Um fenômeno chamado fake news

Se tem uma coisa que faz mal à saúde e quase ninguém está, de fato, prevenido são as notícias falsas. No contexto do câncer, elas impactam a percepção sobre autocuidado, na adesão e na continuidade dos tratamentos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o câncer lidera o ranking de notícias falsas. É o primeiro lugar disparado, competindo ali com todas as outras doenças.
Por trás desse fenômeno, há uma indústria organizada e rica, que abastece as redes sociais com vídeos virais. Uma verdadeira avalanche de desinformação compartilhada muitas vezes, em pouco tempo.
Vamos direto ao ponto? Se você ainda não entendeu por que grupos organizados gastam tempo produzindo informações falsas, senta aqui, eu vou te contar. As fake news em saúde, especialmente no mundo do câncer, são um negócio lucrativo! O objetivo é criar uma solução simples para uma doença complexa e o câncer é o cenário ideal.
Além disso, quem recebe o diagnóstico tem dúvidas e acaba buscando informações na internet. As fake news sobre câncer, infelizmente, são minuciosamente arquitetadas para aproveitar esse momento de fragilidade.
Na prática, funciona assim: "A cura do câncer que a indústria farmacêutica quer esconder de você”. Essa seria uma chamada suficiente para atrair. A cura pode ser qualquer coisa. Porque o objetivo desse tipo de conteúdo é viralizar para VENDER. O que eles vendem? Vendem falsas soluções. A quimioterapia não vai te curar, mas o meu curso de ervas florais, o e-books de comida que mata o câncer, as cápsulas de graviola, ou o áudio de auto cura sim. Acredite, esses e outros tantos produtos estão na esteira da indústria da mentira.
Agora você já sabe o que está por trás de cada vídeo de fake news bombado na internet. Tem muita gente enriquecendo com a dor e o desespero de gente como a gente. E escrever isso mexe comigo também. Porque depois de anos cobrindo meio ambiente, desde que o câncer me tocou, ele virou tema do meu trabalho e entrou de vez na minha pauta. Como paciente oncológica, convivi de perto com a desinformação e as fake news sobre câncer. E percebi que não bastava mais apenas compartilhar informações, eu precisava combater também a desinformação.
Eu realmente acredito que não podemos mais aceitar passivamente que a oncologia seja campo fértil para as notícias falsas. A desinformação sobre câncer é um problema de todos nós. Fake news custam caro. Fake news custam VIDAS!
Quézia Queiroz
(Jornalista, Membro do Comitê de Pacientes Oncoguia, e recebeu tanta notícia falsa sobre câncer que criou o Oncofake, para desmentir boatos sobre a doença. @oncofake)