Confira aqui os depoimentos

  • Silas - Leucemia Mieloide Aguda (LMA)
    Meu depoimento sobre o diagnóstico de LMA da minha esposa e seu transplante de medula”

Era o mês de setembro de 2021, minha esposa Sandra tinha 52 anos, e começou a sentir uma fraqueza fora do comum. No começo achamos que era alguma coisa da menopausa, já que a menstruação dela estava irregular.

 

Como essa fraqueza dela só aumentava, ela foi na UBS aqui do bairro fazer uma consulta com a médica, que falou que poderia ser da menopausa e passou alguns remédios para ela tomar durante uma semana, e alguns exames para ela fazer depois que tomasse os remédios. Nesse tempo ela foi ficando muito fraca e amarelada, até o banho tinha que tomar sentada no banquinho. 

 

Era dia 23.10.2021 e resolvi levá-la ao laboratório para fazer exames de sangue. No outro dia o laboratório ligou e falou que ela teria que refazer porque o sangue tinha coagulado (hoje eu entendo que os exames deram tão alterados que eles não acreditaram, pediram para refazer). No dia que eu a levei para refazer o exame, estava tão fraca que desmaiou na calçada do laboratório, precisei levá-la nos braços até o carro.

 

Dia 27 de outubro de 2021 era o dia que os exames ficaram prontos, então baixei pela internet, já tinha conversado com um amigo que trabalhava na área da saúde sobre o estado dela, então baixei os exames e mandei o PDF para ele. Detalhe: quando nosso filho mais novo nasceu, ela ficou hipertensa. Hoje ele tem 26 anos. Quando completou 8 meses de gestação a pressão dela subiu muito e precisou antecipar o parto, pois ambos estavam correndo risco de vida. Depois disso a pressão dela nunca mais voltou ao normal, chegava a 20/22 e tomava medicação todo dia.Foi a primeira coisa que achei muito estranha, a pressão dela parou de subir. Eu já estava acostumado a mais de 20 anos com ela hipertensa, agora a pressão não passava de 12x8. 

 

Enviei o PDF para esse amigo, e quando ele viu os exames mandou que eu a levasse para o hospital imediatamente. Fomos para um hospital público perto de casa, em um bairro do Rio de Janeiro. Quando chegamos na triagem o médico se assustou quando viu os exames dela e disse que ela estava com problemas na medula, que não estava produzindo os componentes necessários para o sangue. Disse que as veias dela eram como um cano sem água, por isso a pressão dela estava assim. Falou que naquele hospital não haviam hematologistas aqui, que ela precisaria ser transferida para um outro hospital com essa especialidade. 

 

Ele disse que a colocaria no sistema para quando aparecesse vaga chamarem ela e continuou falando que iria ter que internar ela para tomar uma bolsa de sangue. Enquanto isso tudo acontecia, minha esposa não conseguia nem mais manter o corpo na cadeira de rodas, então o médico chamou as enfermeiras e levou ela para a sala vermelha. Ela ficou internada tomando sangue e remédio para controlar a pressão, e esperando que aparecesse uma vaga para algum hospital que tivesse hematologista, os médicos não fechavam um diagnóstico. 

 

Como o sangue dela é O-, mais de 24 hrs esperando uma bolsa de sangue. Ela ficou mais ou menos 15 dias no hospital tomando bolsas de plaquetas e hemácias. É importante falar que ela não teve nenhuma mancha no corpo, e nem um tipo de hemorragia, por menor que fosse. Quando completou 15 dias, passou uma médica pra ver ela e falou assim: olha, eu vou te dar um laudo, vou colocar que sua esposa está correndo risco de vida, e você vai lá no prédio da defensoria hoje depois das 18 hrs que é o platão deles. Leve os documentos com esse laudo que o juiz vai expedir um mandado para os hospitais arrumarem uma vaga pra ela, porque o que nós tínhamos que fazer por ela aqui já fizemos. Só estamos mantendo ela com sangue e remédio de pressão.

 

Fui à defensoria e o juiz expediu um mandado dizendo que os hospitais do Rio de Janeiro teriam 24 horas para conseguirem uma vaga pra ela. Assim, dia 17.11.2021 ela foi transferida para o hospital especializado em doenças do sangue aqui no Rio de Janeiro, onde recebeu o diagnóstico de "LMA".

 

Os médicos explicaram como seria o tratamento, as quimioterapias, que em um primeiro momento ela ficaria internada 40 dias, no mínimo. Começou o primeiro bloco de quimioterapia, que foram sete dias direto, para secar a medula. Ela sempre foi uma pessoa pra cima, então isso fez toda a diferença no tratamento dela, desde o começo ela falou que seria curada. Depois do processo da primeira quimioterapia, a imunidade ficou muito baixa, aconteceram um monte de inflamações, febres altíssimas, queda de cabelo, raspagem da cabeça. Vinte dias depois chegou a hora de fazer outro mielograma para saber se a quimioterapia tinha dado resultado. Foi quando a médica chegou e falou que tinha sido um sucesso, que a medula tinha voltado a produzir as células boas.No dia 28.12.2021 ela teve a primeira alta e veio para casa para passar o ano. Depois teve os blocos de consolidação, cada bloco ela teve neutropenia e voltava para o hospital.

 

Enfim, até que acabou os ciclos de quimioterapia e teve alta, e a medula não voltou a produzir mais células doentes, mas os médicos já tinham pedido para as duas irmãs dela fazerem os exames para um possível transplante de medula. Como ela só tem duas irmãs, as duas fizeram e foram 100% compatíveis. A princípio minha esposa não queria de jeito nenhum, então os médicos falaram que pela experiência deles com o tempo a leucemia volta. Como tinha as duas únicas irmãs 100% compatíveis, o que é um milagre segundo eles, era viável que ela fizesse para ter uma vida tranquila.

 

Enviaram ela para o INCA ( dentro tem o Cemo, que é o Centro especializado). No dia 15 de fevereiro de 2023, ela fez o transplante de medula. Minha cunhada foi a doadora. Importante ressaltar que ela já estava um ano com a medula negativa sem aparecer células doentes. 17 dias depois a medula dela pegou e agora, dia 15 de novembro, completa 9 meses de transplante. 

 

Ela não teve nenhum tipo de intercorrência, desde que ela recebeu a medula até hoje, os médicos falam que ela é uma exceção, de tão bem que está. Resolvi escrever porque quando ela ficou doente, achei pouca informação na internet, sobre leucemia, sobre transplante. Outra coisa que ninguém fala é sobre o que os cuidadores passam. Cuidar é uma carga emocional muito pesada. Por isso, a minha vontade era escrever, e dizer para aqueles que recebem um diagnóstico assim que não é o fim. Tenho uma fé alicerçada e creio que Deus cuidou dos mínimos detalhes desde o começo. Não teria como contar tudo aqui, foi muita coisa, muitos detalhes. No dia 27 de outubro completamos 02 anos de luta, vencemos! Muito Obrigado!