6º Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão

 

O que é possível fazer a mais pelo câncer de pulmão foi o tema central da sexta edição do Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão. O evento, realizado no dia 27 de março, no Japan House, em São Paulo, reuniu representantes de associações de pacientes e das principais sociedades médicas ligadas ao cuidado do câncer de pulmão. O encontro foi gravado e está disponível na íntegra no canal TV Oncoguia, no Youtube. 

A doença é o quarto tipo de câncer mais incidente no Brasil, entretanto, ele está no topo quando olhamos para a mortalidade. Mesmo assim, o câncer de pulmão não recebe a mesma atenção e investimento que outros cânceres tão preocupantes quanto. Durante o encontro, as sociedades médicas e organizações convidadas apresentaram o que está sendo feito para melhorar o cuidado a pacientes com esse câncer e no que podemos melhorar. 

Câncer de pulmão: valorização, rastreamento e prevenção

A presidente do Oncoguia, Luciana Holtz, abriu o evento apresentando o cenário do câncer de pulmão no Brasil e introduzindo os assuntos que seriam debatidos durante a tarde. 

O cirurgião, Daniel Bonomi, diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), abriu os assuntos do dia trazendo as pautas prioritárias para a sociedade. Entre elas, Bonomi ressaltou a desproporção entre a velocidade com que a tecnologia avança e a disponibilidade dessas tecnologias para o paciente. “O mundo tecnológico aumentou muito a capacidade diagnóstica e terapêutica, permitindo que a expectativa de vida aumentasse. Mas é para todo mundo? A gente vê que não. Essa desproporção é muito pronunciada”, disse o médico. Como exemplo, Bonomi trouxe dados sobre oSUS que mostram que os gastos com o câncer de mama chegam a ser quase 9 vezes maiores do que com o câncer de pulmão. 

Entre as iniciativas da SBCT que visam diminuir essa desigualdade, Bonomi menciona a criação de um Lung Team (equipe multiprofissional especializada em pulmão), iniciativas de formação continuada para a formação de uma cultura de abordagem do câncer de pulmão. Também apresentou a criação da Aliança Contra o Câncer de Pulmão, que deve reunir outras sociedades médicas ligadas à medicina respiratória. 

Em seguida, o pneumologista Thiago Fagundes, membro da comissão de câncer da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), abordou as prioridades e desafios do rastreamento do câncer de pulmão. Segundo o especialista, dados consolidados desde 2020 mostram que o rastreamento tem um impacto importante na mortalidade do câncer de pulmão, podendo reduzir as casualidades em até 17%. 

O médico também apresentou alguns desafios para que um programa de rastreamento seja efetivo no Brasil. Uma das principais barreiras é a distribuição heterogênea de profissionais e recursos, que leva à existência de áreas com pouquíssimo acesso (como áreas rurais remotas) e barreiras culturais que impedem que médicos e pacientes entendam a jornada do diagnóstico. Outro ponto importante é em relação ao uso eficiente de recursos. Segundo o pneumologista, o Brasil conta com números suficientes de tomógrafos para a população de acordo com o estipulado pela OMS, entretanto a tomografia não é tão acessível quanto poderia ser. 

“Precisamos que as orientações para o câncer de pulmão sejam centralizadas de uma forma que nos possibilite planejar como usar os recursos de saúde existentes para esse rastreamento de forma mais inteligente”, ressaltou Fagundes. 

Finalizando o primeiro bloco de apresentações, Sandra Marques, coordenadora estadual do Programa Nacional de Controle do Tabagismo em São Paulo, apresentou os esforços e desafios atuais para o controle do tabagismo, apontado como o principal fator de risco para o câncer de pulmão. 

Em sua fala, a especialista alerta que o tabagismo é uma doença crônica e caracteriza o tabagista como um dependente químico, que necessita de atenção e tratamento como qualquer outro dependente. “Por ser uma droga lícita, a sociedade nem sempre enxerga o cigarro como um risco. Mas ele causa sim uma dependência séria, principalmente se olhamos para os impactos dos produtos mais atuais”, disse Marques, se referindo aos cigarros eletrônicos de 4ª geração, conhecidos como pods. 

Com relação ao controle do tabagismo para a prevenção do câncer de pulmão e outras doenças associadas ao hábito, ela aponta que o Brasil teve êxitos em políticas que afetaram a comercialização de cigarros e criaram ambientes livres de tabaco. Entretanto, a indústria tabagista traz enormes desafios para essas políticas ao introduzir os dispositivos eletrônicos para fumar no mercado. “Esses produtos são divulgados como aliados para quem quer parar de fumar, mas se tornaram muito atrativos principalmente para consumidores mais jovens, por serem coloridos e chamativos”, alerta Marques. 

Além do diagnóstico: exames, biomarcadores e tratamentos

O evento seguiu com o patologista Cristovam Scapulatempo Neto, diretor médico de Patologia e Genômica da DASA e tesoureiro da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). O especialista trouxe importantes questões para a categoria que impactam no volume e qualidade dos exames patológicos de pacientes com câncer de pulmão. 

De acordo com ele, há uma grande carência de profissionais especializados em patologia de forma que os profissionais existentes não são suficientes para o volume de exames. “No Brasil, temos uma média de 1.4 patologistas para 100 mil habitantes. O recomendado é em torno de 4 a 5 profissionais”, disse o médico. 

Além disso, Neto também mencionou desafios de logística, armazenamento e preparo de amostras e falta de orientações clínicas para a realização de exames. “A SBP busca adereçar essas falhar com programas de educação continuada para sócios, capacitação de residentes, incluindo bolsas de estágio e fóruns de ensino em patologia”.

Em seguida, os problemas abordados pelo patologista se conversam com a fala sobre testes moleculares para pacientes com câncer de pulmão da médica Clarissa Baldotto, oncologista clínica, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) e diretora da Escola Brasileira de Oncologia da SBOC. 

A especialista ressaltou a importância dos testes para biomarcadores moleculares no câncer de pulmão, já que eles são essenciais para a prescrição de terapias-alvo. O tratamento, relativamente moderno, pode ser muito mais eficaz para pacientes com determinados biomarcadores do que a quimioterapia. 

“Apenas metade dos pacientes brasileiros com câncer de pulmão são testados e apenas para dois tipos de biomarcadores, o EGFR e o ALK. É uma abrangência muito aquém do ideal”, disse a médica. Para ela, são inúmeros desafios para que isso mude, passando pela falta de capacitação de oncologistas para entenderem os resultados e o difícil acesso aos testes, que não estão disponíveis pelo SUS. 

Por fim, a médica radioterapeuta Flavia Gabrielli, do Grupo Oncologia D'or e membro da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), trouxe algumas informações relevantes sobre o tratamento para o câncer de pulmão. 

Segundo ela, as inovações tecnológicas para a radioterapia possibilitam tratamentos para a doença desde o estágio inicial ao avançado e até para casos metastáticos ou paliativos. Mas a disponibilidade e acesso a esses tratamentos enfrentam desafios. “Há uma grande falta de profissionais. Somos apenas 600 em todo o país, um déficit considerável quando sabemos que 1 em cada 2 pacientes oncológicos irão precisar de radioterapia em algum momento da jornada”, apontou Gabrielli. Além disso, a especialista também ressaltou a falta de máquinas mais modernas no país, impedindo que pacientes tenham acesso à radioterapia de menor toxicidade. 

Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Câncer de Pulmão

Para finalizar o Fórum, o oncologista Fernando Moura, do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do comitê científico do Oncoguia, se juntou a Helena Esteves, coordenadora de Advocacy do Oncoguia, e Luciana Holtz, presidente do Oncoguia, para falar das atuais Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (DDT) para o Câncer de Pulmão. 

Os especialistas destrincharam a DDT do Ministério da Saúde, buscando organizar quais são os principais pontos defasados do protocolo e o que é prioridade para a atualização do documento. A DDT analisada data de 2014 e é utilizada para determinar recomendações de quais tecnologias e protocolos que devem estar disponíveis nos serviços do SUS para pacientes de Câncer de Pulmão. 

Entre os principais tópicos levantados, o rastreamento do câncer de pulmão foi ressaltado por Moura. Atualmente, o documento não prevê exames de rastreamento (raio-x do tórax ou tomografia computadorizada de baixa dose) para pessoas assintomáticas. Nem mesmo para fumantes, que compõe o grupo de risco para o câncer de pulmão

“É importante debater e incluir a questão do rastreio de alguma forma. Existem diversas dificuldades, mas acredito que deixar o documento sem, pelo menos, o registro de que isso existe, é necessário e promove ganhos em sobrevivência global”, disse o oncologista.

Os protocolos para o diagnóstico definitivo, a tipificação do tumor, testes moleculares para a identificação de biomarcadores, acompanhamento do paciente, terapias sistêmicas e demais opções de tratamentos presentes na DDT também foram debatidos. Em especial, a possibilidade de incluir como recomendação a quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) para pacientes com alterações moleculares ALK ou EGFR. 

Os especialistas presentes também foram convidados para debate sobre a DDT e o que foi conversado durante a tarde, no qual abriram para perguntas dos participantes. A mediação foi feita por Luciana Holtz e Helena Esteves. 

O Fórum completo está disponível no canal TV Oncoguia, no Youtube.

Conteúdo produzido pela equipe do Instituto Oncoguia

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