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A mãe tá on

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Amanheceu, chuvisco lá fora e pra bom nordestino, o dia já pedia um capote¹ pra esquentar o corpo. Levanta, acorda os meninos, volto a cozinha. Organiza, lava, limpa... Marido me chamou para irmos tomar um café no Oxente Café, novo empreendimento da cidade. Aproveitei para cuidar de algumas questões relacionadas ao reembolso das passagens do TFD² e a agência bancária para retirar cartão, uma vez que o meu está a vencer. 

Café, tapioca, chuva miúda. Aproveitei para bater um papo com minha irmã. Fui a Secretaria de Saúde, pendências resolvidas. Vou ao Banco. Mesmo com senha de prioridade, tomo um chá de cadeira. Chamada senha, descubro que em função de uma pendência de pagamento junto ao banco, eles “travaram” meu cartão. Aonde³? Faço novo pedido, na opção débito. Aguardar até meados da próxima semana para vermos como fica.

Saio de lá triste. A que ponto chegamos? Nem meus quase vinte e cinco anos de correntista foram considerados. Nem minha adimplência passada... se hoje tenho pendências, é pelo poço sem fundo que entrei desde quando o câncer entrou em minha vida. Venho sem conseguir me erguer desde então; sabe aquela que, no afã de resolver uma situação você cai mais fundo? Estou me sentindo o Indiana Jones em O Reino da Caveira de Cristal, ao cair na areia movediça. Enfim, respiro fundo, marido pergunta e, de colocar panos quentes, joga mais lenha. 

Chego em casa, mensagem de Paola, minha enfermeira paliativista. Aula online sobre cuidados paliativos. Enquanto cozinhava, ouvia aquela aula que teve o poder curativo a minha irritação.  Almoço, descanso e bateu a vontade de participar da Roda de Conversa do Oncoguia, depois de longo tempo longe. Fiz a inscrição. Link recebido. Marido disse que ia resolver umas questões no horário da roda. Enfim, jantar já estava estruturado e o que faltava concluir, faria durante a roda. Desliga a câmera e, foi. 

Enfim, 16:30h, carinhas novas... Bel, Michelle, Adriano e as nossas “psi” Marilia e Márcia. Começa o “conversê” dentro de casa, mudo de cômodo pra conseguir acompanhar melhor. Gui dome, Marcelinho a falar de futebol, marido chega e diz que não conseguiu resolver a pendência.

Chega a hora do jantar, fecho a câmera, sirvo a todos. Me sirvo, ingresso direto no nosso momento formativo de voluntariado. Mensagem no aplicativo de mensagens, problemas no imóvel locado. Problemas com o vizinho. Sim, eu tenho o poder sobre o que o vizinho do imóvel faz... Tento me concentrar, Gui chama para ajudar no trabalho de ciências sobre rochas. Respiro fundo. Ele entristece, dizendo que não o dou atenção. Reclamações sobre o horário da reunião... Desligo a câmera, olhos marejados, chamo Aninha no aplicativo de mensagens colocando que teria que sair. Mesmo que eu conseguisse resolver as pendências, zero concentração... 

Enfim, atendo a demanda de todos, e me pronuncio: _estou à disposição de todos e acho inaceitável que na hora dos meus compromissos eu precise abdicar. É o meu momento, o meu minuto! 

Silencio, me recolho. TV ligada e sem paciência para tal... passava um filme, acho que era com Viggo Nortensen, aquele bonitão do filme Senhor dos Anéis. Só sei que o vilão era aquele bonitão que está fazendo o comercial daquela cerveja com o ator Rodrigo Lombardi. Enfim, o filme eu não prestei atenção, mas nos atores ah, com certeza. Adormeci e mesmo dois dias depois, continuo com aquele aperto no peito, com o choro sentido, com sentimento de não ser compreendida, de não ser atendida em minhas vontades. Parece que a mãe precisa viver a disposição e se anular. Dores no corpo, angústia... E a chuvinha miúda ainda cai no meu sertão.

Marta Maria da Silva

(A mãe que está on 24 horas por dia e precisaria se cuidar mais)

¹ capote- casaco

² TFD- tratamento fora do domicílio   instituído pela Portaria SAS Nº 55/1999, e consiste em assegurar o encaminhamento do paciente atendido na rede pública conveniada ou contratada do SUS para tratamento médico a ser prestado em outra localidade, quando esgotados todos os meios de atendimento no local onde reside, e o deslocamento for maior que 50 km de distância. Os pacientes cadastrados no programa TFD terão direito a deslocamento (passagens/veículos) e ajuda de custo para alimentação e hospedagem do paciente e/ou acompanhante enquanto durar o tratamento.

³ Aonde- na Bahia seria equivalente à “de jeito nenhum”.

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