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  • Margarete. - Câncer de Mama
    "Ter câncer"

Descobri o câncer em um momento de muita tribulação no qual meu pai, com a diabete completamente descontrolada, uma ferida no pé onde a gangrena mostrava toda sua exuberância, uma internação caótica e uma cirurgia incerta. 


Foi em uma noite depois de um plantão no leito do meu pai que, no banho percebi algo diferente na mama esquerda, pensei: "preciso ver isso", ficou para depois. Cirurgia do meu pai realizada, a perna esquerda perdida, mas a vida conservada, um alívio que durou pouco porque 3 dias depois minha mãe foi internada com pneumonia dupla. 


Foi mais fácil, não menos preocupante, mas tudo bem. Quando finalmente, no mastologista, sua feição ao me examinar já mostrava nitidamente sua expressão de preocupação. Assim, uma série de exames começou: mamografia digital aumentada, ultrassonografia e ressonância magnética com contraste. O resultado só confirmou as suspeitas do médico e para nossa surpresa, havia algo diminuto mas muito suspeito na mama direita também. Outra série de exames se seguiu: mamotomia guiada por ultrassom second look no lado direito e uma core biópsia do lado esquerdo. Desta forma, a confirmação chegou, carcinoma lobular invasivo grau 2 no lado esquerdo e não especial invasivo grau 1 do lado direito. A sensação foi de ganhar na loteria duas vezes, mas sem receber o prêmio.


O médico sugeriu a remoção total das mamas com reconstrução imediata e portanto outros exames foram solicitados: hemograma completo, coagulograma, eletrocardiograma, ecocardiograma e PET-CT scan. Enquanto realizava os exames o médico se retirou do convênio, não poderia arcar com as despesas de um atendimento particular então, fui continuar meu tratamento em uma tradicional instituição de tratamento de câncer. Novo mastologista, novas solicitações e agora uma divergência de tratamento. Esse achou melhor fazer uma quimioterapia pré operatória e portanto, fui encaminhada para oncologia. 


Chegando lá foi me explicado que meus tipos de câncer não teriam boa resposta aos quimioterápicos e foi solicitado uma outra opinião médica, e lá fui para a consulta com o terceiro mastologista. O terceiro mastologista, foi muito cuidadoso ao explicar todas as minhas possibilidades de tratamento e cabe a mim decidir o que seria melhor. A sensação de segurança foi imediata e a adenectomia com reconstrução mamária foi a minha decisão. Assim, novas consultas e exames foram pedidos: cardiologista, plástico, anestesiologista, RX de pulmão e exame de sangue completo. Tudo ok, chegou a hora de marcar a cirurgia e foi neste ponto que percebi que para o plano de saúde sou apenas um número custoso e que se fosse menos seria uma vantagem financeira mais rentável. Após 21 dias úteis de uma espera cheia de agonia (tempo máximo para liberação de procedimentos e de materiais de alta complexidade estipulado pela ANS), o plano de saúde simplesmente NÃO libera a autorização para sua realização. Sem nenhum motivo, sem nenhuma justificativa e sem o menor respeito, empatia ou compromisso, o plano diz que eu tenho que esperar. Penso esperar o quê? Esperar a morte chegar? Seria uma solução, afinal o que esperar de um plano de saúde que não respeita e nem cumpre as leis que regem nosso país? Não espero mais.


Hoje procuro o que me é de direito nos canais competentes, escrevo e divulgo a minha história e desejo que, como qualquer pessoa, não morrer sem pelo menos ter feito 1 tratamento, pois eu ainda insisto com o diálogo com o ignóbil plano de saúde.