IX Fórum Nacional Oncoguia

1º dia – 16 de abril de 2019

  • Palestra de abertura e lançamento da pesquisa Oncoguia/IBOPE “O câncer e a população brasileira: percepções, sentimentos e impactos”

A presidente do Oncoguia, Luciana Holtz, abriu o IX Fórum Nacional de Políticas em Oncologia apresentando a pesquisa inédita realizada pelo instituto em parceria com o Ibope “O câncer e a população brasileira: percepções, sentimentos e impactos”. A pesquisa apontou que 100% das pessoas têm algum contato com o câncer, no entanto muita gente ainda desconhece as causas da doença e muitas pessoas ainda têm uma perspectiva negativa sobre o câncer, considerando a doença uma sentença de morte ou até mesmo sinônimo de sofrimento e dor. Além disso, 1/3 dos entrevistados ainda acreditam que o câncer é causado por questões psicológicas e muita gente não associa a doença ao tabagismo, a obesidade e ao sobrepeso. Fora isso, os entrevistados consideram o impacto emocional como um dos principais impactos da doença na vida de pacientes. 

Regina Liberato, Diretora Voluntária de Projetos Multidisciplinares no Instituto Oncoguia ressaltou a importância de dar voz aos pacientes com câncer para que saibamos com clareza quais seus sentimentos e suas necessidades. Com isso, é possível debater e atender aquilo que buscam e precisam sem fazer suposições quando o assunto é o impacto emocional do câncer na vida dos pacientes.

Ana Maria Pires, Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Enfermagem em Oncologia e Hematologia (ABRENFOH) destacou os impactos físicos do câncer na vida dos pacientes a fim de saber como lidar com os efeitos do câncer fora dos momentos em que este paciente está recebendo um suporte direto de especialistas. Para isso, Ana Maria ressalta a importância de aprender as necessidades que os pacientes têm em fora das clínicas e hospitais para poder educá-los a cuidarem de si mesmos em suas vidas cotidianas.

Tatiana Bukstein Vainboim, Presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) ressaltou a importância de encontrar parceiros e aliados para possibilitar que os pacientes estejam bem-informados, além disso, ela destacou a necessidade de as políticas de saúde incluírem diretrizes políticas para o tratamento psicológico de pacientes com câncer, melhorando a integralidade do tratamento. Afinal, o acolhimento desde o diagnóstico é benéfico para toda a qualidade de vida destes pacientes.

Para Theo Ruphert, Editor da Revista Saúde na Editora Abril a pesquisa apresentada pelo Oncoguia pode refletir o impacto com o qual as notícias chegam à população, deixando as pessoas com uma visão mais negativa sobre o mundo do câncer. Ele acredita que uma questão importante é pensar em uma forma diferente de comunicar notícias sobre o câncer, como por exemplo, passar a tratar o câncer de fato como uma doença crônica, melhorando assim a perspectiva do paciente e familiares. Theo também ressaltou o impacto das fake news na visão que as pessoas têm sobre o câncer.

  • Por uma oncologia sustentável, acessível e justa: propostas e prioridades

Rafael Kaliks, Oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e Diretor Científico no Instituto Oncoguia abriu a mesa apresentando dados gerais sobre o câncer no Brasil e fez um comparativo com outros países. Dentre os destaques, Kaliks apresentou dados que mostram que no Brasil, quando comparado com os EUA, alguns tipos de câncer apresentam menor taxa de incidência, porém maior taxa de mortalidade. Com isso em vista, dentre as estratégias importantes para mudar esse cenário e combater o câncer, o palestrante destacou os papéis da prevenção e do tratamento adequado. Entre as propostas e prioridades, o especialista destacou a facilitação do acesso à vacina contra o HPV, a atenção ao Papanicolaou, a realização de colonoscopia, a aderência à mamografia e à realização de testes genéticos para o câncer. Dentre outras propostas, também apresentou a ideia de uma agência regulatória única para a avaliação de tecnologias a fim de garantir a todos o acesso às novidades em oncologia.

Nelson Teich, Doutorando na Universidade de York no Reino Unido ressaltou que a falta de recursos é uma das principais dificuldades quando falamos em oncologia sustentável, acessível e justa. Além disso, a abordagem superficial dos problemas reais também impede que as coisas melhorem e sejam como de fato deveriam ser para beneficiar o paciente. Por isso, entre suas principais propostas, ele aponta a necessidade de um sistema público segmentado por diferentes patologias e regiões que funcione tendo em vista alguns passos: primeiro tem que saber quanto dinheiro tem à disposição, depois é preciso mapear qual a necessidade da população para saber o que oferecer e assim é possível definir a alocação de recursos de forma inteligente incluindo, inclusive, a capacitação profissional. Após tudo feito, é preciso medir a eficiência do que está sendo realizado em tempo real para fazer as adequações necessárias.

Denizar Vianna, Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE/MS) passou pela jornada do paciente destacando os principais gargalos e possíveis soluções em cada etapa do atendimento no sistema público de saúde. Ele ressaltou a importância da atenção primária para que os pacientes oncológicos sejam diagnosticados precocemente e neste aspecto, um desafio apontado é a capacitação profissional e o treinamento de pessoas para essa detecção precoce. No atendimento de média complexidade, Denizar Vianna destacou o desafio dos pacientes de terem acesso a um especialista capacitado para sua necessidade. Já quando entramos em questões relacionadas ao tratamento, o secretário ressalta o tempo entre diagnóstico e tratamento como um gargalo do SUS que acaba comprometendo a efetividade do tratamento. Por fim, ele concordou com a necessidade de uma agência que unifique os processos de incorporação de novas tecnologia e também abordou os acordos de compartilhamento de risco como uma alternativa a mais para melhoria no acesso.

  • O grave problema das biópsias diagnósticas

Rafael Kaliks, Oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e Diretor Científico no Instituto Oncoguia explicou o processo de uma biópsia, algo que pode parecer simples, mas que envolve equipamentos sofisticados e a necessidade de equipes bem preparadas. A biópsia é o procedimento realizado para obter material que será processado e analisado pelo patologista para definir a linhagem celular do tecido analisado. Para apontar detalhes ainda mais específicos como a classificação e subclassificação do tumor, são realizados exames como macroscopia e imuno-histoquímico. Essas características moleculares ou genéticas possibilitam a prática da medicina de precisão, que é o tratamento baseado em alvos terapêuticos ou biomarcadores, que permitem tratar cada paciente de acordo com as características específicas do seu diagnóstico.

Clovis Klock, Presidente na Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) - A Biópsia no Câncer: como é feita, quem solicita, desafios e como solucioná-los – Clóvis explicou como funciona uma biópsia na prática, apresentou problemas comuns que podem ocorrer durante a realização do exame e qual o caminho da biópsia até a identificação do diagnóstico. O palestrante também apresentou um panorama da realização de biópsias no setor privado e no sistema único no Brasil. Um dos primeiros problemas apontados por ele, foi a situação da capacitação de patologistas no país. Com residências em patologia bastante atrasadas, algumas sem imuno-histoquímica e sem patologia molecular, as vagas não são preenchidas e muitos médicos desistem da residência ao se deparar com essa situação. Outro problema apresentado é a ausência de laboratórios de patologia em muitas cidades brasileiras, prejudicando os resultados das biópsias que são armazenadas de maneiras irregulares e por mais tempo do que o adequado. Uma das propostas apresentada por Clóvis é a revisão da tabela de patologia pelo SUS para que laboratórios privados deixem de se descadastrar por causa de baixos repasses.

Maria Inez Gadelha, Chefe de Gabinete na Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS) - Raio-X do acesso à biópsia no SUS – Maria Inez Gadelha explicou como funciona o diagnóstico no SUS, apresentou tabela de preços em que procedimentos são distribuídos de acordo com a modalidade e passou pelos números de procedimentos realizados hoje no Brasil, mostrando um panorama da realidade do país e das dificuldades enfrentadas, destacando principalmente o impacto financeiro no acesso à biópsias no sistema público de saúde.

Eduardo Neto, Coordenador de Indução à Melhoria da Qualidade Setorial (ANS) - Raio-X do acesso à biópsia na saúde suplementar – Eduardo Neto apontou que a fragmentação no atendimento é um dos gargalos na saúde suplementar quando refere-se ao diagnóstico. Com base na experiência obtida através da OncoRede, notou-se muitas queixas de laboratórios sobre a demora na espera para a autorização das operadoras para a realização de exames, como imuno-histoquímico, por exemplo, o que acabava prejudicando o paciente. Assim, dentre os desafios apresentados pelo palestrante estão a navegação do cuidado, isto é, ter alguém responsável pelo paciente que o auxiliará nessa navegação durante sua jornada como paciente, a redução do tempo entre diagnóstico e tratamento, a cooperação entre os profissionais da fase diagnóstica e a integralidade na atenção ao paciente.

Rodrigo Guindalini, Oncologista no Centro de Oncologia do Hospital Português de Salvador - Acesso a testes moleculares – Vivemos na era da genômica e é impossível tratar adequadamente um paciente oncológico sem ter acesso a testes genéticos hoje em dia. Segundo o palestrante, o teste genético é fundamental em pacientes com câncer hereditário e também na prática da medicina de precisão. Sua importância se destaca pois, com a realização de testes moleculares, é possível identificar pacientes que devem ser submetidos a estratégias especiais de rastreamento e prevenção, além de possibilitar a realização de tratamentos mais individualizados e da terapia-alvo. A identificação de pessoas que devem passar pela realização de testes moleculares começa com uma conversa com o paciente com base em seu histórico familiar. Entre os desafios, está a disponibilização dos testes genéticos no SUS, enquanto que na saúde suplementar apenas geneticistas podem solicitar a realização do teste.

  • Auditoria CGU sobre a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer: Resultados finais 

Tiago Matos, Diretor de Advocacy no Instituto Oncoguia destacou alguns dos desafios para se fazer política pública na saúde. Toda política pública nasce imperfeita, porque nem todos grupos de interesse estão participando da tomada de decisão. É só na prática que saberemos quais efeitos colaterais as políticas públicas vão gerar. E levanta a questão: por que não existe monitoramento constante das políticas públicas?

Rodrigo Eloy, Auditor Federal de Finanças na Controladoria-Geral da União (CGU) e Auditoria da Área da Saúde apresentou a estrutura da CGU em relação à sua atuação na saúde e mostrou um exemplo prático de como é feita a avaliação da política nacional de prevenção e controle do câncer. Com um trabalho estruturado em 6 subprojetos que avaliam a estruturação de estabelecimentos, custeio, regulação de acesso e oferta de tratamento, concluiu apresentando algumas propostas que podem ser colocadas em prática para que o modelo seja mais sustentável.

Participaram da mesa de debate posterior às apresentações Pascoal Marracini, Presidente da Diretoria Executiva na Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer (ABIFICC) e Nelson Teich, Doutorando na Universidade de York do Reino Unido.

  • Câncer no legislativo: o meu envolvimento com a causa

Silvia Cristina Amancio Chagas, Deputada Federal na Câmara dos Deputados e Presidente da Frente Parlamentar Mista em prol da Luta Contra o Câncer – Paciente de câncer de mama, Silvia Cristina enfrentou dificuldades para ser tratada no Estado em que morava, Rondônia, e a partir daí começou a levantar essa bandeira para mudar a vida de outras pessoas que poderiam sobreviver ao câncer. Hoje tem dois projetos de Lei na Câmara Federal: um para que leitos particulares sejam oferecidos para pacientes que não conseguem leitos pelo SUS e outro para que medicamentos contra o câncer estejam na lista do SUS. Silvia também atua na comissão de seguridade social e lidera um grupo de trabalho para revisão da tabela SUS.

Carmen Zanotto, Deputada Federal na Câmara dos Deputados destacou a importância da luta para garantir que textos já existentes em defesa do paciente com câncer sejam realmente implementados. Ela também destacou a importância na revisão da Lei dos 60 dias, para que pacientes com suspeita de câncer tenham prioridades.

Frederico de Castro Escaleira, Deputado Federal na Câmara dos Deputados e Médico Oncologista ressaltou a luta pelos projetos que já existem como lei dos 60 dias e agora o projeto dos 30 dias para o diagnóstico após a suspeita de câncer. Entre as questões que destacou estão a importância da prevenção do câncer e a melhoria dos diagnósticos do câncer com a reavaliação da tabela do SUS.

Ruy Carneiro, Deputado Federal na Câmara dos Deputados – Primeiro presidente da frente parlamentar na Câmara, Ruy Carneiro reforça a importância da conscientização das bancadas estaduais sobre a causa do câncer; outra iniciativa importante é o envio de correspondência para câmaras municipais e estaduais para criarem frentes parlamentares; além disso, ele sugere a elaboração da cartilha dos direitos do paciente para serem distribuídas aos pacientes.

Hiran Gonçalves, Deputado Federal na Câmara dos Deputados e Médico é presidente da frente parlamentar da medicina e está entre os nomes que pautaram o projeto de lei dos 30 dias para a confirmação do diagnóstico a partir da suspeita de câncer. Conseguiu a implantação da primeira unidade de radioterapia e braquiterapia no estado de Roraima e também é relator do projeto que regulamenta pesquisa clínica no Brasil.

Eduardo Braide, Deputado Federal na Câmara dos Deputados – Representante do Maranhão, criou o fundo estadual de combate ao câncer que estabelece que 5% do ICMS sobre venda de tabaco e 3% do ICMS sobre a venda de bebidas alcoólicas vai para o fundo, o que ajudou a evitar que o hospital local fechasse alguns de seus serviços. Outro projeto de lei apresentado por ele cria o estatuto da pessoa com câncer, que estabelece princípios, direitos e deveres do paciente.

2º dia - 17 de abril de 2019

  • Vivendo com câncer e os reais desafios para se garantir um direito: o dia a dia do programa Ligue Câncer

Luciana Holtz, Fundadora e Presidente no Instituto Oncoguia abriu o segundo dia do evento apresentando os principais desafios enfrentados pelos pacientes que chegam ao Oncoguia por meio do canal Ligue Câncer pelo 0800 e pelo Fale Conosco. Com mais de 8.000 mil cadastros realizados por pacientes, familiares ou ainda profissionais de saúde, desde sua criação, Luciana destacou que a maioria das ligações está relacionada aos direitos do paciente oncológico e mais de 40% dos pacientes atendidos têm a lei dos 60 dias descumprida. Por fim, Luciana apresentou os próximos passos que serão adotados pelo Instituto em seu canal de atendimento ao paciente e exemplificou com alguns casos atendidos pelo Ligue Câncer. 

Maria Paula Bandeira, Voluntária no Instituto Oncoguia e Advogada destacou que a importância do Ligue Câncer é dar acesso à informação a todo mundo, porque é normal as pessoas com câncer buscarem no Google sobre a doença e acabam se deparando com fake news, milagres e informações que assustam. Os direitos sociais são sempre uma questão importante porque quando a pessoa adoece, também adoece a situação financeira da família, dentre outros fatores.

Tiago Matos, Diretor de Advocacy no Instituto Oncoguia apontou que através do contato com o paciente, o Oncoguia reúne informações para ajudar a pessoa com câncer a resolver o seu problema e sistematizar os dados para tentar identificar onde há falhas estruturais, propor soluções que resolvam a causa dos problemas e contribua para minimizar ou cessar o impacto negativo na vida dos pacientes.

Ana Carolina Navarrete, Pesquisadora em Saúde no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) apontou que no ranking do IDEC, há 6 anos os planos de saúde são foco do maior número de reclamações dos consumidores. Aprofundando nesse item, as reclamações mais comuns são referentes ao reajuste dos planos. Outros aspectos muito questionados são cobertura, falta de informação sobre contrato, descredenciamento de rede e negativas de cobertura.

Renan Vinícius Mayor, Secretário Geral de Articulação Institucional da Defensoria Pública da União (DPU) destacou que um dos problemas no acesso aos direitos dos pacientes é a emenda constitucional 95 que congela os gastos do orçamento e com isso, pacientes que dependem do SUS acabam sendo extremamente prejudicadas chegando até mesmo à morte por falta de atendimento. Ele ainda explica que a visão da defensoria é uma visão não judicializante, pois o órgão busca a resolução dos casos via extra oficial para que todos tenham acesso, mas quando tem pessoas com risco de vida, entram com a judicialização. 

Luana Gonçalves Gehres, Coordenadora da Ouvidoria Geral do SUS (SGESP/MS) – A ouvidoria do SUS é um espaço de auxílio ao usuário para denúncias e relatos sobre problemas enfrentados pelos pacientes para que ações possam ser tomadas para minimizar o problema. Luana ressaltou que em relação à oncologia, mais da metade dos contatos de usuários do SUS são de solicitações, o que aponta para uma dificuldade de acesso. Além disso, outras demandas frequentes nas ouvidorias do SUS são por consultas, cirurgias e assistência farmacêutica.

  • O desafio do acesso rápido ao tratamento

Tiago Matos, Diretor de Advocacy no Instituto Oncoguia

Gélcio Mendes, Coordenador de Assistência no Instituto Nacional do Câncer (INCA) - Ministério da Saúde - Dados sobre o monitoramento e a avaliação do cumprimento da Lei dos 60 dias - Gelcio apresentou dados do Siscan, sistema que monitora a lei dos 60 dias com base nos registros hospitalares. Um dos problemas apontados é a lacuna que existe nos registros das unidades de saúde. Os dados apresentados revelam que nos últimos anos, 55% dos pacientes tiveram seus tratamentos iniciados em até 60 dias, mas ainda é muito alta a quantidade de casos que desrespeitam a lei. Isso mostra também um gargalo na oferta de unidades de atendimento oncológico no Brasil.

Pascoal Marracini, Presidente da Diretoria Executiva na Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer (ABIFICC) - Desafios e propostas pela perspectiva dos hospitais habilitados em oncologia – Presentes em 16 estados do Brasil com 27 hospitais habilitados, a ABIFICC é responsável por 25% dos atendimentos de quimioterapia pelo SUS, 33% dos atendimentos de radioterapia, 25% das cirurgias e 18% dos procedimentos de internações clínicas. Sendo assim, como uma instituição com papel de sustentação do SUS, Pascoal acredita que há uma desarticulação no serviço de regulação do sistema de oncologia no país e defende a criação de um Sistema Único de Oncologia.

Eronides Batalha Filho, Membro Titular e Representante na Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) - Desafios e propostas pela perspectiva dos radioterapeutas – Tornar a radioterapia um tratamento acessível no país e trazer sustentabilidade aos serviços existentes são os dois principais desafios apresentados pelo palestrante. A disponibilização de equipamentos – bastante caros – é um grande problema, pois existem poucos e estão mal distribuídos, sendo que Sul e Sudeste detêm a maior parte. Eronides apresentou números de equipamentos e serviços autorizados no Brasil para radioterapia, evidenciando a defasagem no tratamento. Hoje no Brasil existe 1 equipamento para cada 400 mil habitantes (em regiões mais privilegiadas), enquanto que o preconizado pela OMS é de 1 para cada 250 mil habitantes. Uma das principais propostas apresentadas foi a necessidade de uma reforma no ressarcimento da radioterapia e a criação de um plano de desenvolvimento da radioterapia.

Claudio de Almeida Quadros, Presidente na Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) - Desafios e propostas pela perspectiva dos cirurgiões oncológicos – Quem tem câncer tem pressa e a criação de leis é importante porque mostra o problema, mas é preciso ter condições para que as leis sejam colocadas em prática. Entre as propostas apresentadas é levar à população informações sobre o câncer, quantificar a participação dos estados e municípios no custeio da oncologia no SUS, cobrar o cumprimento do número mínimo de atendimentos nas UNACONS e CACONS, ampliar o acesso a exames de diagnóstico pelo SUS, garantir que todos os tipos de câncer sejam tratados pelo SUS da melhor forma possível e agilizar o processo de regulação do SUS. Hoje os UNACONS e CACONS fazem menos de 600 cirurgias por ano, um número considerado baixo, pois mostra que há uma deficiência em todo o atendimento ao paciente com câncer no SUS.

Lucianno Henrique Pereira dos Santos, Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e Coordenador Médico do Grupo Acreditar/Oncologia D´or - Desafios e propostas pela perspectiva dos oncologistas clínicos – Lucianno questiona a necessidade de uma lei para estabelecer o prazo para que pacientes sejam atendidos diante da realidade do câncer, uma doença que não respeita prazos ou leis. Um problema de todos, porém os players estão dispersos. Por isso, é preciso unir os personagens que podem fazer algo para melhorar as políticas e organizar o papel de cada um, inclusive dos pacientes. O palestrante aponta ainda a necessidade de resolver como equilibrar a balança entre orçamento e novas tecnologias e tratamentos, mostrando a disparidade na incorporação de novas substâncias no Brasil comparado com EUA. Ele concluiu apontando que o papel da SBOC é ser uma fonte científica, educar os oncologistas, participar ativamente nos debates de acesso e incorporação e trabalhar de forma proativa na resolução dos dilemas.

  • Imunoterapia e terapias-alvo no SUS: o desafio de garantirmos acesso a novos e velhos tratamentos para os pacientes com câncer

Rafael Kaliks, Oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e Diretor Científico no Instituto Oncoguia – A gama de medicamentos disponíveis para imunoterapia e terapia-alvo está aumentando e abrangendo cada vez mais tipos de câncer. Isso amplia as opções terapêuticas e redesenha os estudos de testes para novas drogas. Tais novidades têm alto custo, nenhum país tem como arcar com esses valores, então como proposta, o palestrante sugere pensar em melhores modelos de remuneração, como, por exemplo, risco compartilhado.

Gustavo dos Santos Fernandes, Vice Presidente de Relações Nacionais e Internacionais na Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) - O papel moderno das sociedades médicas no processo de incorporação de tecnologias – A imunoterapia virou a chave do tratamento contra o câncer, nada é tão impactante para tanta gente como a imunoterapia. Neste cenário, o papel da sociedade médica é tentar direcionar políticas públicas para obter os benefícios deste tratamento, ajudando o estado a tentar alocar os recursos e definir prioridades, pois a imunoterapia precisa ir para a prática clínica. Mas da forma como é hoje, considerando a quantidade de indicações e a escassez de recursos, além dos valores praticados pela indústria farmacêutica, o projeto não vai andar. Gustavo afirma que para isso é preciso abaixar valores e escolher as melhores indicações para disponibilizar para o maior número de brasileiros possível.

Vanessa Teich, Health Economist - Quais os aperfeiçoamentos necessários no atual modelo de incorporação e remuneração de tecnologias em saúde – Vanessa explicou o processo de entrada de novos medicamentos no Brasil e mostrou o caminho desde a avaliação dos medicamentos até o acesso à população e incorporação no SUS. Para garantir acesso às novidades, Vanessa sugere a necessidade de uma discussão de prioridades para definir melhor os orçamentos destinados a cada área terapêutica. Entre as sugestões apresentadas, destacam-se a integração do processo de preço ao processo de reembolso, uma avaliação combinada do ponto de vista de eficácia e segurança entre SUS e saúde suplementar e o início da definição de preços para incorporação no sistema suplementar.

Henrique Prata, Diretor do Hospital de Barretos abordou a experiência do Hospital de Barretos em programas que oferecem novas terapias aos pacientes e contou sobre o momento em que o Governo proibiu médicos do hospital de informar pacientes sobre imunoterapia. O palestrante questionou a destinação de verba do governo para certos projetos em comparação com a destinada à saúde. Por fim, ele apresentou o vídeo de um médico e paciente do hospital de Barretos que foi beneficiado pela imunoterapia como prova da importância deste novo tratamento.

  • Expectativas e desafios relacionados ao novo processo de atualização do rol, e seu impacto na vida do paciente com câncer 

Tiago Matos, Diretor de Advocacy no Instituto Oncoguia divulgou dados preliminares da Pesquisa Oncoguia: "Planos de saúde e as negativas de procedimentos para pacientes com câncer" que tem o objetivo de levar para os tomadores de decisão indicadores dos pontos que os pacientes identificam como problemas no acesso à saúde suplementar para ajudar no direcionamento de prioridades. Até o momento 90% dos respondentes já tiveram negativa de procedimentos pelo convênio, sendo que exames lideram a lista dos mais negados, seguido por quimioterapia e imunoterapia, e posteriormente por cirurgia. Não fazer parte do rol de procedimentos é a principal justificativa para as negativas dos convênios. E a maioria das pessoas resolvem o problema entrando na justiça.

Sydney Clark, SVP Consulting & Technology Latam na IQVIA - Perspectiva dos especialistas em impacto econômico O palestrante apresentou um panorama dos números da saúde suplementar que teve, nos últimos anos, uma queda no número de beneficiários, que se deu em faixas etárias mais jovens, enquanto que o número de idosos aumentou. Isso acaba gerando uma pressão no sistema, pois idosos usam mais serviços de saúde. Enquanto diminuiu o número de usuários, o número de atendimentos subiu 11% e o gasto da saúde suplementar aumentou 38%. Por isso, como propostas, Sydney apresenta a importância da boa gestão dos gastos e a racionalização do uso de recursos, além do combate a fraudes como medidas importante para a saúde financeira das operadoras

Rogério Scarabel Barbosa, Diretor de Normas e Habilitação dos Produtos (ANS) - Perspectiva da ANS Rogério apresentou números da saúde suplementar no Brasil e explicou o ciclo de atualização do rol da ANS destacando a importância de cada etapa do procedimento para que os medicamentos sejam inseridos no rol. Ele destacou a participação da diretoria colegiada em todas as fases do processo assim como do Cosaúde e também apresentou os critérios para elegibilidade de uma proposta de incorporação.

Lucianno Henrique Pereira dos Santos, Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e Coordenador Médico do Grupo Acreditar/Oncologia D´or - Perspectiva da comunidade médica (SBOC) – O novo processo de incorporação no rol está mais bem desenhado e mais compreensível, mas não tão simples quanto se gostaria. Lucianno destacou que o grande desafio para os oncologistas é o tempo, pois 2 anos para a atualização é um ponto crucial no cuidado do paciente. Ou seja, o tempo entre o lançamento de uma novidade terapêutica, sua aprovação e a incorporação ao rol é muito longo até que o paciente tenha acesso àquela inovação, o que muitas vezes pode prejudicar o tratamento. Por isso, como sugestão, fica a revisão deste prazo de dois anos para incorporação de medicamentos.

Pedro Bernardo, Diretor de Acesso e Assuntos Econômicos na Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) - Perspectiva da indústria farmacêutica – O medicamento é o motor que muda a história da doença. Porém muito se fala da falta de dinheiro, mas será que esse é mesmo um problema? Segundo Pedro Bernardo, o orçamento do ano passado para medicamento de alto custo no Brasil era de 7 bilhões, mas o governo executou apenas 5 bilhões. Como sobrou, o governo reduziu o orçamento. Ele chamou a atenção para a necessidade de olhar os números com base no nosso próprio mercado e orçamento. Dentre os destaques positivos, o palestrante apontou a importância na ampliação da participação da sociedade na submissão de novas tecnologias para o rol.

Patrocinadores: Astra Zeneca, Roche, Abbvie, Amgen, Bristol-Myers Squibb, Novartis, Pfizer, Takeda, Astellas, Bayer, Ipsen, Janssen, Lilly, Merck, MSD, Sanofi Genzyme, Varian.

Apoiadores: Abrenfoh, AMBr, Anahp, CRF/DF, Fehosp, Femama, Fiesp, Go All, Filantropia, Oncologia Brasil, Rede Feminina de Combate ao Câncer Brasília, SBOC, SindiHosfil, Sobrafo e Todos Juntos Contra o Câncer.   

Assista a íntegra das palestras pela playlist 9º Fórum Nacional Oncoguia | Lives, no YouTube.

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