Carta para Júnior
Filho, me peguei pensando em tantas perdas. E também no nome que damos a elas. Quem perde pai e mãe, fica órfão. Quem se despede do marido, fica viúva. Mas ainda não tem uma palavra para nomear a mãe que ficou de colo vazio.
Eu ainda tenho uma pasta com seu nome. Tem umas coisas bonitas que salvei para você, enquanto viveu em mim. Foram os dias mais cheios de alegria e tristeza, medo e coragem, preocupação e esperança. Todos bem assim, juntos.
Segui com lágrimas de alegria e de tristeza, mas nunca, nunca arrependida. Você me ensinou tanto! Sua irmã viveu bem menos tempo aqui. Mas foi o suficiente para fazer a gente reviver tudo outra vez. E depois de chorar tanto, percebi que não chorava só por ela. Chorei outra vez por você.
A Eve - uma mulher incrível, com um coração enorme - falou para mamãe que escrever sobre tudo isso poderia ser bom. Meu relato poderia tocar e abraçar outras tantas mulheres que, com câncer ou não, continuam tateando no escuro, em silêncio, guardando uma dor escondida e solitária. Acho que ela tem razão. Ela também é mãe de anjo, sabe como são essas coisas e já teve que sarar essa dor profunda também.
Sabe, filho, papai e eu seguimos. Eu preciso te contar que sangrou, doeu, sarou, cicatrizou e nossa família até cresceu! Agora temos a missão de cuidar de um serzinho que nasceu dentro do nosso coração.
E, mesmo sem ter vocês nos braços, agradecemos tanto, tanto pelos momentos que vivemos. Nós persistimos em caminhar, não abraçamos a amargura, optamos por seguir de mãos dadas e vendo a VIDA com os mesmos olhos - as vezes embaçados de lágrimas - mas sempre cheios de fé e esperança. Isso é bom, né?
E até brinco que ajudamos a povoar o céu. E por falar em céu, de vez em quando eu sonho com você. Lindo e correndo, vindo me abraçar e dizendo: “mamãe, até que enfim você chegou. Eu te esperei tanto”. Obrigada pelos 100 dias de muita VIDA juntinho de mim. Nos vemos na eternidade. Te amo! Chego já, já.
Todo o meu carinho nesse Dia das Mães a todas que ficaram de colo vazio.
Quézia Queiroz.
(Jornalista, Membro do Comitê de Pacientes Oncoguia, e antes de tudo e desde sempre, mãe)