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  • Jeziel Almeida - Câncer de Laringe e Hipofaringe
    “Quando o câncer transforma toda uma vida expandindo não apenas o mal ou a consequência e causa mas também o imenso leque de oportunidades que se abre quando se conquista uma segunda chance.”

E de repente o fim, ao menos essa foi a primeira coisa que me veio quando em 30/12/2019 após uma semana inteira de intensa irritação de garganta recebi o diagnóstico: Carcinoma Maligno de Laringe. Com planos de viajar para Campinas em janeiro para finalmente conhecer minha primeira netinha, tudo foi interrompido, meu mundo veio abaixo.


Por mais avançada que esteja a Medicina, infelizmente a simples palavra" Câncer" faz vir ao chão toda uma vida, sonhos e planos e o desespero atropela tudo. Durante 8 longos meses de espera, exames e consultas centenas de pesquisas foram feitas,visitei milhares de sites em busca do maior número possível de informação sobre esse tipo de câncer, suas causas, tratamentos e cura; uma forma desesperada de agarrar-me às esperanças de superar mais esse desafio. Finalmente chegou o grande dia em uma mistura de medo e esperança fui à mesa de cirurgia. 


Sempre fui uma pessoa extremamente comunicativa e falante e de repente me ver privado da voz foi uma experiência desgastante e dolorosa. Alguns meses após a cirurgia finalmente tive acesso a minha primeira Laringe eletrônica (doada por um amigo também laringectomizado) e pude finalmente voltar a me comunicar com o mundo longe de papel e caneta. Lentamente fui retomando a rotina, redescobrindo meus novos limites e um novo e desconhecido mundo se abriu para mim. 


Durante esse tempo todo de adaptação à nova realidade o que infelizmente percebi é que um número avassalador de pessoas simplesmente ignoram o paciente laringectomizado em uma mistura de incompreensão e descaso, permeado de pena e dó do laringectomizado, até inconscientemente excluindo essa pessoa do convívio diário. O próprio paciente, devido a nova forma de comunicação, se vê muitas vezes inibido de falar em público e acaba se isolando mesmo do convívio doméstico, o que é um erro. 


Hoje, passado quase 3 anos desde a cirurgia, vivo uma vida completamente normal dentro de minhas restrições. Vivo e interajo normalmente não apenas com pessoas, mas com o mundo inteiro. Busco o tempo inteiro integrar-me e integrar todas as pessoas feito eu a este mundo novo e dinâmico sim, mas que temos mais que direitos, obrigação de viver bem.


O câncer não me tirou a voz mas devolveu-me a visão exata e real do que é o mundo, a vida e principalmente meu papel diante dela. Costumo brincar que não perdi a voz, apenas aprendi a falar de um modo totalmente novo, sou feliz. 


Penso ser nossa OBRIGAÇÃO como " fim da linha do tabaco" alertar ao mundo inteiro sobre os riscos reais e próximos, coisas que sempre imaginamos acontecer apenas com os outros e jamais com nós mesmos. Assim, brincou, rio, falo o tempo inteiro, tento chamar atenção para assim, sempre que tenho oportunidade expor minha história, não com pieguismo mas como alerta sobre o mal que causa o cigarro. Vivo e sou completamente feliz.