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  • Magno Antonio Baldim - Câncer de Estômago
    Câncer não significa o fim. Na maioria das vezes é o recomeço de uma nova vida.
Memórias do câncer -  Magno Antonio Baldim
 
Introdução.
No dia 27 de maio de 1994, poderia ter sido um dia fatídico, mas não foi. Eu tinha uma única chance, e agarrei-me a ela com todas as minhas forças, com a força de todas as pessoas que me amam de verdade e das que me têm como amigo. Venci. Estou vivo e se for preciso lutarei de novo contra esse mesmo mal ou outro qualquer que queira tirar-me, o que Deus deu-me de mais precioso, a Vida.
 
Amo viver. Amo ver o sorriso dos meus filhos, a força da minha esposa, o carinho de toda a minha família. Hoje, seis anos depois, sinto-me renovado e quase melhor do que antes. O "quase” é mais pelas seqüelas psicológicas, menos pelas físicas.
 
Lições? Sim, aprendi algumas e não as esquecerei nunca mais. Acho que acabei ensinando algumas também, principalmente àquelas pessoas descrentes, que sempre associam câncer com morte. Câncer não é morte. Na maioria das vezes é vida e vida plena, como a que estou vivendo agora.
 
Por favor, não sintam pena de mim pelo o que passei. O que eu menos preciso nesse momento, é desse tipo de sentimento.
 
Dedicatória: À minha esposa e aos meus filhos, pessoas imprescindíveis.
 
Apresentação:
O autor é cirurgião-dentista e funcionário público municipal de Santa Bárbara d’Oeste. Exerce também o cargo de fiscal sanitário no município, mais especificamente na área de Odontologia. É natural de Monsenhor Paulo, Minas Gerais. Nasceu em 29/10/1962.
 
Agradecimentos:
Aos médicos e a todos que se dedicam à saúde; a todos que cuidaram de mim. A todos que se envolveram direta ou indiretamente com meus problemas; Aos amigos de verdade, principalmente na pessoa de Newton Freitas Magnin; A Deus, porque já renasci várias vezes, sem talvez nem merecer tanto.
 
Contava eu com 32 anos. Casado e pai de uma linda garotinha de dois anos, quando tive o desprazer de ficar sabendo que tinha câncer no estômago. Era 1994, mês de maio. Há um ano mais ou menos havia feito uma endoscopia digestiva, pois estava sentindo um pouco de queimação, sempre que me alimentava. Essa endoscopia foi feita em Americana, no Hospital São Francisco.
 
Nessa época, tive como diagnóstico uma severa gastrite e passei a tratá-la imediatamente. Alimentação controlada, nada de álcool e alguns medicamentos para reduzir a excreção de ácidos pelo estômago. Os sintomas desapareceram dentro de pouco tempo, mas continuei o tratamento até o final.
 
Passei um bom período sem sentir mais nada, mas depois de quase um ano, começou uma dorzinha diferente daquela da primeira vez. Tanto fazia estar com o estômago cheio ou vazio, sentia aquela dor que não era forte, mais incomodava.
 
Falei com a Meire (minha esposa) e como tínhamos plano de saúde, resolvemos procurar o atendimento médico pelo convênio. Agora morávamos em Santa Bárbara e resolvi dar uma olhada no jornal local, para ver se havia algum anúncio de médico gastroenterologista. E achei. Encontrei o anúncio de um excelente médico que cuida do meu caso até hoje. Como sempre digo, as coisas nunca acontecem por acaso.
 
Marquei uma consulta com ele. Expliquei tudo o que se passou nos últimos anos: a perda de minha mãe, a cirurgia de meu irmão e os casos de gastrite e úlcera que temos na família. Então ele pediu-me que fizesse uma nova endoscopia. Marcamos e a Meire foi comigo.
 
Não fiquei sabendo, mas o médico disse para ela que o exame havia alguma coisa suspeita e mandou que ela esperasse a biópsia sem se alarmar. Voltamos para casa e dias depois, fomos comemorar o aniversário da nossa filha Raíssa em Alfenas, no dia 09 de maio. A Meire disse que passou todos os dias preocupada, guardando só para ela o que o médico havia dito.
 
Quando voltamos para Santa Bárbara, fomos levar a Raíssa ao pediatra, passamos na clínica onde fiz a endoscopia e pegamos o resultado. De lá fomos ao pediatra e enquanto a Meire entrou com a Raíssa, fiquei na sala de espera e abri o exame. Que susto! Estava lá, escrito bem destacado: Adeno-carcinoma gástrico.
 
Eu parecia não querer acreditar, pensando logo em meu irmão e principalmente em minha mãe. Sim, porque a primeira coisa que se pensa quando se tem uma notícia dessa é a morte, é a sensação de que você tem meses de vida.
 
Mostrei o resultado para a Meire e não sei mais qual foi a exata reação dela, porque eu próprio estava mesmo fora do ar. Só sei que procuramos passar pelo médico o mais rápido possível, para saber a real gravidade daquilo. Dr. Geraldo foi bastante sincero comigo, e como ele sabia que eu era dentista, me perguntou: -" Você já sabe o que é, não é mesmo”? Respondi que sim, e ele disse para ter bastante fé e rezar bastante para que não tivesse metástases.
 
Explicou-me tudo sobre a cirurgia pela qual deveria passar, falando-me que possivelmente teria que retirar o estômago todo. Foram pedidos vários exames pré-cirúrgicos que tratamos de deixar prontos, o mais rápido possível.
 
Inicialmente, havíamos falado em fazer a cirurgia no Hospital, mas como não estava com a U.T.I. bem equipada, acabamos acertando que seria em outra clínica, em Americana. Lá passamos pelo gastroenterologista, que faria a cirurgia juntamente com o meu médico.
 
Marcamos para o dia 27 de maio. Foi tudo muito rápido. Nesse intermédio já havia comunicado toda minha família por telefone e todos pareciam não acreditar no diagnóstico. Fizeram-me passar por uma outra consulta, dessa vez, com o chefe da cirurgia de um Hospital, em São Paulo.
 
Minha irmã, Estela, acompanhou-me e o mesmo diagnóstico foi confirmado. Ele disse que eu havia ganhado na loteria, pois a doença estava bem no início e desde que conseguisse obter êxito na cirurgia, estaria curado. Como existia uma bactéria, a helicobacter piloris, foram passados alguns antibióticos específicos para combatê-la.
 
Com a cirurgia marcada tive que tomar algumas providências necessárias, inclusive um dentista para substituir-me no consultório. Encontrei um substituto, mas veio uns dois dias e desistiu. Meu amigo, Newton, arrumou-me um dentista que trabalhava na clínica dele e era para ficar o tempo que precisasse. Foi nossa salvação, pois passamos por sérias dificuldades financeiras naquela época e o dinheiro que entrava no consultório é que nos ajudou a manter a casa.
 
Também obtivemos muita colaboração de nossas famílias para suportarmos emocionalmente esse pesadelo. Meu pai estava muito aborrecido. Não demonstrava muito, mas não conseguia disfarçar. Trouxe um pouco de dinheiro que o pessoal de Monsenhor Paulo mandou para ajudar nas despesas e entregou-me quase chorando.
 
Nesses dias, estava tão compenetrado acertando os negócios que parecia não estar preocupado com a cirurgia, mas quando fui para o hospital para ser internado, meu comportamento foi totalmente alterado. Aí sim, fui pensar no tamanho do problema pelo qual estava passando, em que tudo poderia acontecer. Até mesmo não sair vivo ou viver pouco depois de tudo.
 
Fui para o hospital acompanhado da Meire e de meu pai. Após uma ficha de internação nos despedimos ali e subi para o meu quarto. Meu pai abraçou-me e desejou boa sorte. A Meire desabou. Parecia que o mundo tinha desmoronado sobre sua cabeça. Já era entardecer quando nos abraçamos e choramos juntos, para nos separarmos logo depois. Não era preciso falar, nossas lágrimas falaram por nós.
 
Fiquei internado junto com um rapaz que estava no pós-operatório de hemorróidas e estava esperando alta. Passeio uma noite terrível. Certa hora, disse para aquele rapaz que iria escrever uma carta para minha esposa. Encarreguei-o de mandar alguém entregá-la de manhã. O conteúdo da carta era esse:
 
"Pita, as coisas nem sempre foram fáceis para nós, mas sempre nos saímos vencedores. Esse é mais um desafio e tenho certeza, vamos vencê-lo também. Seja forte. Prometo ser forte também. Logo estarei junto de você, de nossa filha, de todos os nossos familiares e de todos que se mostraram solidários e amigos neste momento difícil. Estou com um pouco de medo, mas acho que é normal. É o medo do desconhecido. A noite aqui não foi fácil. Demorou muito a passar, mas enfim está chegando o dia. Estou muito confiante e feliz por acabar com tudo isso logo. Não se preocupe (muito), estarei bem. Um beijão, até breve!! Magno. 05:20 – Quarto 115 – 1º andar.”
 
A carta seguiu o destino exato, mas não sei de que maneira. Ainda à noite, no horário de visitas, ninguém de minha família compareceu por haver um engano quanto ao horário. A família daquele rapaz foi visitá-lo e vendo que eu estava sozinho, começaram a conversar comigo. Perguntaram-me o que eu estava fazendo ali. Disse-lhes que seria operado de um câncer pela manhã e eles acharam que eu estava calmo demais. É que eles não sabiam o que estava se passando na minha cabeça.
 
Nessas horas, pensa-se na vida toda que tivemos, passa um filme inteiro pela nossa mente, como se fosse tudo acabar no minuto seguinte.
 
Depois dessas visitas, começou o dilema. Primeiro veio uma enfermeira raspar os pêlos. Foi cochilar um pouco mais e veio a lavagem intestinal. Ô coisa danada de ruim. Colocam vários mls de soro via retal e dizem para você que dará muita cólica e vontade de evacuar, mas que tem de segurar até o fim. Em certos momentos, achei que não iria suportar e soltar tudo em cima do enfermeiro. Já pensou? Você ri porque não é em você. Soro no dos outros é refresco, não é?
 
Assim que acabou o soro, saí correndo e fui ao banheiro. A impessão que tive é que estava virando-me ao avesso. E fui outras várias vezes durante a noite. Na madrugada foi a vez da sonda. Foi minha primeira vez e incomodou muito. Que coisa mais estranha aquela mangueira entrando no pênis da gente! Depois que colocaram a sonda não consegui nem cochilar. Foi aí que escrevi aquela carta.
 
Lá pelas 06 horas da manhã, chovia muito. Vieram me buscar, pois a cirurgia seria realizada dali a pouco. Subi numa maca e levaram-me. Aí você vai olhando para o teto branco. Vira pra cá, vira pra lá, entra aqui, sai ali, corredor, elevador... Enfim parou. Deixaram-me sozinho por uns instantes numa sala vazia e, talvez, tenha feito uma oração naquele momento.
 
Havia muitas pessoas falando ao mesmo tempo e logo levaram-me para a sala cirúrgica. Ligaram-me a um monte de aparelhos para monitoramento. Depois disso, o anestesista fez o seu trabalho e tudo foi escurecendo. Aquelas horas ficaram apagadas da memória. É muito estranho.
 
A cirurgia demorou sete horas. Quando terminou, meu pai, a Lupe, minha irmã e a Meire estavam lá, esperando-me sair. Logo que saí, estava tão pálido que meu pai desanimou de vez, dizendo que tinha perdido o filho. Logo depois foi embora para Monsenhor Paulo, recomendando que mandassem notícias, porque não queria ficar ali me vendo daquele jeito.
 
A Meire disse ter ficado transtornada naqueles dias. A casa cheia de gente e ela perdida sem saber direito o que fazer. Faço ideia do que ela passou, pois sofre mais quem está de fora. Como foi forte a minha querida esposa, e continua sendo meu ponto de apoio até hoje.
 
Quando comecei a voltar, havia várias pessoas de branco ao meu redor, falando coisas que não conseguia entender bem. Tentei mexer-me, mas não conseguia nem abrir as mãos. Aos poucos fui voltando ao normal e percebi o que havia acontecido.
 
O médico disse-me que estava bem, que deveria ficar calmo, pois estava na U.T.I. para que a recuperação fosse mais rápida.
 
Estava com um respirador que descia pela garganta. Do lado dele introduziam periodicamente uma mangueirinha bem fina para fazer a sucção de restos de sangue e líquidos, o que me incomodava muito com as náuseas. E foi assim, até que o respirador fosse removido.
 
No primeiro dia após a cirurgia, lembro-me de que não conseguia nem ficar sentado na cama, porque sentia-me mal e perdia os sentidos. No dia seguinte fizeram-me levantar e ir tomar banho. Tiraram a sonda e senti como se tivessem arrancando meu pênis.
 
A enfermeira ajudou-me com o banho e voltei para a cama. Recebi visitas todos os dias em que lá permaneci. Mas só deixavam entrar uma pessoa. Os outros só me viam através de um vidro que separava a U.T.I. do corredor.
 
Dava-me uma sensação ruim quando olhava para aquele corte no abdômen, mas sentia que estava cada vez melhor. A medida que melhorava, mudavam-me de lugar mas, mesmo assim, sabia quando falecia alguém ali do lado, pois colocavam um biombo para a retirada do corpo.
 
Deixaram um "marreco” ali do lado para caso eu precisasse urinar. Como não conseguia fazer deitado, era obrigado a ajoelhar-me na cama com muito esforço e esperar. Por causa do esforço, os aparelhos ligados disparavam e apitavam, fazendo todo mundo correr para a minha cama para ver o que estava acontecendo.
 
Depois, com o tempo foram acostumando. Eu tinha um soro ligado num dos braços e abaixo da clavícula, através de um intra-cath, recebia alimentação parenteral. Quando comecei a apresentar febre, desconfiaram que poderia ser infecção no local do intra-cath. Aí resolveram que deveriam trocá-lo de lado. Foi uma dor horrível, como jamais senti e só não chorei de vergonha.
 
Meu pai, quando chegou em Monsenhor Paulo, parece que desanimou todo mundo, contando o estado em que me viu. Vieram muitas pessoas de minha família, amigos e conhecidos e eu só podia acenar para eles dizendo que estava tudo bem, mas que a cabeça doía muito todos os dias.
 
Os médicos de plantão foram espetaculares e muito atenciosos comigo, em especial um deles que sabendo que eu era dentista, me explicava muitas coisas detalhadamente. Um dia, apresentei um quadro bastante febril e como não baixava de jeito nenhum, me colocaram deitado no chão, nu e sobre compressas molhadas no álcool. Sobre mim também foram colocadas compressas com álcool.
 
Fiquei ali bastante tempo, até a febre baixar. Por esses dias já estava sozinho na última repartição, mas mesmo assim, percebia quando morria alguém. Tinha que caminhar um pouco todos os dias, deambular, como diziam os médicos. Isso fazia com que os gases intestinais saíssem e a barriga diminuísse um pouco.
 
Para andar no corredor, tinha que ir empurrando o suporte de soro e o suporte da bomba de infusão com os pés. E os gases saíam sem parar.
 
A vontade de ir para casa era enorme. Abraçar as pessoas que amava e dizer a todos que estava vivo. A Meire levou uma foto da Raíssa, minha filha, logo nos primeiros dias e eu não cansava de olhar para ela. Disseram à ela que o papai estava trabalhando e assim foram passando os dias.
 
Tomei muito medicamento para as dores de cabeça e para dormir. O único que realmente me fazia sentir bem era a Dolantina. Era tomar e pronto, parecia que a dor era tirada com as mãos. Havia noites em que eu passava o tempo todo acordado, mas como este medicamento causa uma certa dependência, não podia tomá-lo sempre.
 
Permaneci na U.T.I. por dez dias, depois fui para um quarto comum. Passei a noite lá e de manhã recebi alta médica. Sentia-me bem e fui para casa.
 
Como foi magnífico poder abraçar a todos. Como foi maravilhoso voltar para casa e poder conversar de pertinho com as pessoas. Mas com toda essa alegria, surgiu o medo de acontecer algo de ruim e um sentimento de inutilidade tomou conta de mim. Precisava sempre da ajuda das pessoas para tudo. Até banho precisava que a Meire desse uma força, porque as minhas estavam quase nulas e muitas vezes quase desmaiei no banheiro.
 
A colaboração de minhas irmãs, Lupe e Estelinha, foi muito importante. Elas permaneceram conosco certo tempo até que melhorasse um pouco mais. A alimentação foi muito difícil no início, pois sentia cólicas horríveis e entrava em desespero, porque apesar de estar com vontade de comer, assim que comia uma colherada ia me deitar contorcendo de dor.
 
Todos tentavam me dar força. Apareceram muitos dos meus amigos em casa e isso foi muito bom para minha recuperação. Por muitas vezes chorei, pois não acreditava que sairia daquela situação. Às vezes sentia vontade de retornar ao hospital, pois lá não sentia aquelas dores. Nem dormir eu conseguia.
 
Fiquei com uma aparência horrível e dentro de pouco tempo emagreci dezoito quilos. Passei várias vezes em consulta com o médico, por causa das cólicas e ele disse que isso mudaria aos poucos, pois ocorreu uma mudança drástica em todo o organismo.
 
Após um mês, resolvemos ir à Alfenas de ônibus, uma viagem de mais ou menos cinco horas. Não passei muito bem, pois ainda estava em recuperação. Lá apareceu o pessoal de Monsenhor Paulo e os amigos de Alfenas também. Passamos alguns dias lá e voltamos para casa.
 
Continuei com cólicas por uns seis meses, sentia que iam diminuindo de intensidade, pois o organismo estava adaptando-se com a alimentação. Na cirurgia foi retirado o estômago, o duodeno e o baço. Por recomendação médica, até hoje costumo me deitar um pouco depois das refeições. Como o intestino recebe todo o alimento de uma vez, a tendência é sugar quase toda energia do corpo para a digestão, causando moleza e sono.
 
19 de Novembro de 1996. Tivemos nesse dia mais um filho. Quando nos casamos sempre falávamos em termos dois, mas depois da cirurgia fiquei com muita dúvida, a doença é de origem familiar. Conversamos muito sobre o assunto e resolvemos entregar nas mãos de Deus, porque Ele sabe o que faz.
 
Agora estamos muito felizes pela decisão que tomamos, pois temos o nosso sonhado casal de filhos: Raíssa e Raí.
 
Numa das vezes que passei em consulta levei um poema que fiz depois da cirurgia. Pedi que lesse e guardasse com carinho, pois foi dedicado a ele e ao outro médico, um agradecimento por tudo. O poema é assim:
 
"Carcinoma.
Você me corroeu
Me enfraqueceu
Me entorpeceu
Me fez ser seu.
Perdi a consciência
A paciência
A persistência
A fé na ciência.
Me apanhou à flor da idade
Tirou minha identidade
Me isolou na cidade
Me levou a mocidade.
Você me submeteu à tortura
Me tirou a formosura
Me mostrou a face escura
Me deixou a alma dura.
Você quase acabou comigo
Você meu inimigo
Que me torturou
Que me absorveu
Que me estuprou
Que me elegeu
Que me apedrejou
Que me amoleceu...
A você chegará o dia (Chegará o seu)
Em que serei seu dono
E você... Será só meu."
Santa Bárbara d’Oeste-SP 13/01/1995
 
Uma notícia muito triste que mexeu com todos nós: no dia 24 de Setembro de 1998, faleceu minha irmã Estelinha. Sabem de quê? Adenocarcinoma Gástrico. A mesma coisa de sempre. Não teve tempo nem de ser operada.
 
Como gostaria que ela fosse a última! Será que a história não vai ter fim? Vamos deixar nas mãos de Deus, mas minha família, como é de alto risco, tem que se prevenir, fazendo exames regularmente, pois se tiver alguma coisa suspeita, ainda dará tempo para se tratar.
 
Infelizmente nem todos pensam assim, por acomodação ou por medo e ficam pensando que as coisas ruins só acontecem com os outros. Que Deus olhe por nós e abençoe-nos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
 
Obrigado por tudo Senhor, até pela doença que tive, porque cresci muito com ela e tenho certeza de que através dela, muitas pessoas cresceram também.
 
Obrigado Meire por tudo. Obrigado pela força que me dá sempre. Amo você!
 
Obrigado meus filhos, vocês são minha alegria. Amo vocês também!
 
Obrigado às nossas famílias, por tudo. Pelo amor de Deus, cuidem de sua saúde.
 
Enfim, obrigado Deus pela Vida! Amém.
 
Fim 
 
 
Nota: Este livreto tornou-se realidade no ano de 2000. Vendi um pouco para cobrir as despesas, doei muitos para instituições e igrejas, na tentativa de mostrar um pouco da realidade das pessoas que são acometidas por este mal. Hoje, em Outubro de 2007, tenho outras notícias: mais dois irmãos foram submetidos à cirurgia de estômago, para a retirada de um adenocarcinoma. Agora já somos seis casos na família.
 
Último exame de endoscopia realizado em junho de 2000: Esôfago - Passagem fácil do aparelho cricofaríngeo. Calibre, coloração e expansibilidade preservados em toda sua extensão. No terço inferior, notamos a presença de uma anastomose jejunal em boas condições endoscópicas. Porção pós-anastomótica íntegra com alça jejunal em boas condições endoscópicas. Ausência de secreção mucoide e lesões inflamatórias ou tumorais. Estomago - Não visualizado. Duodeno - Não visualizado. Conclusão - Exame endoscópico normal em anastomose esôfago-jejunal.