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Memories

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Sextou... Mas não da forma que as pessoas imaginam. Sextou com obra em casa. 

Há quase 3 anos, fiz uma reforma considerável na minha casa, quando ainda estava em exame de acompanhamento pós câncer primário. E, depois das últimas chuvas de verão, surgiram goteiras, infiltrações e rachaduras que vinham a me tirar o sono. Como o pedreiro oficial da família estava disponível (com os tempos de hoje é difícil encontrar um prestador de serviço deste tipo bom e que seja de confiança), lá vamos nós e seja o que Deus quiser.

Genivaldo começou nesta profissão aos 17 anos, ajudando em várias coisinhas que meu pai fazia em casa; hoje, ele tem 39 anos, pedreiro sim e dos bons! Aprendeu muita coisa com meu pai, mas nem de longe parece com o serviço dele _ meu pai era ótimo em fundação, mas péssimo em acabamento_ brincava com ele às vezes que até os filhos tinham defeitos, imagine suas edificações! Genivaldo começou a mexer nas rachaduras que surgiram e explicou que, como a casa do sítio foi construída sem colunas, qualquer instabilidade pode provocar isso. A cada batida da marreta na talhadeira, eu lembrava de toda a minha vida em casa, jovem ainda, querendo dormir no final de semana e meu pai com aquela batida compassada as sete da manhã que eu tanto odiava. Ah, como hoje é música para os meus ouvidos! Nem a poeira que cobrira todos os móveis estava a me incomodar. E, entre uma batida e outra, e uma colherada de massa de cimento de areia nas frestas, conversávamos sobre o meu pai literalmente colocando a mão na massa e, quando não dando seus palpites. 

Chegou a hora do almoço... fui almoçar fora com a família, aproveitei e encontrei minha irmã e meu cunhado. À tarde, impaciência era o nome do meu marido e de meus filhos com todo quebra-quebra. Gui e seus espirros, e eu que estava tranquila queria que logo acabasse pra arrumar a casa. 

Dezesseis horas, calor escaldante o dia todo, lá vou eu lavar a casa inteira. O corpo da “cancinha” aqui, apelido carinhoso que meu marido colocou em mim e todas as minhas oncofriends, não é mais o mesmo. Ter câncer está longe de ser fácil! Normalmente cuido dos afazeres domésticos com pausas. Mas, o dia me exigia mais. E, consegui com a ajuda coletiva, organizar metade da casa. 

Dezenove horas, banho gelado pra acalmar aquele corpo quente e suado de tanto trabalho. Sentar, assistir algo, dormir. Raios e trovões lá fora. Chuva ao longe, garoa por aqui... a luz se apaga. Falta de energia na cidade toda. Sinal de celular, adeus. Calor aqui dentro. Lá fora, pernilongos e vento. O que escolher?

Em alternância, começamos a contar histórias de família. De onde viemos, histórias muitas contadas pelo meu pai e minha mãe sobre suas juventudes, das diferenças dos dias de hoje. Do casamento... dos filhos ano após ano... da morte dos meus pequenos irmãos, “anjinhos” como eles os chamavam... Da falta de acesso a tudo: desde vacina, escola, emprego, a equipamentos urbanos. Retirantes artesãos que depois realizaram o processo inverso. Lágrimas escorrem do rosto dos meninos, lembrando dos avós. E, cada história contada, era acompanhada de um “conta mais mamãe”. 

Me senti naquele momento uma reencarnação dos meus pais. Mas, o que sou eu senão um pedacinho deles e de meus antepassados? Como uma noite de chuva e calor, sem tecnologia podem render muitas lembranças!

E dou graças ao criador por cultivar essas memórias com os meus.

Marta Maria da Silva

(Pedagoga, mãe, filha de retirantes nordestinos que construiu sua história de vida na pequena Andorinha na Bahia, que de tão pequena em população caberia num condomínio)

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