Por que o câncer volta?
Razões pelas quais o câncer recidiva após anos de remissão
Mesmo após passar por tratamentos como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, o câncer nem sempre fica no passado. Em alguns casos, ele pode retornar, um evento conhecido como recidiva. Embora a maioria das recidivas aconteça nos primeiros cinco anos após o término do tratamento, alguns tumores podem reaparecer muitos anos – ou até mesmo décadas – depois.
Por que alguns cânceres retornam e como isso acontece? Entenda!
O que é a recidiva?
Os tratamentos contra o câncer visam impedir que as células cancerígenas se multipliquem, cresçam e se mantenham no organismo. No entanto, é possível que o tratamento não consiga eliminar todas as células cancerígenas existentes, fazendo com elas eventualmente voltem a crescer. Quando isso acontece, o paciente tem a chamada recidiva. O câncer pode voltar no mesmo órgão ou diferentes partes do corpo.
É por isso que muitas pessoas também passam pela quimioterapia adjuvante, como é chamada a químio feita após a cirurgia ou radioterapia. O tratamento adicional serve como forma de evitar a recidiva do câncer, buscando eliminar qualquer célula cancerígena que não tenha sido retirada no tratamento primário. Esse protocolo é comum e faz parte do tratamento para muitos cânceres, como o câncer de mama e câncer de pulmão em estágio inicial.
Na maioria dos casos, a recidiva do câncer acontece por conta de uma metástase, quando o câncer tratado inicialmente volta a aparecer, mas em outro órgão. Nesses casos também é comum que o câncer volte mais avançado. Por exemplo, um câncer em estágio inicial (estágio 1 ou estágio 2) pode recidivar em estágio 4 e com metástases.
Breve revisão da terminologia oncológica
Ao falar sobre a volta do câncer, é importante definir exatamente o que é uma recidiva, bem como alguns outros termos:
- Remissão. Se refere à ausência de doença, remissão não significa que o câncer está curado. Ela pode ser temporária ou permanente.
- Remissão completa. Desaparecimento de todos os sinais da doença em resposta ao tratamento. Isso nem sempre significa que o câncer foi curado.
- Remissão parcial. Diminuição do tamanho de um tumor ou da extensão da doença no corpo, em resposta ao tratamento.
- Sem evidência de doença. É definida da mesma forma que remissão completa.
- Recidiva. Reaparecimento da doença ou sintoma após um período de tempo durante o qual não foi detectado. O câncer pode voltar para o mesmo local onde se originou ou para outro lugar do organismo, após um período de remissão
- Recaída. Retorno de sinais e sintomas do câncer após um período de melhora.
- Metástase. É um segundo tumor originado do tumor primário. As células cancerígenas frequentemente escapam do tumor primário e migram à partes distantes do corpo como pulmão, fígado, cérebro e osso.
- Progressão da doença (doença progressiva). Aumento do tamanho de um tumor ou disseminação do câncer no corpo.
- Resposta parcial. Diminuição do tamanho de um tumor ou da extensão da doença no corpo, em resposta ao tratamento.
- Doença estável. Câncer que não aumenta e nem diminui em extensão ou gravidade.
- Resposta completa. O câncer pode não ser mais detectável após o tratamento. O desaparecimento de todos os sinais da doença, em resposta ao tratamento, no entanto, nem sempre significa que o câncer foi curado.
Por que alguns cânceres recidivam?
Muitas vezes, pacientes já tratados com sucesso contra o câncer são diagnosticados com uma recidiva. Isso não significa que o tratamento foi incorreto ou malsucedido. Em vez disso, é importante entender que alguns tipos de câncer têm mais probabilidade de voltar após o término do tratamento do que outros.
São necessárias apenas algumas células cancerígenas residuais após o tratamento para que o câncer volte a crescer. São necessárias milhões de células cancerígenas juntas para formar um tumor para ser detectado com as técnicas de imagem mais avançadas.
O câncer nem sempre recidiva no mesmo local no qual o tumor se originou. Alguns pacientes podem apresentar recidiva em diferentes órgãos. Por exemplo, após a retirada da próstata para tratamento do câncer, o mesmo tumor pode recidivar nos ossos se as células cancerígenas migraram para esse novo local e não responderam ao tratamento.
Cirurgia e radioterapia
Se, após a cirurgia, o laudo de patologia relatar que as margens cirúrgicas estavam livres de doença e um exame de imagem não mostrar nenhuma evidência de câncer, pode ser difícil entender o porquê da recidiva da doença.
No entanto, mesmo quando nenhuma célula cancerígena for encontrada nas margens de um tumor, algumas delas podem já ter se disseminado pelo sistema linfático, para tecidos próximos ou pela corrente sanguínea para outras regiões do corpo e originar novos tumores. Essas células indetectáveis são denominadas micrometástases.
Casos tratados apenas com cirurgia ou radioterapia, considerados tratamentos locais não são muito efetivos com células cancerígenas que migraram além do tumor original. Além disso, a radioterapia pode não destruir todas as células cancerígenas. O tratamento age danificando o DNA tanto das células cancerígenas quanto das células normais e, assim como as normais podem se recuperar após a terapia,, algumas células cancerígenas também podem resistir.
Quimioterapia adjuvante
A possibilidade de micrometástases é a razão pela qual alguns pacientes são tratados com quimioterapia adjuvante, administrada após a conclusão do tratamento local com cirurgia ou radioterapia. Essa abordagem visa erradicar qualquer micrometástase presente e diminuir as chances de recidiva.
Quimioterapia
A quimioterapia, ao contrário da cirurgia e da radioterapia, é uma terapia sistêmica. Ela é projetada para tratar as células cancerígenas dentro ou próximas ao tumor, bem como aquelas que se disseminaram além das áreas tratadas..
A maioria dos medicamentos quimioterápicos age em um ponto específico do processo de divisão celular e diferentes medicamentos atuam em pontos diferentes desse processo.
Nem todas as células cancerígenas estão se dividindo o tempo todo e as células que não estão se dividindo ou estão em um estágio diferente de divisão celular do que àquele que um medicamento quimioterápico específico foi desenhado, podem sobreviver. Esta é uma das razões pelas quais os pacientes são frequentemente tratados com mais de um medicamento quimioterápico e porque a quimioterapia é pode ser administrada em várias sessões ao longo do tempo.
As células cancerígenas podem se esconder
Existem algumas teorias propostas para explicar o que parece ser a capacidade de uma célula cancerígena de "se esconder" por um longo período de tempo. Por exemplo, de 20% a 45% das recidivas do câncer de mama com receptor de estrogênio positivo ocorrem anos ou mesmo décadas após o câncer ter sido tratado com sucesso.
- Uma teoria é a de que as células-tronco cancerígenas, um subconjunto de células cancerígenas, se dividem mais lentamente do que normais, o que as torna mais resistentes a tratamentos como a quimioterapia. Embora os tratamentos contra o câncer possam destruir muitas dessas células, as células-tronco podem permanecer vivas, prontas para crescer novamente.
- Outro conceito é a dormência ou adormecimento. Às vezes, as células cancerígenas podem ficar adormecidas e, dadas a determinadas circunstâncias, começarem a crescer novamente. Essas células cancerígenas adormecidas, que podem ser células-tronco, podem permanecer inativas por longos períodos de tempo antes de entrar em uma fase de crescimento rápido.
Um sistema imunológico forte ajuda a manter as células cancerígenas dormentes
Recidiva: porque é difícil falar em cura do câncer
Após o fim do tratamento de um câncer, mesmo que não haja mais sinais da doença, sua equipe médica pode evitar afirmar que você está curado do câncer. As chances de recidiva é um dos porquês para isso. A maioria dos tumores tem alguma chance de voltar. Algumas exceções incluem alguns tipos de câncer em estágio inicial que têm um risco muito baixo de recidivar, como o câncer de tireoide por exemplo.
Existem três tipos principais de recidiva do câncer:
- Recidiva local. Quando o câncer volta no mesmo local ou próximo ao local de origem.
- Recorrência regional. Quando o câncer retorna nos linfonodos ou tecidos próximos.
- Recorrência à distância (doença metastática). Quando um câncer retorna em um órgão ou em uma área distante do corpo, como, por exemplo câncer de próstata nos ossos.
Os médicos e pesquisadores determinaram que alguns tipos de câncer têm maior probabilidade de recidivar em regiões específicas do corpo. Por exemplo, uma recidiva à distância do câncer de mama é mais provável de ocorrer nos ossos, cérebro, fígado ou pulmões, enquanto que a do câncer de cólon é mais provável de ser diagnosticada no fígado, pulmão ou peritônio.
Quais tipos de tumores recidivam?
Alguns tipos de câncer são mais propensos a recidivar do que outros. Por exemplo, o glioblastoma, que se forma no cérebro ou na medula espinhal, recidiva em mais de 90% dos casos.
Outro exemplo é o câncer de ovário, cujas estimativas indicam que 85% dos casos retornam após o tratamento bem-sucedido. Certos tipos de linfomas também recidivam em taxas bastante altas.
Os tumores diagnosticados em estágios avançados são mais propensos a recidivar após o tratamento do que aqueles diagnosticados em estágios iniciais de desenvolvimento.
Tratamento da recidiva
Alguns tipos de câncer podem ser mais difíceis de serem tratados quando recidivam. Isso ocorre porque, para a maioria dos tumores, a primeira linha de tratamento usada é frequentemente considerada a mais eficaz. Mas isso não significa que determinado tipo de câncer não possa ser tratado uma segunda vez.
O tratamento para um câncer que voltou depende do tipo de recidiva, quanto tempo passou desde o diagnóstico, tratamento inicial, a localização da recidiva e do estado geral de saúde do paciente. Uma recidiva local do câncer de próstata, por exemplo, pode ser tratada com radioterapia. Da mesma forma, uma metástase de câncer de mama que recidivou no fígado pode ser tratada com cirurgia, com radioterapia ou quimioterapia.
Alguns tipos de câncer, como o câncer de testículo, ainda podem ser curáveis mesmo após a recidiva.
Lidando com a recidiva
Alguns pacientes podem questionar se poderiam ter evitado a recidiva, mas, muitas vezes, esse não é o caso. Se você está lidando com uma recidiva, é importante conversar com seu médico sobre suas preocupações e fazer perguntas sobre quais tratamentos estão disponíveis para o seu caso.
Lidar com a recidiva da doença não envolve apenas os aspectos médicos!
Existem uma série de ações que devem ser consideradas:
- Gerenciamento das emoções. Você pode se sentir deprimido ou com raiva sobre o seu diagnóstico, e esses sentimentos podem afetar sua qualidade de vida. Pode ser útil conversar com um profissional se a depressão, a raiva ou a ansiedade estiverem prejudicando sua qualidade de vida.
- Alimentar-se bem e fazer exercícios. Isso não só melhorará o seu humor, mas também pode ajudar a ser fisicamente capaz de suportar os tratamentos propostos.
- Manter o estresse sob controle. O câncer é estressante, por isso é importante tomar medidas para minimizar a forma como o estresse afeta você. Reservar um tempo para si mesmo com atividades como meditação, leitura ou um tempo maior com a família e amigos ajuda a reduzir o nível de estresse.
Perguntas frequentes
Quais tipos de câncer têm as maiores taxas de recidiva?
Certos cânceres têm maiores taxas de recidiva, como o glioblastoma, que tem uma taxa de recidiva de quase 100%. O câncer de ovário tem uma taxa de recidiva de aproximadamente 85%. Outros tipos de câncer com taxas de recidiva de 30 a 50% incluem sarcomas de partes moles, câncer de bexiga e linfoma não Hodgkin.
Quais tipos de câncer têm as menores taxas de recidiva?
Os tipos de câncer que têm taxas de recidiva relativamente baixa incluem o câncer de mama receptor de estrogênio positivo, o câncer de rim e o linfoma de Hodgkin.
A recidiva é diferente de um segundo câncer?
Ser diagnosticado com um segundo tipo câncer é diferente de ter uma recidiva da doença, porque um segundo câncer começa em um conjunto diferente de células no organismo e não é uma metástase do primeiro tipo de câncer. Isso significa que a pessoa tem ou teve dois tipos de câncer distintos e não um tipo de câncer que metastizou para outra área do corpo.
Uma palavra do Oncoguia para Você
Um diagnóstico de câncer pode ser assustador e confuso, e isso é ainda mais complicado quando o câncer volta após um tratamento bem-sucedido. Conforme os pesquisadores progridem na compreensão de como as recidivas de tumores podem ser ativamente tratadas ou controladas, um número crescente de opções está disponível para o tratamento das doenças avançadas.
Se você foi diagnosticado com uma recidiva, é importante conversar com seu médico sobre seu tipo de câncer, o local da recidiva e sobre quais tratamentos estão disponíveis para o seu caso.
Texto originalmente publicado no site da Verywell Health, em 25/01/2024, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.