Técnica denuncia racismo após médico não fazer diagnóstico de câncer: ‘Nem sentei no consultório. Ele não me olhou’

A conferente e técnica em segurança do trabalho Léia Silva tinha 25 anos quando, durante o banho, apalpou um pequeno nódulo no seio esquerdo. Dali em diante, viveu uma epopeia. Ela correu para a UBS do bairro e, com insistência, conseguiu um encaixe dali a duas semanas. O ginecologista pediu uma ultrassonografia, feita numa clínica particular, para tentar acelerar o atendimento.
Até Silva conseguir mostrar o resultado do exame para um mastologista, no entanto, passou-se um ano, por causa da fila no sistema público. Quando o dia finalmente chegou, o médico nem sequer a examinou. “Eu nem sentei no consultório. Ele não me olhou, disse que era só um cisto e que estavam mandando qualquer coisa pro setor”, lembra ela, moradora de Itaquaquecetuba (SP), hoje aos 38 anos.
Nos três anos seguintes, Silva passou por situação semelhante com outros dois profissionais. Ela pagou exames do próprio bolso, percebeu o nódulo crescer e notou os linfonodos da axila aumentarem, mas nada sensibilizava os médicos. “Eles diziam que eu era jovem, que estava procurando doença onde não tinha. Quando eu argumentei que cisto não crescia, um deles me disse que o médico era ele”, rememora.
Desesperada, pediu ajuda a um amigo para conseguir vaga num hospital público de referência da região. Encontrou, finalmente, o primeiro mastologista que, além de olhar seus exames, a examinou de verdade. O médico pediu duas biópsias, que apontaram carcinoma invasivo, já em estágio 3, faltando menos de um mês para o aniversário de 29 anos da paciente.
"Eu lembro que, quando li o resultado, estava sozinha no corredor do hospital. Em vez de eu ficar desesperada, eu fiquei aliviada, porque finalmente eu tinha um diagnóstico e ia poder me tratar", diz.
O impacto do racismo
Para Silva, o atraso não foi apenas resultado da burocracia do SUS. “Quando eu reclamei que o médico nem tinha me examinado, uma paciente branca, que havia sido atendida por ele, disse: ‘Ué, mas ele me examinou’”, conta.
A percepção de que o racismo estava por trás da negligência médica se consolidou quando ela se tornou voluntária no Instituto Oncoguia, uma organização não-governamental dedicada a informar e defender pacientes com câncer.
Não são todos, mas muitos médicos veem a pessoa preta e periférica que precisa do SUS como ignorante. Antes eu achava que eles estavam me fazendo um favor. Hoje sei que é um direito ser examinada. Se a consulta fosse hoje, eu teria dito: ‘O corpo é meu, quem sente sou eu. Sua obrigação é me examinar’.”
Um novo susto
Após o diagnóstico, o tratamento chegou rápido. Foram quatro sessões da quimioterapia vermelha e quatro da branca. Com a redução do tumor, uma cirurgia removeu toda a glândula mamária do lado esquerdo, preservando aréola, pele e mamilo.
Cinco anos depois, quando se preparava para corrigir a assimetria das mamas com uma cirurgia reparadora no lado direito, veio o novo choque. A ressonância feita nos exames pré-operatórios detectou um novo tumor, um câncer de mama in situ, ainda bem inicial. Dessa vez, não deu para preservar o mamilo.
Silva fez a nova cirurgia em julho de 2022, e nunca voltou a se sentir confortável com a própria imagem. Desde então, segue em tratamento com hormonioterapia e faz acompanhamento trimestral. Toda vez que abre o resultado dos exames, fica ansiosa.
Nos últimos anos, ela se afastou das redes sociais e das palestras por exaustão emocional. “Tive um quadro ansioso-depressivo. Perdi quatro amigas do câncer. A gente é forçada a ser forte o tempo todo, a bancar a guerreira. Mas isso é positividade tóxica. Eu não sou guerreira. Eu sou mulher, mãe, provedora. E às vezes, eu também preciso ser cuidada”, diz. Silva segue como voluntária na causa.
O que explica a volta do câncer?
A recidiva, quando o câncer retorna após um período de remissão, é uma possibilidade presente em todos os tipos de tumor. No caso da doença na mama, depende de alguns fatores. “A idade da paciente, o tipo de tumor, o estágio no momento do diagnóstico e o acesso a tratamentos eficazes influenciam nas chances de o câncer voltar”, explica a oncologista clínica Maria Cristina Figueroa, do Grupo Oncoclínicas de Curitiba.
O aspecto mais determinante na redução do risco de recidiva é o diagnóstico precoce. “Mesmo tumores considerados agressivos, como os triplo-negativos, têm maior chance de cura se forem descobertos logo no início. Esse é o grande divisor de águas no tratamento do câncer de mama”, afirma Figueroa.
No caso de Silva, o primeiro tumor foi diagnosticado em estágio 3, já com comprometimento dos linfonodos axilares, o que aumenta o risco de recidiva. A lesão identificada cinco anos após o fim do tratamento era um tumor in situ, um tipo de câncer que ainda não se espalhou, mas que exige atenção, pois pode evoluir para formas mais agressivas se não for tratado a tempo.
O câncer de mama em mulheres jovens tende a ter um comportamento mais agressivo e, como essas pacientes têm uma expectativa de vida mais longa, o risco de recidiva ao longo dos anos é maior.
Apesar dos desafios, há boas perspectivas. “Mesmo em casos de diagnóstico tardio, hoje temos ferramentas eficazes para reduzir o risco de recidiva. O ideal é diagnosticar o quanto antes, mas, se isso não acontecer, é essencial garantir o acesso aos melhores tratamentos possíveis”, diz a médica.
Matéria publicada pela Revista Marie Claire em 03 de junho de 2025
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