Confira aqui os depoimentos
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Priscilla Jacintho Alberto Alves - Câncer de Mama
"Estou na metade do protocolo de quimioterapia. Estou sem sono. Acordei às 01 da manhã e não dormi mais. Senti a necessidade de falar.”
O câncer faz parte da minha vida desde que me lembro. Meu avô materno morreu de câncer de pulmão. Era fumante, não o conheci. Ele morreu jovem… mas conheci parcialmente o impacto da sua ausência. Minha avó ficou viúva muito jovem, ficando na época com 7 filhos.
Anos mais tarde, minha mãe faleceu aos 35 anos, com câncer no estômago. Eu tinha de 5 para 6 anos, e minha irmã, de 3 para 4. Lembro muito pouco da personalidade dela, lembro de momentos… mas lembro muito bem da sua ausência na minha vida! É possível sentir falta de alguém que você não conhece!? Infelizmente, é possível… sinto sua falta até hoje!
Já adulta, me tornei enfermeira e, durante boa parte da minha vida profissional, atuei no setor de Neurocirurgia de um hospital público no município do Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade de prestar assistência a alguns pacientes portadores de tumores cerebrais. Sempre pensei se um dia algo assim aconteceria comigo…
Durante esse período, meu tio — irmão da minha mãe —, fumante durante boa parte da vida, desenvolveu um câncer de esôfago e faleceu em casa, na presença da minha avó. Imagina uma senhora de idade lidar com a perda do marido e de dois filhos para a mesma doença… Não consigo mensurar o sofrimento dela. Minha avó nunca mais foi a mesma… Também, como seria!?
Anos mais tarde, minha avó foi diagnosticada com um câncer de peritônio (metástase). Nunca descobrimos o foco primário… não deu tempo. Ela faleceu meses depois do diagnóstico. Agradeço a Jeová por ter tido a oportunidade de estar ao lado dela, das minhas tias e dos meus primos nesse momento. Pude dizer que a amava, pude me despedir… pude chorar por ela, pude fechar o luto pela minha mãe — e por isso sou grata.
Hoje, aos 42 anos, estou em tratamento de um câncer de mama (carcinoma mamário invasivo do tipo não especial com receptor para estrogênio e progesterona). Tenho medo do caminho à frente. No final da quimioterapia, farei cirurgia e, em seguida, radioterapia. Minhas médicas são otimistas com relação ao meu prognóstico, mas o medo surge em alguns momentos… Afinal, meu histórico familiar é nebuloso. Tenho medo de faltar para minha filha, por ela ter que passar pelo que eu passei.
Mas, nesses momentos de tristeza, procuro lembrar não do que não tenho, mas do que tenho.
Tenho um esposo que está ao meu lado. Ele se chama Eurico, está em todas as consultas, em todas as quimioterapias, chora comigo e me consola! Tenho plena consciência de que não são todas as mulheres que podem dizer isso. (Ele perdeu a irmã em 2023 para um câncer de pulmão… imagina o sofrimento dele.)
Tenho uma filha de 10 anos chamada Sophie Vitória, que, diante dessa situação, amadureceu — mas não perdeu sua essência — e é extremamente carinhosa comigo. Tenho uma sobrinha chamada Dandara, que nos ajuda de formas que ela nem imagina. Tenho familiares que demonstram carinho e preocupação comigo. Tenho amigos que estão presentes por mensagens e presencialmente. Não vou citar nomes, pois poderia cometer uma injustiça por esquecer de alguém (são 06h51 da manhã, estou acordada desde 01h… lembra?! rs…).
Tenho irmãos espirituais que sempre têm palavras de apoio nos momentos em que mais preciso. Acredito em um Deus que promete um futuro maravilhoso, livre de sofrimentos e doenças. Então, por tudo isso, sou grata! Procuro sempre me lembrar de como sou abençoada.
Encontrei boas médicas, uma equipe de enfermagem qualificada e humana que me acompanha durante a quimioterapia — e meu tratamento está funcionando! Sou muito grata! Tenho aprendido a dar valor às pequenas coisas, como ao sabor da comida (quem está fazendo quimioterapia sabe do que estou falando!). Dou valor aos dias em que estou sem sentir os efeitos colaterais…
Ah, o mar… como amo o mar. Não vejo a hora de poder aproveitar… de ir à Ilha Grande assim que possível. Estou dando mais valor à minha vida! E por isso sou grata!