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  • Suamy da Silveira - Câncer de Colo do Útero
    Procurando forças para enfrentar o "depois" do qual ninguém fala.
Como começar? Em março de 2016, marquei uma consulta com a intenção de cauterizar um mioma que, na minha cabeça, sangrava um pouco ao manter relações. Sabia através de eco-transvaginal que meus 3 miomas eram "virados para fora do útero", por isso supunha que o atrito causava o sangramento, que era bem pouco, mas incômodo.
 
Saí desta consulta "de rotina" já com o diagnóstico do câncer, coleta para a biópsia feita, mas já consciente do resultado. Pensei ok, faço a cirurgia e está resolvido. Ledo engando, no laudo da biópsia já dizia, não operável, mais um choque.
 
Então fiz o tratamento protocolar, rádio, químio e braquiterapia. Tive problema somente com o corticóide usado durante a quimio, pois me deixava hiperativa e cheguei a passar 4 dias sem dormir, então a dosagem foi diminuída pelo médico e tudo correu bem.
 
Não tive quaisquer efeitos colaterais, queda de cabelo, enjôo... enfim da quimio nenhum, posso dizer que o "durante" da quimio foi tranquilo. Não tive problemas com a rádio nem com a braqui, ao menos "durante", pele sensível, queimadura, manchas ou rompimentos, absolutamente nada. Sabia ou melhor, sentia, tinha a certeza de que tudo acabaria bem, afinal aquele câncer não me pertencia e iria embora assim como veio, por isso meu estado de espírito se manteve sempre em alta, não me senti deprimida (até porque o corticóide me deixava eufórica) e meu astral estava sempre alto, também não me revoltei com a vida ou com os deuses, sou otimista e encaro as atribulações sem maiores problemas.
 
Terminei meu tratamento em 28 de julho passado e aí começou meu inferno! Por causa do corticóide inchei desesperadamente, além de ter engordado durante o tratamento, pois fiquei desesperada por açúcares e agora este "peso extra" vai levar um tempo para começar a regredir.
 
Por causa da rádio, meu intestino, que resistiu durante o tramento, agora está completamente irregular, se vou sair de casa preciso ficar pelo menos de 4 a 5 horas sem comer, por que tenho diarréia que é impossível de segurar, praticamente a comida "entra por cima e sai por baixo", já coloquei muita roupa fora por ter literalmente descido perna a baixo. Ainda como resultado da rádio, sinto um cansaço desanimador na maioria dos dias, não consigo subir 2 lances de escada sem parar, pois a musculatura das pernas dói tanto que chega a queimar.
 
E o pior é o resultado psicológico que veio com o término do tratamento. Tenho 49 anos e até março deste ano achava que teria outros 35 ou 40 anos de vida pela frente, apesar de a última biópsia ter tido como resultado nenhuma célula cancerígena encontrada, tomei consciência de que não sei mais quanto tempo terei pela frente, a falência do ser humano se apresentou e agora não me sinto capaz de dizer o que quero fazer daqui pra frente, não me sinto capaz de construir nenhum projeto de futuro e isso é o inferno em pessoa.
 
Durante o tratamento, a equipe me ofereceu acompanhamento psicológico caso sentisse necessidade de conversar com alguém, não precisei, pois a doença nunca foi um problema para mim, passei por ela numa boa, mas na última consulta, a consulta de alta, tive que pedir o acompanhamento, pois a insegurança já tinha se instalado e sendo eu uma mulher independente e bem resolvida, estar insegura é algo com o qual não estava preparada para lidar.
 
Minha consulta será daqui 10 dias, depois volto aqui para contar como tudo se resolveu. Honestamente, pior do que a doença é o que se apresenta depois da cura. Como voltar a trabalhar se não consigo sequer controlar o intestino? Como levar uma vida normal se não consigo em alguns dias sequer fazer compras no supermercado? Moro sozinha e a família apesar de se manter em prontidão para me ajudar no que for necessário está longe, eu que me sustento, mas se não posso trabalhar como farei? Como levar uma vida social normal? Essa respondo, impossível!
 
E para terminar, uma pergunta para a qual ainda procuro resposta: "O que será de mim?" Não sei, espero que o psicólogo me ajude a encontrar essa resposta, pois hoje, em alguns momentos chego a preferir não estar curada, pois em tratamento ainda tinha um objetivo que era a cura propriamente dita e agora que a alcancei não sei mais para que lado correr...
 
Não desisti, nem desistirei, se o psicólogo não ajudar vou adiante, psiquiatra, ou, seja lá o que for, mas precisava desabafar, dizer a quem sente o mesmo que não está sozinho(a).
 
É assim mesmo e o mais importante é aceitar, encarar o problema de frente e ir em busca da solução, só assim poderemos voltar a levar uma vida normal.
 
Você não está sozinho(a), busque ajuda em sua equipe! Com muito carinho,
 
Suamy da Silveira