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  • Juliana Lucena Rizzieri - Câncer de Mama
    Descobri que o pós-câncer é tão difícil quanto o câncer em si e seu tratamento. Não é porque estou de volta ao trabalho e os cabelos estão crescendo novamente, que os problemas acabaram. Mas entendo que o lugar onde estou hoje, a minha cidade em construção, tem muito potencial e todas as chances do mundo de recomeçar de uma maneira muito melhor.
Olá! Meu nome é Juliana, tenho 41 anos e, em março de 2016 descobri um câncer de mama.
 
Acompanho o Oncoguia desde então mas até hoje não tinha sentido vontade de escrever meu depoimento. Li muitos depoimentos aqui e isso me ajudou tanto! Foi muito importante ver que existiam outras mulheres passando pelo mesmo processo que eu estava passando. Ver os meus sentimentos se reproduzirem nelas, me trazia de volta a sensação de normalidade - se é que é possível se sentir normal quando se tem câncer. Talvez por isso não sentisse vontade de escrever meu depoimento... Porque meu tratamento de câncer e meus sentimentos eram os mesmos de todo mundo. Mas o tempo passou, o tratamento terminou e as dificuldades se transformaram também. E agora, no pós tratamento é que senti vontade de falar aqui. Eu levava uma vida normal. Tinha um trabalho que me satisfazia, uma família amorosa, um marido que é meu cúmplice em tudo e estávamos decididos a engravidar em 2016. Até o dia em que encontrei algo na mama que nunca tinha estado lá. Acho que essa é a sensação de todos que tiveram câncer de mama, você dorme bem e, na manhã seguinte, acorda com alguma coisa que nunca esteve lá. O câncer chegou na minha vida como chega uma onda de tsunami. O mar recua incrivelmente e você pensa 'que belo espetáculo da natureza'. Daí a onda gigante vem e engole toda a beleza que ali existia antes. Você é jogado para o fundo com a força da água, se debate, pensa que vai ser afogar, tem certeza que vai morrer naquele momento. Então a força que te empurra para baixo começa a diminuir devagarinho.. você percebe que consegue se mover. Enxerga a luz do sol na superfície e procura por ela, nada ao seu encontro. Quando finalmente coloca a cabeça para fora d'água, respira aliviada. Enche os pulmões de ar, sente o sol te aquecer novamente e, apesar de ainda estar dentro dágua, já se sente mais segura. Você pensa: me dei bem! Sobrevivi. Mas não percebe que agora precisa nadar bastante até encontrar um lugar seco. E, quando encontrar esse lugar seco, tudo estará danificado, serão meses de trabalho e esforço para que se viva confortavelmente novamente. E, quando tudo estiver arrumado, a casa pronta novamente, a cidade em pleno funcionamento, as ruas limpas e bonitas, tudo será diferente. O local onde você está agora não se parece em nada com o local que existia antes do tsunami chegar. Isso não é melhor nem pior, mas é diferente. Uso muito a analogia do quase afogamento quando me refiro ao câncer e, hoje me encontro exatamente no momento de reconstruir a cidade. Tem dias que são ótimos, que tudo dá certo. Tem coisas que você faz com extrema facilidade, de uma forma orgânica e vê resultados quase instantâneos do seu esforço, mas tem outras que você tem tanta dificuldade que chega a pensar em desistir de tentar e deixar como está. Você aproveita para colocar os cristais na mesa do almoço todos os dias ao mesmo tempo que varre o pó para debaixo do tapete. Descobri que o pós câncer é tão difícil quanto o câncer em si e seu tratamento. Não é porque estou de volta ao trabalho e os cabelos estão crescendo novamente, que os problemas acabaram. Mas entendo que o lugar onde estou hoje, a minha cidade em construção, tem muito potencial e todas as chances do mundo de recomeçar de uma maneira muito melhor. Um beijo, Ju Rizzieri