Meu SUS continua diferente do seu: novo estudo escancara as desigualdades
São Paulo, abril de 2025. O Instituto Oncoguia apresenta, no seu 15º Fórum Nacional, os resultados de uma nova e inédita edição do estudo “Meu SUS é diferente do seu”, que evidencia a manutenção de um grave e persistente problema: a desigualdade no acesso ao tratamento do câncer entre os hospitais oncológicos do SUS.
O estudo, realizado entre setembro de 2023 e janeiro de 2024, analisou a existência e o conteúdo de protocolos clínicos em 95 hospitais habilitados em oncologia, cobrindo cinco tipos de câncer – mama, próstata, pulmão, colorretal e melanoma – com foco nas terapias incorporadas ao SUS nos últimos cinco anos. O levantamento é uma atualização da pesquisa pioneira publicada pelo Oncoguia em 2017.
Principais achados
- 69% dos hospitais não enviaram protocolos para todos os cinco tipos de câncer analisados – um forte indício da ausência de padronização e possível negligência na gestão do cuidado.
- Nenhum hospital ofertava todas as terapias recomendadas nas três principais referências avaliadas (Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Ministério da Saúde, Lista de Medicamentos Essenciais da OMS e escala da ESMO – European Society for Medical Oncology).
- As DDTs utilizadas como referência nacional estão desatualizadas, com exceção do câncer de mama. Isso compromete a adoção de terapias modernas e efetivas já incorporadas pelo SUS.
- A desigualdade regional é marcante: terapias recomendadas internacionalmente estão disponíveis em menos de 5% dos hospitais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, especialmente no tratamento de pulmão e melanoma.
Análises por tipo de câncer
- Câncer de mama: alta conformidade com quimioterapia, mas baixa adesão às terapias-alvo modernas, como inibidores de PARP e iCDK4/6.
- Câncer de próstata: apesar da recomendação da Conitec, a Abiraterona ainda não está plenamente disponível, e há uso recorrente de terapias antigas menos eficazes.
- Câncer de pulmão: imunoterapias e inibidores de EGFR, já incorporados, seguem inacessíveis na maioria dos hospitais.
- Câncer colorretal: baixa disponibilidade de anticorpos anti-VEGF e anti-EGFR, apesar de seu reconhecimento internacional.
- Melanoma: em muitos hospitais, ainda se usa Interferon, uma droga obsoleta, enquanto imunoterapias modernas incorporadas permanecem inacessíveis.
Conclusão
A principal mensagem do estudo é contundente: a falta de protocolos unificados, atualizados e obrigatórios escancara que o SUS ainda não oferece um padrão nacional real de cuidado oncológico. Cada hospital segue operando dentro de suas possibilidades, sem garantias mínimas para os pacientes.
“Ainda estamos em um sistema que, na prática, permite que o tipo de câncer que você tem e o CEP onde você mora definam suas chances de viver ou morrer. Isso é inaceitável”, afirma Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia.
Para Marina Sahade, oncologista e diretora do comitê científico do Oncoguia “é inacreditável constatar que passados oito anos do primeiro estudo, os serviços do SUS continuam absurdamente desiguais e sem padronização, e seguimos sem garantir que as novas tecnologias já incorporadas não estejam disponíveis para a maioria dos pacientes”, desabafa.
O Oncoguia reforça a necessidade urgente de:
- Finalização e implementação real dos novos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs) do Ministério da Saúde com financiamento adequado;
- Criação de indicadores públicos e transparentes de acesso a terapias oncológicas;
- Compromisso nacional com a equidade no cuidado do câncer.
Sobre o Instituto Oncoguia
O Oncoguia é uma organização sem fins lucrativos que há 15 anos apoia, informa e defende os direitos dos pacientes com câncer, com o propósito de fortalecer, encorajar e guiar todas as pessoas que convivem com a doença para que passem por esse desafio da melhor forma possível. A instituição atua por meio de projetos e ações de informação de qualidade, educação em saúde, apoio e orientação ao paciente, defesa de direitos e advocacy. Além disso, o Oncoguia dispõe de um canal de atendimento focado no acolhimento e no esclarecimento de dúvidas e resolução de problemas relacionados a acesso, qualidade de vida e direitos dos pacientes. Basta ligar gratuitamente para 0800 773 1666.
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