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  • Vanessa Rebelo - Câncer de Colo do Útero
    "A minha intenção em compartilhar a minha história é o de alguém se identifique e possa receber ajuda precoce e não passar pelo que passei."

Aos 38 anos eu tinha realizado o maior sonho da minha vida que era ter uma filha, ali tudo parecia ser perfeito, a melhor fase da minha existência. Não tive uma gestação muito boa, tive diabetes gestacional, pressão alta que evoluiu para um quadro de pré-eclâmpsia, mas ela nasceu bem. 


Durante a gravidez eu tinha uns sangramentos que até então as idas ao PS, não se tratava de nada demais, coloquei o DIU assim que a minha filha nasceu, nos meses seguintes não menstruei, fiquei sem menstruar até uns seis meses de vida da minha filha, onde após os ciclos voltarem, passei a ter escapes todos os meses, que durava dois dias, segundo minha ginecologista estava tudo ok, os preventivos estavam bons e a transvaginal exceto pelo fato de ter alguns miomas estava tudo bem.


Os meses seguiram e esse era o único sintoma desagradável que permanecia, na data que vencia um ano de papaNicolau retornei repeti os exames falei dos escapes que estavam intensos passaram a ser de cinco dias, mas como nos exames não mostraram nada, a afirmativa passou a ser que eu estava assim devido aos miomas e por estar fazendo uso do DIU. Porém nos meses seguintes passei a menstruar duas vezes no mês dois ciclos iguais de 10 dias cada, retornei a médica que me receitou então um remédio hormonal que não obtive resultado tanto que só foi piorando o sangramento passou a ser contínuo eu sangrava o mês inteiro!! 


Questionei algumas vezes se poderia ser câncer devido ao meu histórico familiar, mas todas as vezes a resposta foi negativa, seguia aliviada mas super preocupada pois a minha qualidade de vida estava super afetada. 


 Trocamos de medicação algumas vezes até que a minha ginecologista solicitou uma avaliação cirúrgica pois a essa altura além de sangrar o mês inteiro estava intenso e com muitos coágulos! Fui ao hospital na data marcada ser avaliada com o sonho de operar e acabar com o fato de usar fraldas diariamente, mas o médico que me atendeu além de não me examinar, foi uma estudante que pegou todo meu histórico médico, e saí daquele hospital com a frase dele ecoando na minha cabeça que eu não era eletiva a cirurgia. 


O desespero já era meu companheiro diário mas depois disso tudo piorou; se eu não era eletiva, como ia melhorar? Escrevi um pedido de socorro a um famoso hospital do SUS, mas a resposta foi que nada poderia ser feito por mim. 


 Nessa fase eu usava seis fraldas por dia e os coágulos eram tão grandes que a descarga às vezes era entupida.  Eu segui tomando a medicação que o doutor que me destruiu mandou seria por mais três meses depois eu retornaria para colocar um DIU hormonal.


 Nessa altura eu estava depressiva, vida sexual não existia, eu não podia pegar a minha filha em pé, comecei a ter crises hemorrágicas e como eu ia sempre no mesmo PS eles já sabiam meu caso eu era medicada e voltava pra casa, estava super anêmica, tive alguns episódios de desmaio, os três meses pareciam ser eternos! 


Em uma das vezes que passei mal em casa desmaiei depois de deixar o box do banheiro inundado de sangue mas no PS NOVAMENTE nada mais que ser medicada, tive que receber transfusão sanguínea, implorei a médica pela cirurgia que eu sabia que lá fazia mas ela disse que não podia me ajudar além de me medicar, nesse ponto eu rezava todos os dias para ter uma morte tranquila pois quando se procura casos iguais você acha pessoas na fila da cirurgia há anos imagina eu que não estava nem sequer na fila. Na semana seguinte a esse episódio passei mal novamente e fui levada desacordada para o hospital, me lembro de no caminho acordar e apagar de novo, recuperei levemente os sentidos porque me lembro de ser colocada na cadeira de rodas de meu esposo falar comigo, do atendente me fazendo perguntas mas parecia um filme quase sem som e borrado! No exame clínico a médica percebeu uma massa se exteriorizando via vaginal, ela sinalizou como um mioma parido e eu me senti nas nuvens quando ela disse que eu ia ter que operar!! Meu Deus era o fim do meu sofrimento? Fim de uma anemia super séria de sangramentos sem fim, coágulos gigantes, fim das fraldas, fim de passar vergonha com os acidentes de sangue em locais públicos, eu mal acreditava e assim no dia 1 de Julho fui operada e ao acordar soube que teve que ser feita uma histerectomia total, pois no meio da cirurgia eu tive uma hemorragia intensa. Eu estava tão feliz que os pontos de dor não eram importantes só para o fim do meu sofrimento, mas eu estava enganada ali era o começo da segunda parte dele. 


Quinze dias após a cirurgia saiu o resultado da biópsia, que me foi dado acidentalmente pois nesse dia eu tinha ido receber uma medicação semanal, a médica super jovem no consultório imprimiu a biópsia, digitou algo no celular, fez uma ligação estranha para outro departamento, e eu sentada na cadeira a frente dela já imaginando o que ela ia dizer, e ela disse eu estava com câncer... o mundo caiu ali naquele instante eu vivenciei o que é ter o chão arrancado dos seus pés, e agora? 39 anos uma filha pequena, estava em um trabalho novo, pq fui demitida devido a esse problema anteriormente, passa todas as perguntas pela sua cabeça de uma única vez!!! O SUS não tem acolhimento nos hospitais normais, o tratamento geralmente é frio e robótico, a médica te dá a notícia de câncer como se ela estivesse relatando uma virose, e eu que sempre fui uma chata e perguntei em todas as idas ao PS se poderia ser câncer, certa vez uma médica me disse que eu que não sabia controlar o fluxo!! Enfim eu precisava me reencontrar, entender como seria isso que eu teria que enfrentar e você logo imagina que nos hospitais de câncer é igual nos comuns, aí você pira! 


Eu sempre fui a pilastra da minha família e contar isso pra eles tirou uma coluna da minha casa, eu recebi muito apoio mas todos estavam com medo! Fui encaminhada pro ICESP e ali descobri o que é amor pela medicina, o que são profissionais trabalhando para cuidar e acolher seu próximo, deveria ser assim em todos os hospitais pois nós que dependemos de SUS, somos pessoas carentes financeiramente, existem filas para tudo e muitas vezes você chega em uma consulta e se frustra com um médico que nem toca em você! Mas no instituto do câncer, no momento em que você mais precisa reaprender ressignificar sua existência você encontra apoio, minha oncogineco é maravilhosa eu encho ela de perguntas e ela me responde a tudo pacientemente, a onco radioterapia também maravilhosa, a equipe de braquiterapia que segurou a minha mão nas sessões que fiz, a equipe da radioterapia sempre acolhedora, a da quimioterapia sempre nos fazendo ter fé, a equipe de enfermagem, os atendentes, a equipe da higiene todos lá trabalham por um hospital melhor e assim é!! Como passei por uma cirurgia sem ser diagnosticado antes o que era, fiz 31 sessões de radioterapia, 6 quimioterapia e 4 braquiterapia. Eu realmente renasci porque houve dias de teste de capacidade física o cansaço é surreal os efeitos colaterais que variam de pessoa para pessoa mas que no meu caso eles se acumulavam em um dia especifico da semana que eu mal levantava da cama, mas a fé a vontade de melhorar te fazem levantar. 


Já encerrei dia 25/11/2022 meu tratamento, estou na fase de remissão, tenho muitos efeitos presentes ainda, estou com alguns problemas que foram sequelas do tratamento mas nada se compara a ter passado por esse tratamento tão difícil e doloroso. Ainda estou me recuperando, mentalmente ainda falta muito, sou grata a DEUS por estar viva aqui dando esse depoimento, mas hoje eu penso que devia ter insistido mais na minha dúvida, tenho casos de câncer na família e talvez se eu tivesse batido mais nessa tecla teria descoberto ainda mais cedo!