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  • Karina Fideles Filgueiras - Câncer de Mama
    Fui diagnosticada com Sindrome de Lynch e estou em tratamento do terceiro câncer em 10 anos, agora, câncer de mama, sem sair das pistas de corrida!
Olá! Há 6 anos dei meu depoimento aqui, neste espaço sobre o câncer de intestino,sobre ter acabado de tratar com uma colectomia. Hoje retorno para compartilhar o tratamento do câncer de mama, mas com uma forma diferente de encarar. Desde o diagnóstico do câncer de intestino resolvi mudar um pouco o meu estilo de vida e, após dois anos da cirurgia, comecei a correr. Virei corredora amadora, emagreci 15 quilos e, em abril do ano passado, quando estava fazendo os exames de monitoramento e rotina, foi detectado um carcinoma mamário invasivo, Her 2 +++, hormônio dependente, um tumor hibrido. Busquei fazer exames de complementação genética e fiz quimioterapia neoadjuvante (Cleópatra com Perjeta, - aquelas que estão no olho do furacão, me entenderão).
 
Esse protocolo provoca muita toxidade cardíaca, logo, a proposta da médica era fazer 3 ciclos dessa medicação, avaliar o coração e, se fosse o caso (mais provável), fazer a mastectomia para descansar o coração e retomar mais 3 ciclos da chamada quimioterapia vermelha. Iniciei o tratamento em 05/07/2019. Como vinha do preparo para minha primeira meia maratona que completei em junho, estava com bom condicionamento físico e com uma dieta bem balanceada, acompanhada por uma nutróloga oncológica e esportista. Conclui os três primeiros ciclos de quimioterapia e fiz o ecocardiograma que constatou que meu coração continuava batendo forte pela vida!
 
Assim, dei continuidade ao tratamento com a mesma medicação mas, sem sair das pistas. Durante o tratamento de quimioterapia, de julho a outubro fiz duas corridas de montanha, de 7 km e 17 km, fiz uma corrida de 17 km no asfalto, uma de 16 km, uma de 10 km e duas de 5 km, pois nos dois últimos ciclos comecei a sentir uma certa fadiga na corrida, o que me fez diminuir a quilometragem. Saía das sessões de quimioterapia e, no dia seguinte, corria uns 5 km. Dois dias depois corria uns 4 km e, quando era para sentir a fadiga, eu não sentia, pois estava com a produção de endorfina em dia! Depois, nas semanas seguintes, continuava a manter o ritmo de treinos entre 4 km e 6 km durante a semana e um longo de 10 km no fim de semana, até o quarto ciclo de quimioterapia. Os enjôos e vômitos não foram relevantes, cheguei a tomar dois comprimidos para enjôo entre ciclos e a diarreia também foi controlada com a alimentação.
 
Não usei nenhum tipo de medicação complementar nutricional e as plaquetas mantiveram-se firmes durante todos os ciclos. Mas os cabelos.... ah!!! esses me fizeram refletir... na primeira sessão de quimioterapia usei a toca de crioterapia mas, depois deveria evitar suar a cabeça... isso seria um impeditivo para a corrida então, logo após o segundo ciclo, mandei raspar os cabelos e coloquei uma prótese capilar colada, que pode ser lavada em casa, permite nadar, correr, fazer escova, chapinha... devendo fazer manutenção a cada 25 dias, mais ou menos. Quase ninguém me viu careca. Nem eu mesma (só quando ia fazer as manutenções da prótese capilar). E muitos dizem que é por vaidade, feminilidade, mas, custei a entender que não é por vaidade, é porque ficar sem os pêlos coloca a doença na sua cara (sem cílios, sem sobrancelhas), no espelho, para todos verem e saberem que você está doente. Isso eu não quis.
 
Não me senti, nem me sinto doente. Tenho filhas gêmeas de 10 anos e uma delas, quando fui contar sobre o tratamento me disse:” - Mãe, câncer não é doença, né?! É mutação celular!” Que conforto no coração! Como sou professora universitária, coloquei a prótese capilar antes da volta às aulas do segundo semestre do ano letivo e, para os alunos desavisados (pois poucos sabiam do tratamento) eu fiz escova progressiva nos caracóis dos meus cabelos. E assim sigo até hoje! Em novembro fiz mastectomia bilateral e com 25 dias voltei para as pistas fazendo uma corridinha de 5 km. Com um mês viajei e corri em várias cidades. Estou com dois meses de mastectomia sem preservação de auréolas e mamilos e continuando tratamento com Herceptim subcutâneo e Tamoxifeno. Os cabelos estão voltando mas ainda não tirei a prótese. Não entrei de licença do trabalho, administrei e administro os ciclos de quimioterapia e as aplicações subcutâneas de acordo com minha agenda, as próteses mamárias ficaram ótimas!
 
Agora sigo treinando para repetir a meia maratona em junho e, ano que vem, fazer uma maratona! O cabelo, as sobrancelhas, os cílios, as mamas são fakes, mas o coração, as pernas e todo o interior são de muita vida pulsante e fé. Enquanto tiver vida aqui dentro, sigo!
 
O que quero com este depoimento é fazer com que as pessoas diagnosticadas com câncer possam refletir que há tratamento, há condições diferentes. Continuem com suas vidas e mantenham aquilo que gostam, que dá prazer pois, é possível fazer diferente. Mas que a corrida salva, ahhhhh, ela salva! Rsrsrsrsrsrsrsrsrs. Estou á disposição para trocar experiências, dar apoio, receber apoio, segurar na mão, porque o que precisamos nessa vida é de afeto circulando! Abraços e sigamos com fé (a história da fé, se interessar, eu conto em um outro depoimento...)
 
Karina Fideles