Ressignificando a jornada oncológica com a comunicação não-violenta

O que você fez durante o período mais crítico da Pandemia de Coronavírus? Conheço quem ganhou muito dinheiro vendendo produtos digitais, quem ficou sem dinheiro quando tudo parou e quem trabalhou além da conta, quase no limite, emendando plantões e tentando não sucumbir diante de tantos doentes.
Eu consegui estudar. Para mim, foi a oportunidade de fazer uma pós-graduação que estava na minha lista, mas a minha agenda ainda não tinha permitido. Consegui fazer leituras mais densas, com calma, e escrever sobre temas mais complexos, sem o frenesi de prazos e notas, já que até a universidade puxou o freio de mão. E apesar de tudo, foi um momento bom. Estudei a Comunicação não-violenta no contexto oncológico.
De paciente curiosa, passei a observar as relações, a comunicação, as conexões e estudar a psicologia envolvida nesse processo bonito, rico, e desafiador também. Porque o câncer pode chegar bagunçando tudo, eu sei. Seja como paciente ou cuidador, é comum que as emoções se tornem intensas e confusas.
Pacientes e cuidadores têm de lidar com sentimentos conflitantes, e isso pode, muitas vezes, levar a mal-entendidos e tensões na comunicação. Isso já aconteceu por aí? Aqui também! É um conflito normal. Por que a gente muda. Nossas prioridades mudam. E precisamos tanto aprender a comunicá-las de forma efetiva, não é?
E é aí que entra a Comunicação não-violenta. No contexto oncológico, onde muitas vezes as emoções estão à flor da pele, a CNV nos oferece um caminho para lidar com o sofrimento, a dor e o turbilhão de incertezas. Tudo isso de uma maneira mais compassiva. Considerando quem cuida da gente e, ao mesmo tempo, considerando os sentimentos e as necessidades de todos os envolvidos. Porque todos os envolvidos na jornada oncológica importam.
A CNV, desenvolvida por Marshall Rosenberg, nos convida a prestar atenção não apenas no que dizemos, mas também em como nos sentimos e em quais necessidades estão por trás de cada palavra. É, gente! Por trás da nossa falação, tem um tanto de necessidade não suprida.
Se você é paciente, a CNV pode ser uma ferramenta poderosa para expressar o que você está sentindo durante o tratamento. Isso pode incluir a dor física, o desconforto emocional, ou até mesmo o medo do futuro.
Se você é cuidador, a CNV pode ajudá-lo a lidar com a pressão de estar presente para o outro, sem esquecer de si mesmo.
Por mais difícil que seja a jornada, a comunicação não-violenta nos lembra que podemos trilhá-la de forma mais humana, fortalecendo nossos laços e promovendo um ambiente de respeito, mesmo nas adversidades.
Eu sei que esse bate-papo rende… E eu garanto que refletir sobre isso e trazer para o dia-a-dia vale muito, muito a pena. Para quem cuida, para quem recebe o cuidado e para a VIDA! Vai por mim.
Quézia Queiroz
(Jornalista, Membro do Comitê de Pacientes Oncoguia, especialista em CNV e escreveu o e-book Acolhe - Ressignificando a Jornada Oncológica com a Comunicação Não-Violenta que você pode pedir no link da Bio do seu perfil @quezia.queiroz. É gratuito, feito com carinho, de paciente para paciente)