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Acordei e olhei ao celular a data de hoje: 25 de março. Sim, é o nome da rua de comércio popular da maior cidade do país, mas há exatos três anos, começava o fim da vida do meu pai, o seu renascimento para uma nova vida. Porque estou a usar esse termo? Além de acreditar que temos um lugar lá do outro lado, hoje ouvi num programa de TV, Suzana Pires, aquela atriz de Câncer com Ascendente em Virgem, “o contrário de vida não é morte. O contrário de Morte é Nascimento. A vida é o que temos entre elas.”

Fiquei com isso ecoando na minha mente, enquanto alternava entre o liquidificador a triturar uma fruta para o suco do almoço e a TV. Depois, a pesquisar no celular o seu contato, para ouvir a última mensagem dele para mim, nos quais pedia para eu acender uma vela na sua capela, pelas almas - era segunda-feira, pois segundo os católicos, a segunda feira é destinada as almas do purgatório. Lágrimas rolaram do meu rosto, sequei-as antes que as crianças chegassem da escola. Sim, porque adulto não tem direito nem de chorar ou ficar triste, tem que ficar triste fazendo as funções de adulto. Olhei fotos, rolei as mensagens daquela semana, entre 24 de março, dia da cirurgia a 06 de abril, dia da morte... 

Durante esse tempo, me questionei se a escolha por operar aquele câncer, numa pessoa com 82 anos fora assertiva. Questionei a Deus a injustiça por eu ter voltado há tão pouco tempo pra casa, depois da cirurgia, químio e rádio, e meu pai ter sido acometido pelo câncer, sem me dar oportunidade de curtir a sua presença. Me perguntei como ele teria sido acometido com um câncer raro. Muitas das perguntas eu já tinha resposta, embora tivesse muito sentimento de culpa, dor, saudades... o que foi possível, foi feito. No fundo, mesmo com o coração cheio de esperança, que havia gravidade no seu caso e que, caso se confirmasse a lesão do câncer de vias biliares atingido outros órgãos, talvez não restasse tempo a quimioterapia, restando-lhe a morte.

Fui almoçar... uma mensagem me chegou ao celular e me chamou atenção: minha enfermeira paliativista havia me enviado alguns áudios; ela não estava na consulta que tivera há alguns dias, onde estava a falar sobre as diretivas antecipadas de vontade. Se justificava, onde passara por uma cirurgia de última hora e ainda sobre as perdas da vida, sobre a sua vozinha que, apesar da idade e de toda vitalidade (como meu pai), passou por um procedimento e após dias no hospital, havia falecido. Ouvi aquela mensagem e percebi, que mesmo para quem vivencia através de sua profissão essa tríade que vivemos - nascimento, vida e morte - que havia choro, pesar por não estar próxima dos seus. O que eu fiz? Larguei o almoço de lado e acolhi quem muitas vezes me acolheu. Agradeci pela oportunidade de ter compartilhado algo tão particular. Abracei a distância e me senti pronta a seu chamado. 

Terapia, consulta on-line, encurtaram as distâncias. Choro, acolhimento, agradecimento...medicamentos, mais medicamentos. Como dizia minha mãe “cada um no seu canto, sofre seu tanto”. 

O restante da tarde passou com café e bolo, mesmo a preço de ouro, pois o que vale é o que vivemos, o resto é o resto. 

E meus pais estão guardadinhos no meu peito.

Marta Maria da Silva

(Pedagoga, mãe, órfã, paciente de câncer de mama metastático triplo negativo, membro do comitê de pacientes Oncoguia e da Rede de Pacientes Negros com câncer, moradora de Andorinha/Bahia)

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