterais tardios que podem ser resultado da cirurgia dependem do tipo de câncer e do local no corpo onde ocorreu o procedimento. Por exemplo, se você foi diagnosticado com um linfoma de Hodgkin e teve seu baço removido por decorrência do tratamento, o seu risco para contrair infecções pode ser maior do que anteriormente. Isso porque o baço é um órgão muito importante para o sistema imunológico.

Pacientes de cânceres ósseos e de tecidos moles podem ter perdido parte de um membro ou ele por inteiro. Isso pode trazer tanto efeitos físicos como emocionais. Um exemplo é a dor do membro fantasma, ou seja, sentir dor no membro que foi removido, mesmo que ele não esteja mais lá. A reabilitação pode ajudar os pacientes a lidar com as mudanças físicas resultantes do tratamento.

Pacientes que passaram por radioterapia ou cirurgia para remover gânglios linfáticos podem desenvolver linfedema, que é o acúmulo do líquido linfático nos tecidos já que não consegue ser drenado, causando inchaço e dor. Os gânglios linfáticos são pequenas estruturas em forma de feijão espalhados por praticamente todo o corpo e que ajudam a combater infecções. 

Já pacientes que passaram por cirurgias na pelve ou abdomen podem ter a fertilidade comprometida. Por exemplo, pacientes com câncer de colo do útero ou de ovário podem ter partes ou até o órgão reprodutor retirado por completo. Pacientes com câncer de próstata também podem ficar inférteis em decorrência do tratamento. Ainda que existam medidas para que pacientes que desejam ter filhos no futuro, elas não são acessíveis a todos e precisam ser realizadas antes do início do tratamento contra o câncer.

Efeitos cardíacos

Tanto a quimioterapia quanto a radioterapia, se realizadas na região do tórax, podem levar a problemas cardíacos. Alguns pacientes podem ter um risco maior, principalmente aqueles que: 

  • Receberam tratamento para o linfoma de Hodgkin quando crianças.
  • Têm 65 anos ou mais.
  • Receberam doses mais altas de quimioterapia.
  • Receberam certos medicamentos, como Trastuzumabe e Doxorrubicina.

Além desses, outros medicamentos também estão relacionados a problemas cardíacos, como: Daunorrubicina, Epirrubicina, Ciclofosfamida e Osimertinibe.

Entre as condições cardíacas, as mais frequentes em pacientes oncológicos são:

  • Insuficiência cardíaca congestiva (IC). É o enfraquecimento do músculo cardíaco. Os sintomas incluem falta de ar, tontura e inchaço nas mãos ou pés.
  • Doença arterial coronariana. É mais frequente em pessoas que receberam altas doses de radioterapia na região do tórax. Os sintomas incluem dor no peito e falta de ar.
  • Arritmia. É uma batida cardíaca irregular. Os sintomas incluem tontura, dor no peito e falta de ar.

Atenção: procure sua equipe médica se sentir qualquer um desses sintomas. 

Pergunte ao seu médico se os tratamentos que você está recebendo podem afetar seu coração. O profissional pode verificar sua função cardíaca e investigar a possibilidade de lesões durante e após o tratamento. Seu médico também pode solicitar um exame de imagem chamado ecocardiograma, que nada mais é do que um ultrassom do coração. Outros testes cardíacos podem incluir um exame físico e um eletrocardiograma (ECG), que avalia a atividade elétrica do coração por meio de eletrodos fixados na pele. 

Hipertensão arterial (pressão alta) também é um efeito colateral tardio possível. Pode ocorrer juntamente com a IC (veja acima), ou pode ser um sintoma isolado. Se você já tiver histórico de pressão alta, seu médico pode já ter incluído o monitoramento da sua pressão durante o tratamento do câncer. A crise hipertensiva é quando a pressão arterial aumenta de repente e rapidamente. Isso frequentemente causa danos aos órgãos, por isso é vital procurar assistência médica imediatamente.

Alguns medicamentos contra o câncer podem causar pressão alta. Exemplos incluem:

  • Bevacizumabe. 
  • Sorafenibe. 
  • Sunitinibe. 

O risco de pressão alta diminui quando uma pessoa para de tomar esses medicamentos. Mas os efeitos a longo prazo não são conhecidos. 

Por isso, se você tem um risco aumentado de hipertensão arterial deve discutir com sua equipe médica para reduzir essas chances. Isso pode incluir a medição da pressão arterial, perda de peso, redução do consumo de sal e adequação alimentar, uso de medicamentos e prática de atividades físicas.

Efeitos nos pulmões

Se você passou por sessões de quimioterapia ou radioterapia no tórax, pode ser que você tenha um risco aumentado de lesões nos pulmões, principalmente se você tem histórico de doenças pulmonares. O risco também é maior para adultos mais velhos. 

Entre os medicamentos oncológicos que podem causar danos pulmonares, estão:

  • Bleomicina. 
  • Carmustina. 
  • Metotrexato. 

Os efeitos tardios nos pulmões provocados pelo tratamento do câncer podem se manifestar como diminuição da eficácia dos pulmões para a troca gasosa, espessamento do revestimento e inflamação do tecido pulmonar que leva a dificuldade para respirar.

Efeitos no sistema endócrino (hormônios)

Alguns tipos de tratamentos contra o câncer podem afetar o sistema endócrino, que inclui as glândulas e outros órgãos que produzem hormônios e gametas (femininos ou masculinos). Por exemplo, a radioterapia na área da cabeça e pescoço pode diminuir os níveis hormonais, levando a alterações na glândula tireoide.

Problemas hormonais em mulheres

Entre os efeitos colaterais relacionados aos hormônios nas mulheres está a menopausa. Muitos tratamentos contra o câncer podem causar sintomas de menopausa em mulheres. Por exemplo, cirurgia para remover os ovários (em caso de câncer de ovário), quimioterapia, terapia hormonal e radioterapia na região da pelve. 

Os sintomas da menopausa causados pelo tratamento oncológico podem ser piores do que os naturais. Isso ocorre porque a diminuição dos hormônios acontece mais rapidamente, impedindo uma adaptação do corpo. 

Mulheres com câncer podem experienciar sintomas como:

  • Mudanças de humor ou desejo sexual.
  • Ondas de calor.
  • Osteoporose.
  • Problemas de controle da bexiga.

Além disso, mulheres que fazem terapia hormonal e que ainda não passaram pela menopausa podem ter períodos menstruais mais leves e menos frequentes. Para outras, eles podem parar completamente. 

Após o tratamento, é possível que a menstruação volte a se regularizar para algumas mulheres, principalmente nas mais jovens. No entanto, mulheres com mais de 40 anos têm menos probabilidade de voltar a ter um ciclo regular e podem atingir a menopausa mais cedo. 

Problemas hormonais em homens 

Alguns tratamentos também podem fazer com que os homens apresentem sintomas semelhantes à menopausa. Isso inclui terapia hormonal para câncer de próstata ou cirurgia para remover os testículos. Os sintomas podem incluir:

  • Mudança no desejo sexual.
  • Ondas de calor.
  • Osteoporose.

Infertilidade

Tratamentos que afetam os órgãos reprodutores ou o sistema endócrino aumentam o risco de infertilidade, que pode ser temporária ou permanente, dependendo do procedimento realizado. 

Saiba mais sobre a fertilidade em pacientes oncológicos

Efeitos nos ossos, articulações e tecidos moles

A quimioterapia, medicamentos esteróides ou terapia hormonal podem levar a osteoporose ou dores nas articulações. A imunoterapia, por sua vez, pode causar problemas nas articulações ou músculos. Pessoas que não são fisicamente ativas têm um risco maior de desenvolver essas condições após o tratamento. 

Além de incluir a prática de atividade física na rotina, é possível reduzir o risco de osteoporose tomando as seguintes medidas:

  • Evitar fumar ou parar de fumar.
  • Consumir alimentos ricos em cálcio e vitamina D.
  • Limitar a quantidade de consumo de álcool.

Efeitos no cérebro, medula espinhal e nervos

A quimioterapia e a radioterapia podem causar efeitos colaterais a longo prazo no cérebro, medula espinhal e nervos. Por exemplo:

  • Perda auditiva devido a altas doses de quimioterapia, especialmente medicamentos como cisplatina.
  • Risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC) devido a altas doses de radioterapia no cérebro.
  • Efeitos no sistema nervoso, incluindo lesões nos nervos fora do cérebro e da medula espinhal, o que se denomina neuropatia periférica (normalmente nas mãos e pés).

O acompanhamento pós-tratamento deve incluir exames físicos regulares e testes de acuidade auditiva para verificar a presença de lesão nervosa.

Dificuldades de aprendizado, memória e atenção também podem ser efeitos colaterais do tratamento oncológico. A quimioterapia e a radioterapia em altas doses na cabeça e em outras partes do corpo podem causar problemas cognitivos em adultos e crianças, levando a dificuldades em processar informações. 

Efeitos na saúde bucal e visual 

As saúdes bucal e visual também podem ser afetadas por alguns tipos de tratamentos oncológicos. 

A quimioterapia, por exemplo, pode afetar o esmalte dos dentes e aumentar o risco de problemas dentários a longo prazo. Já altas doses de radioterapia na área da cabeça e pescoço podem afetar o desenvolvimento dos dentes, além de aumentar os riscos de doenças da gengiva e reduzir a produção de saliva, causando boca seca.

O tratamento com medicamentos esteróides, por sua vez, podem aumentar o risco de problemas oculares. Isso inclui o desenvolvimento de catarata, quando a visão fica opaca.

Por isso, é importante agendar consultas regulares com um dentista e um oftalmologista para acompanhamento. 

Efeitos na digestão 

Tratamentos como a quimioterapia, radioterapia e cirurgia podem afetar a digestão e, consequentemente, a absorção de nutrientes essenciais para a manutenção da saúde.

A cirurgia ou a radioterapia na região abdominal pode causar cicatrização de tecidos, dor crônica e problemas intestinais, como diarreia crônica. 

A consulta regular com um nutricionista pode ajudar os pacientes com problemas de digestão a obter nutrientes suficientes. Também é útil consultar um médico gastroenterologista, especializado no trato digestivo. 

Efeitos emocionais

Depois do fim do tratamento oncológico, é normal que você experimente um furacão de emoções, tanto positivas como negativas. 

Você pode estar se sentindo aliviado ou grato por estar vivo, ao mesmo tempo que sofre com o medo de uma recidiva, sente raiva ou culpa pelo seu estado de saúde ou pela forma que o câncer afeta você e àqueles ao seu redor. 

Também é comum para quem conviveu com o câncer até aqui (pacientes, cuidadores, familiares e amigos) desenvolvam depressão, ansiedade ou sentimentos de solidão, o que impacta diretamente na qualidade de vida da pessoa. 

Por exemplo, pode haver o desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático. Este é um transtorno de ansiedade que pode aparecer depois de se vivenciar um evento muito estressante ou ameaçador à vida, como o diagnóstico e tratamento de um câncer.

A experiência pós-tratamento de cada pessoa é única. Por exemplo, alguns enfrentam os efeitos emocionais negativos do câncer, enquanto outros dizem que têm uma perspectiva positiva renovada sobre a vida. Para entender todos os sentimentos que podem lhe atingir nesse momento, é importante buscar a ajuda de um profissional especializado no cuidado emocional, como psicólogos, psico-oncologistas e psiquiatras. 

Cânceres secundários 

O fim do tratamento para o câncer pode não significar o fim da jornada. Pacientes que já finalizaram seus ciclos de tratamento têm um risco maior de desenvolver outros tumores

E isso pode acontecer de duas formas: 

Um novo câncer: aparecimento de um novo câncer primário, sem relação com o já tratado, que pode se desenvolver como um efeito tardio de tratamentos anteriores contra o câncer, como quimioterapia e radioterapia. 

Câncer secundário: surge como uma consequência do câncer primário que se espalhou para outras partes do corpo (metástase).

A quimioterapia e a radioterapia também podem danificar as células-tronco da medula óssea. Isso aumenta o risco de cânceres sanguíneos, como a leucemia aguda ou a mielodisplasia (quando células formadoras do sangue anormais se desenvolvem na medula óssea).

Por isso, é importante manter suas consultas de retorno sempre em dia. O acompanhamento constante irá ajudar a identificar sinais e sintomas da doença que permitirá realizar o tratamento precoce.

Perguntas para fazer à equipe médica

Aprender o máximo possível sobre os potenciais efeitos a longo prazo do tratamento do câncer é importante para prever, controlar e tratar condições de saúde adversas. E sua equipe multidisciplinar de saúde é a mais indicada para responder todas as suas dúvidas.

Na próxima consulta, considere fazer as seguintes perguntas à sua equipe de saúde:

  • Você pode anotar quais tratamentos eu recebi?
  • Estou em risco de efeitos tardios específicos?
  • Há algo que eu possa fazer para prevenir efeitos colaterais a longo prazo?
  • Que outros especialistas (como um cardiologista ou endocrinologista) devo consultar para monitorar possíveis efeitos tardios?
  • Quais sinais ou sintomas de efeitos tardios devo observar?

Texto originalmente publicado no site Cancer.Net da American Society of Clinical Oncology (ASCO), em setembro de 2019, livremente traduzido e adaptado pela equipe do Instituto Oncoguia.

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