Eu tenho 44 anos. Sou enfermeira e trabalho em oncologia, em minha vida vivenciei muitas histórias. Algumas com finais felizes e outras não. Recentemente descobri um adenocarcinoma de cólon. Foi assustador sim, pois o sentimento é que aquela certeza da vida desaparece, e você fica totalmente inseguro sobre o futuro. Na verdade, nunca sabemos o futuro, mas um câncer te balança nesse sentido de forma mais forte.

Recebi apoio da instituição onde trabalho, o que fez ser rápido o meu tratamento, apoio de familiares e amigos mas, foi o rosto de cada paciente que cuidei em vários estágios de suas vidas que me deu a maior força. Eu lembrava a cada dor ou lamento que sentia desses rostos, e lembrava do quanto eles eram fortes, muitos com câncer muito mais agressivo e avançado do que o meu.

Então, como eu poderia não ser forte e seguir também? Eles não imaginam o quanto me ajudaram quando compartilharam comigo a sua esperança, dor, incerteza, chateação, alegria em cada atendimento. E eu sou grata ao apoio de todos, mas em especial aos pacientes que cuidei que me ensinaram o que é viver um dia de cada vez sendo humanos em todos os sentidos da existência e renovando mesmo quando é pesado, a resiliência para seguir em frente. 

Quando eu estava com dor no quarto eu lembrava de cada rosto e da força deles que muitas vezes tinham muito mais para sentir, chorar do que eu e isso me fazia ser forte e seguir. Eu só quero dizer para eles e seus familiares: obrigada.